A transição energética e a busca por uma economia sustentável há muito tempo deixaram de ser apenas uma pauta ambiental e climática, consolidando-se como um tema central de desenvolvimento social e econômico. No Brasil, essa mudança de paradigma é recebida com entusiasmo pela população, que enxerga na chamada “economia verde” um motor robusto para a geração de novos e melhores empregos.

Uma pesquisa recente, fruto da colaboração entre a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a Nexus , quantifica essa confiança em números expressivos. De acordo com o levantamento, realizado com 2.021 entrevistados em 27 estados do país, 75% dos brasileiros — ou três em cada quatro pessoas — acreditam firmemente que a virada sustentável do país resultará na criação de novas oportunidades de trabalho.
Otimismo Majoritário e a Expectativa de Geração em Massa
O otimismo não é apenas marginal; ele domina o espectro de percepções. Mais da metade dos entrevistados (54%) nutre uma expectativa ainda maior, apostando no surgimento de “muitos empregos” decorrentes da transformação econômica. Uma parcela adicional de 21% espera o surgimento de “poucos novos empregos”, consolidando a percepção positiva de que a sustentabilidade é sinônimo de desenvolvimento do mercado de trabalho.
Em contrapartida, a visão cética ou pessimista é minoritária. Apenas 16% dos entrevistados expressaram receio de que a transição para a economia sustentável possa, na verdade, piorar a oferta de trabalho. Dentro desse grupo, 9% preveem uma diminuição genérica na geração de postos, 5% acreditam que a redução será “muito” acentuada, e apenas 2% temem o completo desaparecimento das oportunidades.
Renda e Escolaridade: Fatores de Convergência
A pesquisa da ABDI e Nexus oferece uma lente analítica crucial para entender como a crença na economia verde se distribui na sociedade brasileira, revelando uma forte correlação entre a esperança de novos empregos e o nível socioeconômico e educacional do entrevistado.
O presidente da ABDI, Ricardo Cappelli, contextualiza esse dado: “Numa economia sustentável haverá a necessidade de profissionais mais qualificados e, portanto, com salários maiores. Assim, é natural que quem tem mais estudo e renda perceba melhor as oportunidades que essa mudança pode trazer.” A análise corrobora a tese de que a economia verde tende a ser percebida como um vetor de qualificação profissional e, consequentemente, de ascensão social.
A análise por faixas de renda demonstra essa progressão:
- Entre os entrevistados com renda acima de cinco salários mínimos, 78% acreditam no aumento da oferta de empregos.
- A mesma taxa (78%) é encontrada na faixa de dois a cinco salários mínimos.
- A confiança se mantém alta (76%) entre aqueles que recebem entre um e dois salários mínimos.
- Apesar de ainda ser majoritário, o índice de confiança é ligeiramente menor (67%) no grupo que recebe até um salário mínimo.
A escolaridade segue um padrão similar. A crença na criação de empregos verdes é maior entre os níveis mais altos de instrução: 79% dos entrevistados com ensino superior completo e 78% dos que possuem ensino médio compartilham dessa visão otimista. Entre aqueles com ensino fundamental completo, 68% ainda veem melhorias no mercado de trabalho com o avanço da economia sustentável. Esses dados sugerem um alinhamento entre a percepção das elites e dos estratos médios e altos com as projeções de que a qualificação em áreas sustentáveis será o grande diferencial do futuro.

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Variações de Gênero, Idade e Região
O estudo aprofunda a análise ao detalhar a percepção da transição sob a ótica de fatores demográficos:
- Gênero: Os homens (59%) demonstram uma confiança maior no surgimento de novos postos de trabalho do que as mulheres (49%). Essa disparidade pode refletir uma sub-representação feminina em setores tradicionais que historicamente dominaram a pauta da sustentabilidade, como engenharia e infraestrutura, embora a transição econômica abra vasto campo para novas áreas de atuação.
- Idade: A confiança na transformação é notoriamente maior entre os jovens. O ápice do otimismo está na faixa de 16 a 24 anos (62%), seguido de perto pelo grupo de 25 a 40 anos (59%). O índice cai nas faixas etárias subsequentes, atingindo 49% entre 41 a 59 anos e 46% entre os maiores de 60 anos. A nova geração, que já incorpora a crise climática como uma realidade imediata, percebe as soluções verdes não como uma alternativa, mas como a principal fonte de injeção de capital e inovação no mercado.
- Regiões: O apoio à economia verde é alto em todo o país, mas com variações que espelham a dinâmica econômica regional. As regiões Sudeste e Sul lideram, com 78% de adesão. O Norte e o Centro-Oeste seguem com 73%, demonstrando o interesse em conciliar o desenvolvimento do agronegócio e da bioeconomia com a sustentabilidade. O Nordeste, por sua vez, registra 67% de confiança, evidenciando o potencial da região para receber investimentos em energias renováveis, como a solar e a eólica.
A pesquisa da ABDI e Nexus, realizada em meados de julho, não apenas confirma o amplo apoio popular à agenda verde, mas também fornece um mapa de expectativas que deve guiar as políticas públicas. O desafio para o Brasil, no contexto de eventos como a COP30, é transformar essa confiança em ações concretas que garantam que os investimentos na transição — sejam eles em energias renováveis, bioeconomia ou infraestrutura resiliente — se traduzam, de fato, em empregos qualificados, bem remunerados e acessíveis a todas as camadas da população.






































