Cooperativa no Pará Impulsiona Desenvolvimento Rural Sustentável

Autor: Redação Revista Amazônia

Um estudo recente sobre a rede sociotécnica da Flona Tapajós, na região Amazônica do Pará, analisou a Cooperativa Mista da Flona Tapajós (Coomflona), que se dedica à produção florestal sustentável. A pesquisa focou no processo de comercialização dos produtos sustentáveis produzidos pelos agricultores familiares locais. Concluiu-se que as ações implementadas fortaleceram a coesão e a governança social, criando um ambiente favorável para o aumento da renda dos produtores familiares.

Segundo Deusa Nobre, engenheira florestal e uma das autoras do estudo, os impactos positivos mais significativos foram a geração de renda, a construção e manutenção de estradas para o escoamento da produção e a comercialização de produtos florestais madeireiros e não madeireiros.

Parte da produção é consumida localmente, enquanto o restante é vendido na residência do produtor ou entregue à cooperativa, como é o caso dos produtos florestais não madeireiros, como o artesanato produzido a partir do látex da seringueira. A iniciativa tem demonstrado um impacto ambiental e social positivo, contribuindo para a redução do desmatamento.

Nobre explica que a pesquisa qualitativa envolveu visitas e entrevistas com produtores e técnicos da rede sociotécnica, com o objetivo de entender as ações adotadas pela cooperativa que promovem impactos positivos no desenvolvimento rural local, além de observar a interação entre os atores locais e a formação de estratégias coletivas.

Lucimar Santiago de Abreu, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente, destaca que ainda são escassos os estudos que abordam a emergência de novas configurações de redes sociais ou coletivos, voltados para a segurança alimentar e nutricional e o fortalecimento da sustentabilidade em diferentes biomas, promovendo ações de resiliência social.

A área de estudo está localizada na Floresta Nacional do Tapajós, no município de Belterra, na região Oeste do Pará. A Flona Tapajós abrange uma área de 527 mil hectares e abriga cerca de 1100 famílias distribuídas em 24 comunidades. Criada pelo Decreto nº. 73.684 de 19/02/1974, a Floresta Nacional leva o nome do Rio Tapajós, que por sua vez faz referência ao povo indígena que habitava a região, os Tapajós. A Floresta é categorizada como de uso sustentável pelo Sistema Nacional de Unidade de Conservação (SNUC), com o objetivo de conciliar a conservação da natureza com o uso sustentável dos recursos naturais, permitindo a presença de população tradicional em seu interior.

A pesquisadora da Embrapa explica que o sistema de produção é baseado no extrativismo, com a floresta fornecendo a matéria-prima para a produção de artesanato, alimentos e produtos medicinais. “Para a produção de alimentos, a pesquisa mostrou que todos os participantes aprenderam com seus pais a manejar a terra”, explica a pesquisadora. “Eles desmatam a área permitida pelo órgão gestor, depois queimam e finalmente plantam a cultura desejada, que geralmente é a mandioca para a produção de farinha”, enfatiza.

A busca por autonomia, autogestão e empoderamento dos grupos, por meio da cooperativa e da rede sociotécnica, estimula a participação da população local na gestão de unidades de conservação, além de ser uma forte aliada na fiscalização dessas áreas. Dentro dos grupos sociais ou comunidades, o cooperativismo surge como estratégia de desenvolvimento socioeconômico para os habitantes da Flona Tapajós. A articulação dos grupos tem se mostrado aliada na busca pela inclusão socioeconômica e na preservação ambiental de unidades de conservação, diz Abreu.

Os cooperados das comunidades de São Domingos, Maguari e Jamaraquá são em sua maioria produtores familiares. Além disso, muitos são artesãos que extraem da floresta o látex da seringueira, utilizado para a produção de artesanato (bolsas, sandálias, colares, entre outros). Em relação à produção de alimentos, produzem farinha de mandioca, polpa de tapereba, caju e cupuaçu.

O estudo também revelou que o principal produto florestal é o látex da seringueira, utilizado para a produção de artesanato. Parte dessa produção é entregue à cooperativa e o restante fica nas comunidades para ser vendido a turistas ou grupos que visitam a região. Para expandir a comercialização na época das chuvas, uma sugestão seria a venda pela internet.

Em relação aos impactos ambientais associados ao manejo florestal, os entrevistados afirmaram que são reduzidos, pois seguem todas as regras previstas na legislação. São normas impostas pelos órgãos competentes, que se não forem respeitadas, podem resultar na perda da autorização para trabalhar no manejo florestal. A cooperativa adota práticas de manejo florestal sustentável, que contribuem para a conservação ambiental da região.

A cooperativa tem demonstrado que é possível conciliar a conservação ambiental com a geração de renda para a população local. Ela conta com mais de 260 cooperados e atua na extração de madeira, látex, óleos vegetais e outros produtos florestais não madeireiros. Os produtos são comercializados diretamente para o mercado, sem a intermediação de atravessadores, o que garante uma renda mais justa aos produtores. Em março de 2017, a cooperativa inaugurou a movelaria “Anambé”, que fabrica móveis com madeiras obtidas do aproveitamento dos resíduos da colheita florestal.

A experiência conta com a parceria da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), Instituto de Floresta Tropical (IFT), Embrapa, Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), Ministério do Meio Ambiente (MMA), Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Amazon Alternative, Federação Flona Tapajós, Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), e o Serviço Florestal Brasileiro (SFB).

A pesquisa, intitulada “Ações de resiliência da rede sociotécnica da Flona Tapajós da região Amazônica, Brasil”, foi realizada por Deusa Nara Viana Nobre, engenheira florestal e mestre em agroecologia pela UFSCAR, em parceria com a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente, Lucimar Santiago de Abreu. O estudo foi realizado na Cooperativa Mista da Flona Tapajós (Coomflona), fundada em 2005 por agricultores familiares e indígenas da região, atualmente com mais de 260 cooperados.

O estudo foi apresentado no 10º Encontro da Rede de Estudos Rurais, em agosto de 2023, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com o tema: “Terra, fome e poder: desafios para o rural contemporâneo”.


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