A cidade de Belém, no coração da Amazônia, se prepara para ser o epicentro das discussões climáticas globais em novembro, com a realização da trigésima Conferência das Partes, a COP30. À frente deste grandioso evento, que promete redefinir a agenda ambiental mundial, está o embaixador André Corrêa do Lago.

Ele, que até janeiro ocupava a estratégica posição de secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, agora se dedica integralmente à presidência da Conferência, um sinal inequívoco da importância que o Brasil atribui a este encontro. Sua nomeação, em conjunto com a da economista Ana Toni como diretora executiva, reforça a equipe de alto nível encarregada de conduzir as complexas negociações.

Um facilitador global pelo clima
A função de Corrêa do Lago como presidente da COP30 transcende a representação nacional. Embora nomeado pelo Brasil, ele atuará como um facilitador neutro, orientando as discussões e trabalhos entre os representantes dos diversos países participantes. Essa posição exige uma habilidade diplomática ímpar e um conhecimento aprofundado das nuances das negociações multilaterais do clima, um campo em que o embaixador acumula vasta experiência. Sua capacidade de articular e mediar será crucial para o sucesso da Conferência, que busca consensos em um cenário de crescentes desafios ambientais e divergências políticas.
A trajetória de André Corrêa do Lago
Para entender a dimensão da liderança de André Corrêa do Lago, é fundamental olhar para sua rica trajetória. Diplomata de carreira, ele tem dedicado sua expertise à sustentabilidade desde 2001, consolidando um currículo impressionante. Foi negociador chefe do Brasil para a Mudança do Clima entre 2011 e 2013, período em que também liderou as negociações brasileiras para a emblemática Rio+20. Na COP29, realizada em 2024 em Baku, Azerbaijão, seu papel como articulador do posicionamento brasileiro foi amplamente reconhecido, demonstrando sua capacidade de construir pontes e influenciar o debate global.
Sua experiência como embaixador em diversas ocasiões reforça sua habilidade em navegar por cenários complexos e estabelecer diálogos construtivos. Em 2024, a convite do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável CEBDS, Corrêa do Lago esteve em um importante encontro com 23 executivos de empresas, onde o tema central foi o papel do setor privado no combate à mudança climática no Brasil.
Nesse fórum, discutiu se o legado da COP30 para o Brasil e o mundo e a construção de estruturas sustentáveis para a Conferência de Belém. Além disso, sua participação na revisão da Contribuição Nacionalmente Determinada NDC brasileira no ano passado sublinha seu comprometimento com metas ambiciosas e realistas para o país.
Em sua busca por soluções para a descarbonização da economia brasileira, o diplomata colaborou com o CEBDS em 2024, focando em cinco setores chave: transição energética, agronegócio, pecuária, transporte e florestas. Sua atuação se estendeu à Coalizão liderada pelo CEBDS, em parceria com o Grupo CCR e o Insper, contribuindo diretamente para a estratégia de redução de emissões do setor de transportes e fornecendo subsídios para novas políticas públicas.
Corrêa do Lago é um defensor incansável de NDCs mais ambiciosas e de políticas claras, além de advogar pela ampla participação do setor privado nos esforços globais de contenção da mudança climática, reconhecendo a potência da colaboração entre governos, sociedade civil e empresas.
Ana Toni uma mente estratégica no comando
Ao lado de Corrêa do Lago, a COP30 contará com a expertise de Ana Toni, a economista e doutora em Ciência Política que assume a posição de diretora executiva do evento. Seu histórico é igualmente robusto, com vasta experiência no terceiro setor, desenvolvimento sustentável, filantropia e advocacy das causas climáticas.

Ana Toni foi diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade iCS de 2015 a 2022, presidente de Conselho do Greenpeace Internacional entre 2010 e 2017 e diretora da Fundação Ford no Brasil de 2003 a 2011. Essa trajetória diversificada a posiciona como uma líder com uma visão holística e profunda dos desafios e oportunidades na agenda climática.
Nos últimos anos, Ana Toni participou ativamente da elaboração do Plano Clima e do Plano Nacional de Adaptação às Mudanças Climáticas, demonstrando seu engajamento com a formulação de políticas públicas essenciais. Sua presença na COP29 e nas ações do G20 no Brasil reforça seu papel de destaque no cenário internacional. Ana Toni se declara otimista e acredita firmemente na descarbonização da agricultura no Brasil, um setor que, devido ao desmatamento e ao uso da terra, é uma das maiores fontes de emissões do país. “É preciso uma grande transformação. Para isto, contudo, precisamos de uma regulação melhor, incentivos mais claros, aumento de investimentos e inovação”, afirmou ela ao assumir seu novo cargo, traçando um panorama claro dos passos necessários para avançar nesta agenda.
Os grandes objetivos da COP30
Em uma recente entrevista à CNN, o embaixador André Corrêa do Lago delineou os principais objetivos da COP30, e sua fala ecoou um ponto crucial: a necessidade de restaurar a confiança na capacidade global de combater as mudanças climáticas. Para ele, a Conferência de Belém será uma vitrine para o mundo, expondo as tecnologias e os recursos inovadores que estão sendo desenvolvidos, com o propósito inequívoco de dar um novo impulso à ação climática global.
“Penso que a gente tem de devolver a confiança de que podemos combater a mudança do clima. Há tecnologia e recursos que estão indo em direções extraordinárias. Mostrar que isso está acontecendo e, com isso, dar um impulso ao combate à mudança do clima que só uma conferência como a de Belém pode conseguir porque o mundo inteiro estará olhando para lá. Então, a COP é uma oportunidade para nós”, pontuou o embaixador, com a clareza de quem compreende a magnitude do momento.
Ele também enfatizou a importância de manter uma visão realista, reconhecendo que a COP30 não será a panaceia para todos os problemas climáticos do planeta. Contudo, apontou para a possibilidade de avanços significativos em áreas críticas, como o financiamento climático, um dos temas mais urgentes e desafiadores da agenda global. A busca por soluções financeiras robustas e equitativas é, sem dúvida, um dos pilares para o êxito da Conferência.
Financiamento climático o nó a ser desatado
Um dos maiores obstáculos a serem transpostos na COP30 será, sem dúvida, a questão do financiamento climático. O acordo estabelecido na COP29, que previa a disponibilização de 300 bilhões de dólares por ano até 2035 por parte dos países desenvolvidos para apoiar as nações em desenvolvimento, tem sido alvo de fortes críticas. O montante é amplamente considerado insuficiente, e pairam dúvidas sobre a real capacidade de mobilização e gestão desses recursos.
Nesse cenário delicado, o Brasil se posiciona para desempenhar um papel de liderança, buscando soluções inovadoras e eficazes que garantam que os recursos cheguem aos países que mais necessitam de apoio para enfrentar os impactos devastadores das mudanças climáticas. Uma das propostas em discussão é a criação de mecanismos para viabilizar subsídios ambientais, que auxiliem projetos nas áreas de ecossistemas, água e educação ambiental. Esses subsídios seriam captados junto a instituições financeiras internacionais de peso, como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento BID, garantindo um fluxo de recursos mais estável e direcionado.
Brasil no palco global uma oportunidade única
Para o presidente da COP30, o evento em Belém representa uma oportunidade única para o Brasil se destacar como líder na agenda climática global. O país possui um vasto e impressionante catálogo de soluções e iniciativas bem sucedidas em transição energética, biocombustíveis, agroecologia e mercado de crédito de carbono. Essa riqueza de experiências e conhecimentos confere ao Brasil uma posição privilegiada para inspirar e guiar outras nações.
Corrêa do Lago complementou, com um toque de otimismo e orgulho, que “o país tem avançado com plataformas de gestão de informações ambientais e de investimentos climáticos, que podem servir de exemplo para outros países”. Essa afirmação reforça a convicção de que o Brasil não apenas cumpre seu papel na luta contra as mudanças climáticas, mas também se apresenta como um modelo a ser seguido, um farol de inovação e compromisso em um momento crucial para o futuro do planeta. A COP30 em Belém, portanto, não é apenas um evento, mas uma declaração de intenções, um convite à ação coletiva e uma esperança de que, juntos, podemos construir um futuro mais verde e justo.







































