As negociações da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) começaram oficialmente em Belém, nesta segunda-feira (10), marcando o início de um processo decisivo para a consolidação de compromissos globais diante da crise climática. Após intensas rodadas preliminares, os países chegaram a um consenso sobre a chamada Agenda de Ações, que orientará as deliberações até o dia 21 de novembro.

O encontro, organizado sob a liderança do presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, e do secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), Simon Stiell, começou com uma vitória diplomática: a aprovação de uma agenda ampliada, que passou de 100 para 111 itens prioritários.
Esses temas, que refletem o esforço coletivo de 194 países e da União Europeia, abrangem desde o financiamento climático e as transições energéticas até a justiça social e os direitos humanos. A CEO da conferência, Ana Toni, reforçou que a COP30 é um marco simbólico e prático para transformar o debate em ação, especialmente por ocorrer na Amazônia, região onde o impacto das mudanças climáticas é sentido de forma mais imediata.
Um acordo construído na madrugada
A aprovação da agenda só foi possível após intensas negociações que se estenderam até as 23h do domingo (9). Havia impasses sobre oito propostas de inclusão de novos tópicos — entre elas, o financiamento de países desenvolvidos para países em desenvolvimento, o comércio internacional, a revisão das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), o relatório bienal de transparência (BRT), e questões específicas relacionadas à transição climática na África, mudanças em áreas montanhosas, saúde e clima, além da implementação do Balanço Global (GST) em regiões de florestas.
Segundo Túlio Andrade, diretor de estratégia e alinhamento da COP30, o item sobre o GST em florestas foi retirado para evitar travamentos. Já o tema “saúde e clima” foi incorporado à pauta de adaptação climática, fortalecendo a abordagem integrada entre saúde pública e meio ambiente. “Os pontos mais complexos serão avaliados em consultas diretas da presidência e apresentados em plenária até quarta-feira (12)”, afirmou Andrade.
Durante coletiva, André Corrêa do Lago destacou o esforço das delegações em construir consenso. “O acordo alcançado ontem à noite foi um passo fundamental. Ele nos permite começar as negociações sem atraso e mostra ao mundo a relevância dos recursos adicionais para enfrentar a crise climática”, declarou o diplomata, em tom otimista.

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Agenda estruturada por blocos temáticos
Para dar ritmo às discussões, a presidência da conferência estruturou os debates em blocos temáticos, distribuídos ao longo das duas semanas. O formato busca garantir que todos os eixos — científicos, sociais, econômicos e ambientais — avancem de maneira coordenada, permitindo que a COP30 traduza compromissos em medidas práticas.
Nos dias 10 e 11 de novembro, as discussões concentram-se em Adaptação, Cidades, Infraestrutura, Água, Resíduos, Governos Locais, Bioeconomia, Economia Circular, Ciência, Tecnologia e Inteligência Artificial. O foco é construir estratégias de resiliência climática e preparar sistemas urbanos e produtivos para os impactos já em curso.
Nos dias 12 e 13, a pauta se volta para Saúde, Emprego, Educação, Cultura, Justiça e Direitos Humanos, além de um Balanço Ético Global — iniciativa inédita que pretende inserir dimensões morais e de integridade nas políticas climáticas internacionais.
Entre 14 e 15 de novembro, a conferência mergulha em temas econômicos estruturantes: energia, indústria, transporte, comércio, finanças e mercados de carbono, incluindo gases não-CO₂. Esse bloco é considerado central para destravar o financiamento de transições justas e definir novos mecanismos de precificação do carbono.
Nos dias 17 e 18, o foco retorna à natureza e às pessoas. Serão debatidas florestas, oceanos e biodiversidade, com atenção especial a povos indígenas, comunidades locais e tradicionais, crianças e jovens, e empreendedores de pequeno e médio porte.
Por fim, 19 e 20 de novembro marcam o encerramento temático da COP30, com o bloco “Raízes da Alimentação, Agricultura e Equidade”, que inclui agricultura familiar, pesca, sistemas alimentares e segurança alimentar, além de pautas de gênero, raça e turismo sustentável.
Um momento decisivo para a diplomacia climática
A COP30 ocorre num contexto em que o mundo busca acelerar compromissos assumidos desde o Acordo de Paris, adotado em 2015. Belém, sede do encontro, tornou-se o epicentro de uma nova fase da diplomacia ambiental, na qual o desafio é transformar metas em resultados mensuráveis, especialmente em países em desenvolvimento.
Mais do que uma conferência técnica, a COP30 se desenha como um palco de convergência entre ciência, política e justiça climática — um espaço onde o equilíbrio entre urgência e cooperação internacional será decisivo para o futuro do planeta.






































