Todos os níveis, um só objetivo: Ampliando a ambição rumo à COP30


Todos os anos, as Negociações Climáticas de Bonn, formalmente conhecidas como Sessões dos Órgãos Subsidiários da UNFCCC (SBs) – funcionam como um marco intermediário no caminho até a Conferência das Partes (COP). Em 2025, a SB62 (realizada de 16 a 26 de junho) vai muito além da rotina.

COP

Novas dinâmicas na diplomacia climática global

Com mais de 6 mil delegados nacionais e representantes da sociedade civil esperados, o encontro ocorre em um momento decisivo, marcado por impasses remanescentes da COP29 em Baku, novas dinâmicas na diplomacia climática global e uma presidência brasileira da COP que promete mudar o foco de negociação para implementação.

Para a Constituinte dos Governos Locais e Autoridades Municipais (LGMA), que representa cidades, municípios e regiões nos processos da UNFCCC, a SB62 é mais que uma parada procedimental no calendário climático. É uma vitrine para mostrar que a ação climática em múltiplos níveis – baseada na colaboração entre governos nacionais, locais e regionais – não apenas é possível, mas já está em curso.

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Por que a SB62 é importante

Os resultados do Balanço Global da COP28, realizada em Dubai em 2023, estabeleceram compromissos iniciais para a transição dos combustíveis fósseis e reforçaram a importância da ação multinível, além de instituírem uma nova Meta Global de Adaptação. A COP29 em Baku avançou em metas de financiamento climático e reconheceu o papel das cidades na mitigação, mas deixou pendentes questões essenciais – especialmente sobre os mecanismos de implementação.

Agora, a SB62 precisa acelerar esses processos, finalizando indicadores de progresso e definindo caminhos claros e mensuráveis para a ação. O cenário diplomático também é mais complexo: esta é a primeira reunião oficial da UNFCCC desde o anúncio dos EUA de que se retirariam do Acordo de Paris em 2025. A expectativa global agora recai sobre os demais países para avançarem de forma coletiva.

Mesmo assim, conferências recentes, como a COP16 de Biodiversidade em Roma e a Assembleia da ONU-Habitat em Nairóbi, mostraram que o progresso ainda é possível – e talvez até facilitado – nesse novo contexto.

O Brasil e o espírito do mutirão

Na presidência da COP30, o Brasil propõe uma abordagem ousada: trocar o foco exclusivo na diplomacia por um esforço coletivo de transformação. Inspirado pelo conceito do mutirão – o trabalho conjunto pelo bem comum – o país convida uma ampla coalizão de atores a irem além da negociação, buscando ações práticas e colaborativas.

Governança multinível ganha protagonismo

Para a LGMA, a SB62 é mais do que um espaço de negociação – é um campo de prova. Após anos de articulação, a governança multinível deixou de ser um rodapé nos acordos e passou a ser uma diretriz central. O parágrafo 161 da decisão da COP28 convoca explicitamente os países a promoverem ações inclusivas e cooperativas entre os diferentes níveis de governo.

A Coalizão por Parcerias Multiníveis de Alta Ambição (CHAMP), lançada também em Dubai, começa a ganhar corpo. Governos nacionais estão, gradualmente, incorporando vozes locais e regionais em suas estratégias climáticas. A SB62 é, portanto, uma oportunidade para demonstrar como isso se materializa na prática e para reforçar essa visão, em sintonia com a proposta brasileira de inclusão.

Diálogos de Bonn: O momento de agir

Paralelamente às negociações, acontecem os Diálogos de Bonn da iniciativa Cidades Audaciosas 2025, de 16 a 18 de junho. Com painéis de alto nível, mesas redondas e sessões temáticas, o evento busca alimentar diretamente o processo da UNFCCC. Um dos momentos-chave será o lançamento da Carta de Visão da LGMA para a COP30, delineando propostas e prioridades para Belém e além.

Além disso, o evento será palco para avaliar iniciativas como o “Town Hall COPs” – um mecanismo estruturado para que líderes locais e nacionais co-criem prioridades climáticas. Está em jogo a consolidação de uma nova norma: a implementação compartilhada das metas climáticas.

De Bonn a Belém: construindo pontes

Sob a liderança do ICLEI, da ONU-Habitat e da Universidade do Sul da Dinamarca, um evento paralelo da SB62 com o tema COP30 Urbana e Além: Ação Multinível e Urbanização Sustentável para Cumprir o Acordo de Paris irá apresentar experiências locais e explorar caminhos para uma governança mais integrada.

Screenshot-2025-06-16-180721 Todos os níveis, um só objetivo: Ampliando a ambição rumo à COP30

O que acontecer em Bonn – tanto nas salas de negociação quanto nos diálogos paralelos – pode moldar o papel de governos locais e regionais na COP30. O chamado do Brasil por um “movimento de movimentos” é mais do que retórica: é uma chance real de incluir cidades e regiões no coração da resposta global ao clima.

A visão da LGMA é clara: a implementação precisa ser multinível, o financiamento deve ser acessível e a ambição tem que ser compartilhada. A SB62 pode ser o ponto de virada que mostra ao mundo que a liderança local não é apenas desejável – é indispensável.