Os nove estados da Amazônia Legal estão se movimentando para transformar o potencial de suas florestas em receita e políticas públicas. Com a aproximação da COP30, que será sediada em Belém, cresce a expectativa de que a região atraia investimentos por meio de mecanismos de mercado de carbono, especialmente o REDD+ Jurisdicional (JREDD+), ferramenta que contabiliza reduções de emissões em nível estadual ou nacional.

De acordo com o Earth Innovation Institute, instituto de pesquisa sediado na Califórnia, os estados amazônicos podem gerar entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões até 2030 com a venda de créditos de carbono resultantes da redução do desmatamento e da degradação florestal. Acre, Tocantins, Pará e Mato Grosso estão na dianteira desse movimento e, juntos, podem emitir até 100 milhões de créditos até 2026, somando uma receita potencial de US$ 1,5 bilhão — valor superior ao total doado ao Fundo Amazônia desde sua criação.
Tocantins abre caminho global
O pioneirismo veio do Tocantins, que em 2023 lançou uma chamada pública para atrair parceiros privados interessados em estruturar e adquirir créditos jurisdicionais. O estado firmou um acordo com a suíça Mercuria Energy Group, que aportou R$ 20 milhões por meio de seu fundo Silvania e se comprometeu a comprar e comercializar os créditos até o fim da década. A projeção é de 50 milhões de créditos até 2030, equivalentes a mais de R$ 2,5 bilhões.
O Tocantins foi também a primeira jurisdição subnacional do mundo a registrar seu projeto no padrão internacional ART Trees, em novembro de 2024, durante a COP29, em Baku. A auditoria independente reconheceu a metodologia aplicada ao cálculo das reduções entre 2020 e 2024, que somam 13 milhões de toneladas de carbono equivalente. Esses créditos devem chegar ao mercado em 2026.
O processo contou com mais de 50 oficinas e audiências públicas envolvendo povos indígenas, comunidades tradicionais, produtores rurais e órgãos públicos. A experiência inspirou a campanha Race to Belém, que busca ampliar os projetos jurisdicionais em todo o país, com US$ 100 milhões em investimentos do fundo Silvania e apoio das organizações We Mean Business Coalition, The Nature Conservancy (TNC) e Conservação Internacional.
Segundo Natália Renteria, diretora da Race to Belém no Brasil, o avanço do JREDD+ representa uma mudança de paradigma: “O Brasil já demonstrou sucesso em políticas de comando e controle, mas o futuro está em criar incentivos econômicos positivos para proteger as florestas”.

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Acre amplia sua tradição florestal
No Acre, o modelo de JREDD+ tem raízes antigas. O estado participou, em 2012, do programa piloto REDD Early Movers, apoiado pelos governos da Alemanha e do Reino Unido. A experiência serviu de base para a atual estratégia, que prevê redução de 50% do desmatamento até 2027, sendo metade dessa meta já alcançada no primeiro ano de execução.
Em agosto, o Acre firmou parceria com o banco Standard Chartered, de Londres, que será responsável por comercializar seus créditos de carbono pelos próximos cinco anos. O estado pretende gerar entre 30 e 50 milhões de créditos até 2030, financiando programas de regularização ambiental, agricultura de baixo carbono, fomento à borracha, cacau e mel, além de iniciativas para povos indígenas.
Pará reforça protagonismo amazônico
Sede da COP30, o Pará também avança com um plano ambicioso de JREDD+. Em 2023, o governo estadual assinou um acordo com a Coalizão LEAF e sua coordenadora, a Emergent, para a compra de até 12 milhões de créditos de carbono gerados entre 2023 e 2026. Cada crédito foi negociado a US$ 15 por tonelada, com previsão de destinar 85% dos recursos a comunidades tradicionais, indígenas e quilombolas, protagonistas na conservação da floresta.
O governador do Pará afirmou que o programa de créditos jurisdicionais representa uma virada de chave na economia amazônica: “Queremos transformar a floresta em um ativo econômico sustentável, que beneficie quem a protege”.
O caminho da Amazônia na economia verde
A consolidação do JREDD+ como política pública regional pode redefinir a relação entre economia e meio ambiente na Amazônia. Ao incorporar o valor do carbono evitado à gestão territorial, os estados criam uma nova fonte de receita estável e associada à preservação. Essa lógica, defendem especialistas, poderá ser o grande legado da COP30 em Belém: provar que conservar florestas pode ser tão rentável quanto destruí-las.









































