A citricultura brasileira acaba de ganhar um reforço significativo no combate ao greening, considerada a doença mais destrutiva em citros, haja vista que pesquisadores identificaram no óleo de copaíba o α-copaeno, molécula capaz de repelir o psilídeo-dos-citros (Diaphorina citri), inseto transmissor da bactéria Candidatus Liberibacter asiaticus. O composto mostrou ser cem vezes mais eficaz do que o β-cariofileno, anteriormente estudado.

Avanço promissor no combate à principal praga da citricultura
O estado de São Paulo, maior produtor mundial de laranja, já enfrenta um cenário alarmante: 44% das laranjeiras estão contaminadas pelo greening. A doença, descoberta no Brasil em 2004, vem sendo combatida por meio de erradicação de árvores doentes, uso de mudas livres da bactéria e controle químico do vetor. O novo repelente natural abre caminho para estratégias mais sustentáveis e eficazes.

O papel do α-copaeno e da engenharia genética
A descoberta teve origem em experimentos com plantas geneticamente modificadas, como a Arabidopsis, usadas para superexpressar compostos voláteis como o β-cariofileno. Durante os testes, os cientistas notaram que outras duas moléculas também aumentavam com a inserção do gene: α-copaeno e α-humuleno.
Ao investigar seus efeitos individualmente, o α-copaeno se destacou como o mais potente repelente, capaz de afastar o psilídeo com uma dose muito menor. Já o α-humuleno demonstrou ser neutro. “Encontramos uma molécula que pode ser protagonista em futuras formulações repelentes”, explica Haroldo Xavier Linhares Volpe, entomologista do Fundecitrus.
A inspiração vinda do campo
Curiosamente, a pista inicial para esses estudos surgiu da observação de pequenos produtores do Vietnã. Eles notaram que, ao intercalar goiabeiras com tangerinas, havia redução na presença do psilídeo. Posteriormente, foi confirmado que o aroma da goiabeira, rico em β-cariofileno, tinha efeito repelente sobre o inseto.
Essa descoberta levou os cientistas a manipular geneticamente plantas para aumentar a emissão de compostos repelentes. Os testes com α-copaeno revelaram seu potencial superior ao do β-cariofileno, o que pode representar uma mudança de rumo nas estratégias de controle do vetor.
Testes com óleo de copaíba confirmam eficácia
Além dos testes com moléculas isoladas, os pesquisadores também avaliaram o óleo de copaíba diluído em solvente. Os resultados foram positivos, reforçando o uso do produto natural como repelente. Para garantir condições semelhantes às naturais, foi criado um difusor dinâmico que permite liberar os compostos em uma arena onde o inseto é exposto a diferentes aromas.
“Essa tecnologia nos permite saber exatamente qual composto chega ao inseto no ar, o que é crucial para empresas que desenvolvem produtos comerciais”, destaca Walter Leal, da Universidade da Califórnia em Davis e colaborador do estudo.
Estratégia “repele-atrai-mata” ganha força
O próximo passo da pesquisa é aplicar o conhecimento na chamada estratégia “repele-atrai-mata”, já utilizada no controle de outras pragas agrícolas. A ideia é utilizar a laranjeira como planta repelente e o curry como planta atrativa, mas que leve o inseto à morte. Estudos indicam que o curry, embora hospedeiro do psilídeo, não transmite a bactéria causadora do greening, o que o torna ideal como “planta armadilha”.

“Estamos desenvolvendo formas de tornar o curry letal para o inseto. O objetivo é criar um sistema integrado e eficaz no controle do psilídeo, sem depender exclusivamente de inseticidas”, afirma Volpe.
Futuro mais sustentável para a citricultura
A descoberta do α-copaeno como potente repelente marca um avanço na luta contra o greening e pode ajudar a reduzir o uso de defensivos químicos. A pesquisa abre portas para novas tecnologias de controle do vetor, mais sustentáveis e baseadas em compostos naturais.
O estudo completo está disponível na revista Scientific Reports, sob o título “α-Copaene is a potent repellent against the Asian Citrus Psyllid Diaphorina citri”.












































