Brasil abre credenciamento da sociedade civil para a COP30


O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima abriu oficialmente o processo de credenciamento da sociedade civil brasileira para integrar a delegação nacional que participará da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), programada para ocorrer em Belém do Pará, entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025.

Divulgação - Ag Pará

A medida reafirma uma tradição que já marca a trajetória diplomática do Brasil nas negociações climáticas: o envolvimento direto da sociedade em espaços de tomada de decisão. Desde as primeiras conferências, o país tem se distinguido por incluir representantes de movimentos sociais, povos indígenas, comunidades tradicionais, setor produtivo, academia e organizações não governamentais em sua comitiva oficial. Agora, em uma edição histórica sediada pela primeira vez na Amazônia, o compromisso ganha contornos ainda mais simbólicos.

Diversidade como princípio político

O chamado à participação não se limita a um ato formal de credenciamento. Ele expressa a visão de que a delegação brasileira precisa refletir a pluralidade do país, suas desigualdades e também sua capacidade de mobilização por justiça climática. O governo federal reforça que a legitimidade do Brasil no cenário internacional depende de uma representação que não seja restrita a autoridades governamentais ou diplomatas, mas que traga para o centro da discussão aqueles que vivem, estudam e transformam a realidade ambiental diariamente.

Na prática, os selecionados terão acesso à chamada Zona Azul, espaço oficial administrado pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), onde se concentram as negociações entre países, encontros técnicos e eventos paralelos de alto nível. Estar nesse espaço significa participar diretamente do coração político da conferência, em diálogo com lideranças internacionais, cientistas, negociadores e representantes de organizações multilaterais.

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Foto: Divulgação/Apex

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Um convite à corresponsabilidade

O credenciamento também pode ser interpretado como um convite à corresponsabilidade. Ao abrir espaço para representantes da sociedade civil, o governo brasileiro sinaliza que a agenda climática não pertence apenas ao Estado, mas precisa ser construída coletivamente. Essa abertura cria condições para que diferentes vozes influenciem estratégias de mitigação, adaptação e financiamento climático, bem como cobrem coerência nas posições defendidas pelo Brasil diante da comunidade internacional.

Para muitos grupos, especialmente os que atuam diretamente na defesa da Amazônia e dos direitos de populações vulneráveis, integrar a delegação nacional significa muito mais do que ocupar uma cadeira em reuniões formais. Trata-se de uma oportunidade para pressionar por compromissos mais robustos, denunciar práticas nocivas e, ao mesmo tempo, compartilhar soluções locais que podem inspirar políticas públicas globais.

A COP30 em Belém e sua relevância

Sediar a COP30 em Belém não é apenas um marco logístico, mas um gesto político que coloca a Amazônia no epicentro da governança climática mundial. Pela primeira vez, negociadores internacionais, cientistas e ativistas de todo o planeta se reunirão no coração da floresta. Essa escolha amplia a responsabilidade do Brasil em demonstrar liderança e coerência. Ao mesmo tempo, abre espaço para que comunidades amazônicas se façam ouvir sem a barreira da distância.

O credenciamento da sociedade civil, portanto, soma-se a esse cenário como peça essencial para que a conferência não seja apenas um evento diplomático, mas também um palco de transformação social. Ao integrar movimentos populares, instituições acadêmicas e organizações de base, o Brasil aposta em um modelo de diplomacia que dialoga com a vida real e que busca equilibrar o discurso internacional com as urgências locais.

Justiça climática como horizonte

Mais do que discutir metas de carbono, a presença da sociedade civil na delegação nacional representa a defesa de uma visão de justiça climática. Isso significa reconhecer que os impactos da crise climática recaem de forma desigual sobre diferentes grupos sociais, e que políticas globais precisam levar em conta essas assimetrias. Povos indígenas, quilombolas, agricultores familiares e populações urbanas periféricas estão entre os mais afetados, e é justamente a voz deles que o processo de credenciamento pretende amplificar.

Com essa iniciativa, o Brasil reafirma um caminho que une tradição diplomática, participação cidadã e protagonismo amazônico. O credenciamento da sociedade civil não é apenas uma etapa administrativa, mas uma declaração de princípios: a de que enfrentar a crise climática exige não apenas acordos entre governos, mas também o engajamento direto da sociedade que sustenta e dá sentido a esses compromissos.