Créditos de plástico, a aposta para equilibrar o jogo entre resina reciclada e plástico virgem


Derivado do petróleo, o plástico carrega um duplo estigma: é um dos principais emissores de CO₂ e também o poluidor mais persistente de mares e rios. Mas interromper sua produção de forma abrupta é inviável em um mundo que consome embalagens e derivados em escala exponencial. Diante desse impasse, surge um mecanismo financeiro ainda pouco conhecido no Brasil, mas que já movimenta cifras milionárias em outros países: os créditos de plástico.

Reprodução

Inspirados no mercado de carbono, eles funcionam como certificados de impacto. Sempre que uma quantidade de plástico é coletada ou reciclada, cooperativas, catadores e recicladoras podem transformar esse volume em créditos, depois vendidos a empresas que precisam compensar resíduos que não conseguem recolher por conta própria. É uma forma de monetizar a cadeia da reciclagem e, ao mesmo tempo, de equilibrar a balança entre a resina reciclada, mais cara, trabalhosa e tributada, e a resina virgem, produzida diretamente a partir do petróleo.

Para Bruno Idler, CEO da Wise Plásticos, um dos pioneiros no setor, o mecanismo ajuda a corrigir uma distorção antiga: “O produto reciclado nunca cai de preço no mesmo ritmo que o virgem, o que derruba a competitividade da cadeia reciclada.” A lógica é simples: se uma recicladora recebe 500 dólares por tonelada em créditos, pode vender sua resina a preços mais baixos, ampliando a margem de competitividade diante da resina virgem.

A experiência da Polibalbino, recicladora de Guarulhos, mostra como isso se traduz em realidade. Com os 21 mil créditos que emitiu pela certificadora internacional Verra, a empresa ergueu uma nova planta de reciclagem, ampliando sua capacidade de 800 para 1.300 toneladas por mês e gerando mais 50 empregos. “É um serviço ambiental sem pagamento ambiental”, resume o fundador Cláudio Balbino, lembrando que ainda paga impostos como se sua resina fosse produzida a partir de petróleo.

O modelo é respaldado por leis brasileiras, como o decreto nº 11.413/2023, que regulamenta a logística reversa, e pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, em vigor desde 2010. Internacionalmente, os créditos podem ser certificados por entidades como a Verra, que já atua no mercado de carbono. Hoje, apenas três empresas brasileiras possuem créditos de plástico certificados pela instituição, em um universo global de 28.

Os preços variam bastante: de 100 a 1.000 dólares por tonelada, dependendo do tipo de projeto. Iniciativas mais “nobres”, como ONGs que retiram plástico diretamente do oceano, costumam alcançar os valores mais altos. Em comparação, créditos de energia renovável giram em torno de 2 dólares por tonelada e os de restauração florestal, cerca de 50 dólares. A discrepância mostra que o plástico se tornou um ativo disputado — e que a crise de poluição global pode acelerar sua valorização.

O Brasil, com mais de 3 mil lixões ativos e quase 80 milhões de toneladas de resíduos urbanos gerados por ano, aparece como um terreno fértil para o setor. A coleta seletiva ainda é precária e a taxa de reciclagem segue baixa, sob o argumento recorrente de falta de viabilidade financeira. Nesse contexto, os créditos de plástico funcionam como um subsídio indireto, injetando recursos em uma cadeia socialmente relevante e historicamente subfinanciada.

plastico-2-400x300 Créditos de plástico, a aposta para equilibrar o jogo entre resina reciclada e plástico virgem
Casa da FlexStone construída no Parque de Ciência e Tecnologia do Guamá – UFPa , tecnologia fez sumir o equivalente a 300 mil garrafas pet.

VEJA TAMBÉM: Startup aposta em tecnologia compacta para reuso de água

Mas o entusiasmo convive com dilemas. O fracasso recente das negociações da ONU para aprovar um tratado global do plástico mostrou como países produtores de petróleo e petroquímicos resistem a cortar a produção de resina virgem, deslocando a responsabilidade para a gestão de resíduos. O risco é que os créditos virem apenas um alívio reputacional para grandes empresas, sem reduzir de fato a dependência do plástico novo.

Para defensores do modelo, no entanto, o mercado pode amadurecer com rapidez maior do que o de carbono, que levou quase três décadas para se consolidar após o Protocolo de Quioto. Gabriel Ruske, da EcoCircle, vê nos créditos uma oportunidade de mercado diante do impasse diplomático: “Se não há acordo entre nações, sobra para iniciativas privadas darem o tom.”

Há também quem enxergue nos créditos uma ponte: não a solução definitiva, mas um mecanismo de transição capaz de remunerar catadores, financiar inovação em reciclagem e aumentar a competitividade da resina reciclada. Como lembra Juliana Rolla, CEO do grupo Oma, “assim como o carbono, ele não pode ser considerado a única solução ou única fonte de receita”.

Enquanto microplásticos já se acumulam nos corpos humanos e o debate sobre seus impactos na saúde ganha espaço, os créditos de plástico parecem destinados a crescer. O desafio será garantir que eles não virem apenas uma moeda verde de fachada, mas um instrumento real para transformar a forma como consumimos, produzimos e descartamos.

Nesse horizonte, tecnologias como a FlexStone surgem como alternativas estratégicas: em vez de apenas compensar, elas mostram como transformar resíduos plásticos em novos materiais de valor agregado, fortalecendo a economia circular. Se os créditos são um passo para financiar a reciclagem, soluções como o FlexStone podem ser o salto para mudar a lógica do plástico em sua origem. Mais informações em brita.eco.br.