Uma nova pesquisa revela como a cultura pode se tornar uma poderosa aliada no enfrentamento da crise climática no Brasil. O estudo “Cultura e Clima – Percepções e Práticas no Brasil”, conduzido pela organização C de Cultura e pela produtora Outra Onda Conteúdo, em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), mostra que 82,1% dos brasileiros estão preocupados com as mudanças climáticas, e mais da metade se considera “profundamente preocupada”.

Os resultados, que serão apresentados oficialmente na COP30, em Belém, revelam uma conexão direta entre as percepções ambientais e o papel da cultura como vetor de engajamento. Segundo o levantamento, 83,5% dos participantes acreditam que livros, filmes, músicas e museus ajudam a compreender melhor a crise climática. Além disso, 73,3% enxergam a cultura como ferramenta prática para enfrentá-la, e 62,6% afirmam ter mudado hábitos ambientais ou sociais após contato com obras culturais.
Apesar dessa consciência crescente, o sentimento de impotência ainda é expressivo: 52,4% dos entrevistados disseram não saber como contribuir efetivamente. Para Mariana Resegue, diretora-executiva da C de Cultura, esse dado revela uma lacuna entre o reconhecimento do problema e a capacidade de ação. “As pessoas compreendem a gravidade da crise, mas muitas ainda não veem caminhos claros para agir. Falta comunicação sobre como a cultura pode inspirar e orientar mudanças concretas”, afirma.
A pesquisa aponta também que quase 90% dos entrevistados desejam políticos comprometidos com sustentabilidade e justiça social, embora a intensidade dessa preocupação varie conforme a orientação ideológica. Entre os que se identificam com a esquerda, 98,8% consideram o tema essencial; entre os de direita, o número cai para 52,1%. Nas eleições de 2024, 55,1% dos eleitores de esquerda afirmaram ter levado em conta propostas ambientais na hora do voto, contra 40,4% dos eleitores de direita.

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Esses resultados sugerem que o debate climático ainda encontra barreiras na polarização política, mas indicam um avanço na incorporação do tema ao debate público. “O desafio é fazer com que a sustentabilidade deixe de ser vista como bandeira partidária e se torne valor comum”, analisa Mariana Resegue.
Um dos achados mais significativos do estudo é a relevância das populações tradicionais. Para 77,5% dos entrevistados, povos indígenas, quilombolas e outras comunidades tradicionais são fundamentais para ajudar o Brasil a lidar com as mudanças climáticas. No entanto, apenas 34,3% reconhecem que esses grupos são os mais vulneráveis aos impactos da crise ambiental. Essa discrepância revela uma percepção parcial: o reconhecimento do papel ativo dessas comunidades não vem acompanhado da compreensão de sua exposição desigual aos riscos.
O estudo também reforça a função estratégica da cultura na tradução de temas científicos complexos em narrativas acessíveis e emocionais. Filmes, músicas, exposições e iniciativas comunitárias, segundo os dados, são meios eficazes para ampliar o alcance da informação e fortalecer o senso coletivo de responsabilidade climática.
Para Mariana Resegue, “a cultura é uma plataforma essencial para conectar ciência e emoção, transformando conhecimento em mobilização social”. Ela acrescenta que o objetivo da pesquisa é “inspirar políticas públicas e investimentos que integrem cultura e clima, especialmente em programas de educação ambiental e comunicação científica”.
Ao lançar o estudo durante a COP30, os realizadores buscam reforçar o papel do Brasil como exemplo global de diálogo entre diversidade cultural e sustentabilidade. A pesquisa não apenas mede percepções, mas propõe uma agenda de futuro: aproximar o imaginário cultural das metas ambientais e reconhecer o poder simbólico da arte na formação de uma consciência climática nacional.







































