Belém deu início à I Cúpula de Jovens Líderes da Amazônia Legal em 2 de outubro, no Hotel Beira Rio, e por cinco dias reúne 27 representantes dos nove estados amazônicos em um momento que conjuga urgência, voz ativa e estratégia política. Esse encontro, organizado pelo Instituto Cojovem: Cooperação da Juventude Amazônida para o Desenvolvimento Sustentável, busca consolidar a presença dos jovens amazônicos no centro das decisões ambientais e sociais, especialmente no contexto da COP30, que será sediada justamente na capital paraense.

A escolha do momento não é acidental: às vésperas da conferência climática global, a Cúpula busca inserir as juventudes amazônicas nas narrativas e nos documentos que dialogarão com as negociações nacionais e internacionais. O propósito é claro: não ser mera audiência, mas protagonismo. Durante os cinco dias, a programação mistura painéis temáticos, oficinas colaborativas e sessões plenárias para convergir em três produtos centrais: uma Agenda Comum de Políticas Públicas, Programas e Projetos para as juventudes amazônicas; uma Declaração Unificada dos Jovens Líderes da Amazônia Legal; e policy briefs técnicos que serão entregues aos negociadores do governo brasileiro e parceiros internacionais.

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A diretora-executiva da Cojovem, Karla Braga, enfatiza que se trata de construir pontes entre o jovem amazônico e o decisor público, com um foco claro nas temáticas da transição justa, mitigação climática e cultura. A ideia é que os atores institucionais comecem a ver os jovens como interlocutores legítimos, e não apenas como beneficiários de políticas. Da mesma forma, as vozes tradicionais também foram destacadas. A liderança indígena Tel Guajara (25 anos, Maranhão) lembrou que locais como esse são espaços de pertencimento, feitos para que jovens historicamente excluídos ocupem o chão das decisões, troquem experiências e construam um sentido coletivo de futuro.
Aldrin Barros, coordenador de Advocacy da Cojovem, afirma que o caráter da Cúpula é histórico: ao longo da imersão, os jovens debatem e moldam diretrizes que, acredita-se, podem transformar políticas públicas na Amazônia. Tais diretrizes servirão como guia técnico e político para que governos estaduais e federal considerem as demandas das juventudes amazônicas nos seus planos de ação.
Nos debates já abertos, emergem temas estratégicos: financiamento de cadeias produtivas sustentáveis, uso de tecnologias e inovação para fortalecer a Amazônia e a intersecção entre justiça climática e justiça social. Ao fim de cada dia, plenárias se encarregarão de reunir consensos, valores, princípios e diretrizes que alimentarão os documentos finais, nascidos em construção coletiva entre os representantes. O horizonte é ambicioso: que esses documentos se tornem as bases do posicionamento das juventudes amazônicas na COP30, elevando sua visibilidade e legitimando sua ação no palco global.
A trajetória da Cojovem reforça esse passo: criada em 2020, a organização já atua em advocacy, pesquisa e formação com foco na juventude amazônica. Nos últimos anos, tornou-se presença recorrente nas negociações internacionais das Nações Unidas, participando de COPs e conferências climáticas, inclusive nas edições no Egito, nos Emirados Árabes e no Azerbaijão, além de participar de eventos preparatórios, como a Cúpula de Jovens Líderes do Pará, realizada em 2024. Esse histórico confere ao evento em Belém algo além de simbólico: é continuidade organizada de uma agenda juvenil amazônica que se afirma como voz ativa no debate climático.
Mais do que protagonismo juvenil instantâneo, a Cúpula busca articular jovens com diferentes matizes culturais, identitários e territoriais, indígenas, ribeirinhos, quilombolas, urbanos. A ideia é que a pauta emanada represente a complexidade da Amazônia e não uma única narrativa. O desafio é grande: sintetizar contextos tão diferentes em documentos robustos e respaldados por propostas técnicas e políticas. Mesmo assim, o ciclo simbólico entre “quem experimenta a crise” e “quem formula as respostas” está sendo invertido, os jovens que vivem a Amazônia propõem caminhos, e não apenas afirmam demandas.
À medida que a COP30 se aproxima, esse encontro em Belém ganha ainda mais densidade simbólica. Se os produtos da Cúpula forem incorporados nas negociações, haverá um novo canal de representatividade amazônica no cenário climático mundial. Se, por outro lado, os documentos forem ignorados ou esvaziados, restará o risco de mais uma conferência que ecologiza discursos sem reconhecer quem mora o território.
Em síntese, a I Cúpula de Jovens Líderes da Amazônia Legal é um gesto político e cultural de afirmação: os jovens amazônicos se declaram não apenas afetados pela crise climática, mas parte indispensável da solução. Em Belém, esse gesto se torna base para que a COP30 não seja estranha à Amazônia — mas atravessada por ela.




































