“Guardiões das águas” conhecimento local e ciência se unem para proteger quelônios na Amazônia


Na vastidão da Amazônia, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Piagaçu Purus, no interior do Amazonas, a comunidade de Itapuru se tornou um palco vibrante de aprendizado e colaboração. Entre os dias 10 e 15 de agosto, 48 moradores de 20 comunidades da região e de uma unidade da Funai se reuniram para o I Curso de Monitoria e Manejo Conservacionista de Quelônios Aquáticos Amazônicos. O evento, promovido pelo Programa Quelônios da Amazônia (PQA) com o apoio da Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amazonas (Sema/AM) e da Associação dos Moradores e Usuários da RDS Piagaçu Purus (AMEPP), marcou um passo significativo no fortalecimento das estratégias de conservação da fauna silvestre na região.

Servidores que representaram o Ibama durante o evento - Foto: Divulgação/Ibama

O curso foi uma fusão entre teoria e prática, tecendo saberes ancestrais com o conhecimento científico. Durante cinco dias intensos, os participantes mergulharam em temas essenciais para a proteção da vida aquática, como o manejo de quelônios, a legislação ambiental, a ecologia das espécies e a importância da vigilância comunitária. Também foi abordado o impacto das mudanças climáticas, a fiscalização e a aplicação de protocolos de coleta de dados. A abordagem interativa e focada na educação ambiental transformou o aprendizado em uma experiência rica e envolvente, incentivando a participação de diferentes gerações e valorizando o protagonismo local.

Joel Araújo, superintendente do Ibama no Amazonas, ressaltou que a capacitação técnica dos comunitários, que já são protetores ambientais por natureza, amplia sua atuação na gestão sustentável da biodiversidade, reconhecendo e valorizando o conhecimento tradicional. Mayara Moraes, coordenadora regional do PQA, complementou a ideia, afirmando que a conservação na Amazônia é um esforço coletivo. Para ela, o curso simboliza a união entre a ciência, os saberes ancestrais e o compromisso de proteger espécies que são fundamentais para o equilíbrio dos rios. “É dessa soma de esforços que nascem as ações de conservação capazes de garantir um futuro para os quelônios, para a própria Amazônia e para as presentes e futuras gerações”, declarou.

Raimundo Evangelista, gestor da RDS Piagaçu Purus, destacou a importância ecológica, econômica e cultural dos quelônios. Ele frisou que essas espécies são fundamentais para o ecossistema aquático, atuando na dispersão de sementes e na manutenção do equilíbrio ambiental, além de serem uma fonte de alimento para muitas comunidades. A proteção desses animais, ameaçados pela caça ilegal, perda de habitat e poluição, é essencial para preservar a biodiversidade e os serviços ecológicos que sustentam a vida na floresta.


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Servidores do Ibama e participantes do curso na AMEPP

Semeando a conscientização nas próximas gerações

 

Paralelamente à capacitação dos adultos, a escola municipal de Itapuru se tornou um ponto de encontro para as novas gerações de guardiões. A coordenadora nacional do PQA, Edelin Ribas, ministrou uma palestra sobre o programa para as crianças e jovens. O evento contou ainda com a exibição do filme institucional do PQA e um concurso de desenho com o tema dos quelônios, conduzido pela educadora ambiental Emídia Naiana Seixas.

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Foto ilustrativa de uma tartaruga – Agência Pará

O Programa Quelônios da Amazônia (PQA)

 

Criado em 1979, o PQA é o maior programa de conservação de fauna silvestre do mundo, com foco na proteção da tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa), do tracajá (Podocnemis unifilis) e do pitiú (Podocnemis sextuberculata). O programa já foi responsável pela soltura de mais de 100 milhões de filhotes, demonstrando seu impacto na preservação dessas espécies em toda a Amazônia Legal. Suas ações combinam manejo conservacionista, pesquisa, capacitação, educação ambiental e fiscalização, buscando um futuro mais sustentável para a fauna amazônica e as comunidades ribeirinhas que convivem com ela.

Essas iniciativas, como a realizada recentemente na comunidade de Santa Maria do Boiaçu, em Roraima, onde 100 mil filhotes de quelônios foram soltos por alunos e professores, mostram que a proteção ambiental pode e deve ser um esforço coletivo e intergeracional.

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