Ao completar três décadas de atuação, o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) transformou seu campus em Manaus em um espaço de trocas, exposições e debates que revelam tanto a diversidade produtiva quanto os desafios socioambientais do estado. Na quarta-feira, 10 de dezembro, a Expofeira do Ipaam abriu oficialmente uma programação comemorativa extensa, marcada por uma mesa-redonda sobre o licenciamento ambiental da mineração e práticas de mitigação de impactos na exploração mineral no Amazonas. O evento reuniu representantes do poder público, da academia e do setor produtivo para refletir sobre um dos temas mais sensíveis na gestão territorial das áreas rurais e de floresta.

O clima no Auditório do Centro de Monitoramento Ambiental de Áreas Preservadas (Cmaap) foi de diálogo aberto e tensão produtiva: enquanto se celebram 30 anos de defesa ambiental, especialistas lembraram que a expansão das demandas econômicas, como a mineração, impõe à legislação e às instituições de fiscalização desafios contínuos de atualização, integração e aplicação prática. A programação comemorativa, que segue até dia 17 de dezembro, inclui painéis, oficinas e capacitações técnicas voltadas a aprofundar essa interface entre proteção ambiental, desenvolvimento econômico e participação social.
Feira como vitrine de empreendedorismo sustentável
A Expofeira, instalada no estacionamento do Ipaam, é uma expressão concreta de como a proteção ambiental pode se conectar à vida cotidiana das pessoas. Com 35 expositores de variadas origens, o público encontrou uma representação plural da produção local: artesanatos que reaproveitam materiais, produtos cosméticos artesanais, quitutes como pães e biscoitos, temperos, almoço regional, roupas, calçados, brinquedos infantis, semijoias, guaraná em pó, tacacá, queijos e iogurtes. A feira, além de espaço de circulação econômica, funcionou como um ponto de encontro entre servidores do próprio instituto, microempreendedores e visitantes.
Para o diretor-presidente do Ipaam, Gustavo Picanço, a Expofeira vai além de uma simples vitrine de produtos: ela estimula o empreendedorismo sustentável e valoriza a produção local em um período de maior circulação de público. Segundo ele, iniciativas como essa reforçam a missão do instituto de proteger o ambiente, mas também de incentivar práticas econômicas que respeitem o meio ambiente e fortaleçam a autonomia econômica das famílias envolvidas.
A analista ambiental da Gerência de Educação Ambiental do Ipaam, Fátima Melo, explicou que essa feira acontece duas vezes ao ano — em junho, durante a chamada “semana do junho ambiental”, e em dezembro. A proposta é oferecer igualdade de participação a todos os empreendedores, sejam eles servidores ou membros da comunidade externa. A feira tem sido uma oportunidade real de incrementar renda, estreitar relações comunitárias e fortalecer laços entre o meio ambiental e as atividades econômicas locais.
Nesse cenário, histórias de empreendedores como a da engenheira civil Edelene Portela ganham destaque. Há cerca de três anos, ela participa da Expofeira com sua produção de geleias artesanais, condimentos e conservas de pimenta. A motivação para começar veio em meio à pandemia da Covid-19 e, desde então, o vínculo com a feira tem crescido. Para Edelene, a importância da Expofeira não está apenas nas vendas, mas na conexão humana que proporciona: “apresentar meus produtos para pessoas diferentes, ver a reação de quem prova, sentir o prazer que isso traz a quem consome, não tem coisa melhor”, afirma ela.

SAIBA MAIS: Ipaam aponta aumento de ocorrências de animais silvestres em bairros urbanos
Licenciamento ambiental da mineração no foco do debate
O eixo central do encontro técnico foi a mesa-redonda intitulada “O licenciamento ambiental das atividades de exploração mineral: a aplicação da legislação ambiental mitigando os impactos ambientais”. O debate trouxe vozes diversas para refletir sobre o papel das instituições, do parlamento e da sociedade civil no aprimoramento das práticas de licenciamento — um tema que retorna com força diante de projetos de infraestrutura e mineração em áreas sensíveis do interior do estado.
Estiveram presentes o deputado estadual Sinésio Campos, presidente da Comissão de Geodiversidade, Recursos Hídricos, Minas, Gás, Energia e Saneamento da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam); o analista ambiental do Ipaam José Raimundo Rabelo; o professor titular do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Tiago Felipe Arruda Maia; representantes da Secretaria de Estado de Energia, Mineração e Gás (Semig); e a secretária municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Manicoré, Marta Regina Silva Pereira. A mediação foi conduzida pela analista ambiental do Instituto, Maria do Carmo Neves dos Santos.
Durante sua fala, o deputado Sinésio Campos destacou que o Poder Legislativo tem papel fundamental na formulação e na fiscalização de políticas ambientais no Amazonas, buscando segurança jurídica e equilíbrio entre atração de investimentos e desenvolvimento sustentável. Ele citou exemplos de projetos estratégicos acompanhados pela Aleam, como o campo de gás de Silves, desenvolvido pela Eneva, e o projeto de potássio em Autazes, ressaltando a necessidade de mecanismos claros de avaliação e mitigação de impactos.
O secretário de Estado de Energia, Mineração e Gás, Ronney Peixoto, também participou do debate, enfatizando a importância da mineração e da energia como vetores de desenvolvimento econômico. Ao mesmo tempo, destacou que todas as operações devem respeitar os critérios legais e ambientais mais rigorosos, com o Ipaam atuando como corpo técnico essencial para orientar, licenciar e monitorar tais empreendimentos.
Outro convidado, o engenheiro agrônomo do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas (Idam), Adalberto Gomes, afirmou que a integração entre órgãos estaduais facilita a compreensão das exigências ambientais e fortalece a atuação produtiva no interior. Para ele, participar de debates como esse ajuda a superar lacunas de comunicação e tornar o licenciamento ambiental uma etapa compreendida por todos os atores envolvidos.
Três décadas de proteção ambiental e novos rumos
Os 30 anos do Ipaam são também uma oportunidade para olhar para frente. A programação comemorativa, que vai até 17 de dezembro, aposta em capacitações técnicas e diálogos que ampliam a compreensão sobre a complexidade do desenvolvimento sustentável no Amazonas. Ao oferecer oficinas presenciais e online, painéis e encontros intersetoriais, o instituto busca qualificar tanto servidores quanto cidadãos sobre temas que vão desde educação ambiental até a aplicação da legislação.
Esse conjunto de ações mostra que a proteção ambiental não é um esforço isolado de fiscalização, mas envolve construção de conhecimento, diálogo com a sociedade e incentivo a práticas econômicas que convivam harmoniosamente com o ambiente. Ao reunir produtores, empreendedores, técnicos, gestores públicos e representantes da academia, o Ipaam demonstra que questões como o licenciamento ambiental, a mitigação de impactos e a geração de renda são desafios comuns que exigem respostas integradas.
O debate instalado na Expofeira e na mesa-redonda sobre mineração ressoa em um momento em que o Amazonas vive pressões crescentes sobre seus recursos naturais. A experiência acumulada ao longo de 30 anos coloca o Ipaam em posição estratégica para mediar interesses, qualificar políticas públicas e fortalecer uma visão de desenvolvimento que seja, simultaneamente, sustentável, inclusiva e respeitosa com a biodiversidade e os modos de vida das populações locais.































