Neste 21 de junho, Dia do Mel, a Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A.) celebra seu décimo aniversário destacando os desafios e oportunidades que a apicultura no Brasil enfrenta.
Embora o mel brasileiro seja altamente valorizado internacionalmente, o Brasil ainda não está entre os dez maiores produtores mundiais. “Temos um clima favorável e uma abundância de pasto apícola [flores que fornecem néctar, matéria-prima do mel], mas precisamos avançar em várias áreas para alcançar nosso verdadeiro potencial”, comenta Ana Assad, diretora da A.B.E.L.H.A..
Aumentar a capacidade produtiva é uma das principais preocupações, explica Daniel Cavalcante, CEO da Baldoni e presidente executivo da A.B.E.L.H.A.. “O Brasil precisa investir em melhores práticas de manejo apícola, formalização da profissão, regulamentação e aprimoramento da legislação, além de políticas de incentivo para aumentar a nossa produtividade, que é inferior à de países como Argentina e Nova Zelândia”, afirma. Ele destaca que o investimento em treinamento técnico especializado e maior dedicação aos apiários são essenciais para a adoção de boas práticas e obtenção de melhores resultados.
Um desafio significativo é que muitos apicultores ainda veem a apicultura como uma fonte de renda secundária. O potencial de lucratividade da atividade é alto no Brasil, e os apicultores devem investir nela como a principal fonte de renda, aumentando a produtividade dos apiários e diversificando produtos com maior valor agregado, como méis especiais, embalagens diferenciadas e produtos derivados, como cremes, geleias, bebidas e cosméticos.
Aumento do Consumo
A formalização do setor é crucial. “Os apicultores devem registrar suas colmeias nos órgãos de defesa agropecuária estaduais para que o poder público possa planejar melhor, formular políticas públicas e controlar pragas e doenças”, explica Ana.
O consumo interno de mel no Brasil também apresenta grande potencial de crescimento. Atualmente, o consumo per capita é de aproximadamente 60 gramas por ano, muito abaixo da média mundial de 260 gramas. “Embora não haja estimativas oficiais, sabemos que podemos aumentar significativamente esse consumo”, enfatiza Daniel.
Ele também menciona a importância de estabelecer canais de venda eficazes para garantir preços justos aos apicultores e combater a presença de produtos adulterados ou de baixa qualidade.
A convivência com a agricultura é um foco de atenção para a apicultura nacional, destaca Ana. “A conscientização sobre o uso correto de defensivos agrícolas é crucial para a conservação das abelhas. É fundamental que os agricultores utilizem defensivos de acordo com a legislação e as bulas dos produtos, além de conservar as matas nativas e restaurar áreas degradadas”, alerta Assad.
Polinização Agrícola
A promoção do serviço de polinização agrícola assistida é outro ponto importante. No Brasil, esse serviço é subutilizado em comparação com os EUA. Diversos alimentos dependem da polinização promovida por abelhas manejadas, como maçã, melão, canola e melancia. “A cooperação entre apicultores e agricultores pode impulsionar a produtividade e a renda de ambos. É um ganha-ganha!”, diz Assad.
As mudanças climáticas também representam uma ameaça ao setor. “As alterações climáticas podem afetar a floração das plantas, a disponibilidade de néctar e pólen, e impactar diretamente as abelhas”, explica Assad.
Por fim, a diretora da A.B.E.L.H.A. ressalta a necessidade de políticas públicas eficazes e da representatividade dos apicultores junto ao poder público. “A apicultura brasileira tem um potencial econômico significativo, gerando renda, empregos e conservação ambiental. É essencial fortalecer a representatividade dos apicultores e promover a gestão profissional dos apiários.”
A apicultura no Brasil tem um futuro promissor, mas exigirá esforço conjunto de associações, cooperativas, governos e entrepostos de mel para alcançar um desenvolvimento sustentável e maximizar seu potencial econômico e ambiental.
Sobre a A.B.E.L.H.A.
A Associação Brasileira de Estudos das Abelhas visa liderar a criação de uma rede em prol da conservação de abelhas e outros polinizadores. Sua missão é reunir, produzir e divulgar informações científicas que promovam a conservação da biodiversidade brasileira e a convivência harmoniosa e sustentável da agricultura com as abelhas e outros polinizadores.