Ibama desarticula esquema de desmatamento ilegal em Apuí, no Amazonas


O município de Apuí, no sul do Amazonas, voltou a ser destaque negativo no mapa do desmatamento. Entre 18 de agosto e 2 de setembro, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) realizou uma grande operação de fiscalização que resultou no embargo de 16,4 mil hectares de floresta e na aplicação de mais de R$ 91 milhões em multas. A ação, conduzida pelo Grupo de Combate ao Desmatamento na Amazônia (GCDA), não apenas expôs a dimensão das atividades ilegais na região, mas também revelou métodos cada vez mais sofisticados para burlar a fiscalização.

Equipes do Ibama identificam indícios de uso de agrotóxicos para devastar a vegetação - Foto: Fiscalização Ibama

Um novo expediente criminoso: veneno contra a floresta

Durante as vistorias, fiscais do Ibama identificaram indícios de uso de agrotóxicos para matar a vegetação nativa. Trata-se de uma prática criminosa de alto impacto, que impede a regeneração natural da floresta e dificulta a detecção via satélite. Ao contrário das queimadas, que geram alertas térmicos quase imediatos, o uso de veneno cria clareiras “invisíveis” ao monitoramento, funcionando como uma tentativa calculada de driblar os sistemas de controle.

Amostras de solo e vegetação foram coletadas e encaminhadas para análise laboratorial. Caso o laudo confirme a presença de resíduos químicos, será a comprovação de mais um capítulo perverso na escalada de crimes ambientais na Amazônia. O uso de agrotóxicos nesse contexto não apenas devasta o bioma, mas também representa ameaça à saúde de comunidades locais, à fauna e aos cursos d’água.

A operação resultou em mais de 30 autos de infração lavrados, que incluíram pecuária ilegal, queimadas não autorizadas e reincidência no descumprimento de embargos anteriores. Além das multas milionárias, o Ibama realizou uma série de apreensões de equipamentos e produtos utilizados nos crimes ambientais.

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Madeira de castanheira-do-pará apreendida pelo Ibama em ação de fiscalização – Fotos: Fiscalização Ibama

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Foram recolhidos dois tratores, duas motosserras, duas motocicletas sem placa e um volume expressivo de madeira ilegal — 116 metros cúbicos, entre toras e madeira serrada. Parte desse material incluía castanheira-do-pará (Bertholletia excelsa), espécie ameaçada de extinção e protegida por lei.

Esses itens apreendidos terão destinação social, em linha com a política do governo federal de transformar instrumentos do crime em recursos para comunidades e órgãos públicos.

Apuí não é um município qualquer na cartografia da floresta. Localizado na chamada “nova fronteira do desmatamento”, é um dos pontos mais críticos da Amazônia Legal. O crescimento da pecuária, aliado ao avanço da grilagem de terras e da exploração ilegal de madeira, pressiona constantemente a região, tornando-a um dos principais focos de operações de fiscalização ambiental.

Segundo o Ibama, os crimes detectados no município exemplificam o modus operandi de redes criminosas que atuam em diversas partes da Amazônia: primeiro, a floresta é destruída, muitas vezes com uso de veneno ou fogo; depois, a área é convertida em pasto, lavoura ou loteamento ilegal.

Estratégia nacional de combate ao desmatamento

As ações em Apuí integram a estratégia nacional de combate ao desmatamento, articulada pelo governo federal para recuperar a Amazônia Legal e alinhar o país às metas internacionais de redução de emissões até 2030. O plano busca reduzir drasticamente os crimes ambientais, aumentar a responsabilização de infratores e fortalecer os sistemas de monitoramento e controle.

O embargo de 16,4 mil hectares e as multas que somam R$ 91 milhões não são apenas números frios: são símbolos de um esforço maior para inverter a lógica que, por décadas, alimentou a destruição da maior floresta tropical do planeta.

Ao encerrar a operação, o Ibama reforçou que não haverá tolerância com práticas que tentam driblar a fiscalização, sejam elas queimadas ilegais ou o uso de substâncias químicas para matar a floresta silenciosamente. Cada hectare embargado e cada equipamento apreendido representam não apenas a contenção de um crime, mas a reafirmação de uma política pública de Estado voltada para a proteção da Amazônia e dos povos que dela dependem.