O presidente da COP30, o diplomata brasileiro André Corrêa do Lago, afirmou que os países ricos “perderam o entusiasmo” para combater a crise climática, enquanto a China avança na produção e no uso de tecnologias de energia limpa.
A declaração foi feita em entrevista a jornalistas em Belém (PA), cidade que sedia a conferência climática das Nações Unidas até 21 de novembro.
Segundo o The Guardian, Corrêa do Lago classificou a COP30 como “a conferência da implementação”, mas também “a conferência da realidade”, em que o mundo precisa admitir que as promessas feitas desde o Acordo de Paris estão longe de se cumprir.

“O entusiasmo do Norte Global está diminuindo, enquanto o Sul Global está se movendo”, disse o diplomata. “A China está oferecendo soluções que servem a todos, não apenas a ela.”
Brasil cobra ação e vê China liderar a transição energética
O The Guardian destaca que Corrêa do Lago apontou a liderança chinesa como um exemplo de pragmatismo e eficiência.
Apesar de ser o maior emissor de gases de efeito estufa, o país asiático é também o maior produtor e consumidor de energia limpa do planeta.
Segundo ele, os avanços em energia solar e equipamentos de baixo carbono tornaram a China um modelo para a nova economia verde.
“Os painéis solares estão mais baratos e são competitivos com os combustíveis fósseis. Se você pensa em mudanças climáticas, isso é algo positivo”, afirmou o presidente da COP30.
Para o diplomata, a queda no engajamento político dos países desenvolvidos é um sinal preocupante.
Enquanto as economias do Norte perdem impulso, países em desenvolvimento começam a se mover com mais força, embora ainda dependam de recursos financeiros e tecnológicos prometidos e não entregues.
O desafio: cumprir o Acordo de Paris antes que o tempo acabe
Durante as próximas duas semanas, representantes de 194 países tentarão definir um caminho para manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C, conforme previsto no Acordo de Paris.
Mas, de acordo com dados citados pelo Guardian, os planos nacionais de emissões atuais levariam a um aumento de até 2,5°C, o que seria devastador para ecossistemas e populações vulneráveis.
A Aliança dos Pequenos Estados Insulares (AOSIS) cobrou metas mais ambiciosas e um “roteiro claro para cortes mais profundos nas emissões”, segundo a embaixadora de Palau na ONU, Ilana Seid.
“O progresso tem sido insuficiente. Precisamos de uma resposta concreta. O limite de 1,5°C deve ser a nossa estrela do norte”, afirmou.
Brasil aposta na implementação, mas divisões persistem
O governo brasileiro quer fazer da COP30 a conferência da implementação — o momento de colocar em prática os compromissos já assumidos:
- Triplicar a geração de energia renovável até 2030;
- Dobrar a eficiência energética global;
- Reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa.
No entanto, a reportagem do Guardian observa que divergências entre países desenvolvidos e em desenvolvimentoseguem marcando o início das negociações.
Mesmo após seis meses de articulação diplomática, o Brasil não conseguiu evitar conflitos sobre o foco da agenda e sobre como financiar a transição justa.
Metano: promessa global enfraquecida
O Guardian também revelou que uma promessa climática-chave da COP26, em Glasgow, está sendo descumprida.
O Compromisso Global do Metano, firmado por 159 países e que previa reduzir em 30% as emissões do gás até 2030, está em colapso.
Dados da empresa de satélites Kayrros mostram que as emissões de seis dos principais signatários (incluindo EUA e Austrália) estão hoje 8,5% acima dos níveis de 2020.
“Apesar das promessas, as emissões de metano continuam subindo”, disse Antoine Rostand, presidente da Kayrros.
“O relógio está correndo — e a inação tem um custo devastador.”
O metano é 80 vezes mais potente que o CO₂ no curto prazo e responde por um terço do aquecimento global recente.
Para Durwood Zaelke, presidente do Instituto de Governança e Desenvolvimento Sustentável, o momento exige um novo acordo global vinculante sobre o metano, e não apenas compromissos voluntários.
“As promessas não estão sendo cumpridas. Precisamos de regras, não de intenções”, afirmou.
O retrato da COP30 segundo o The Guardian
A cobertura do The Guardian descreve um cenário de frustração e esperança contida:
- O Sul Global tenta assumir protagonismo;
- O Norte Global desacelera suas ambições;
- E o Brasil tenta conduzir o debate entre pragmatismo e urgência moral.
Com o planeta se aproximando de pontos de não retorno, a COP30 é vista como a última grande chance de restaurar a confiança climática internacional.
“O entusiasmo diminuiu, mas a realidade não espera”, conclui a reportagem.


































