Durante a COP30 em Belém, uma grande novidade foi anunciada: a Teia da Sociobiodiversidade, iniciativa conduzida pelo Fundo Casa Socioambiental em parceria com o Fundo Socioambiental CAIXA, vai liberar R$ 20 milhões para impulsionar projetos sustentáveis liderados por comunidades tradicionais e locais em todo o país. As inscrições já estão abertas e podem ser feitas até 16 de dezembro, com a expectativa de selecionar pelo menos 200 propostas que receberão até R$ 100 mil cada.
Este novo ciclo não surge do nada: na edição anterior da Teia da Sociobiodiversidade foram apoiadas 202 iniciativas, que promoveram impacto direto em cerca de 354 mil pessoas e efeito indireto em aproximadamente 950 mil. Os projetos abarcaram todo o território brasileiro e operaram em diferentes biomas, fortalecendo cadeias produtivas, modos de vida tradicionais e redes comunitárias. O novo edital amplia essa ambição.
Há duas linhas temáticas centrais nessa ação: a primeira — “Negócios da Sociobiodiversidade” — olha para iniciativas econômicas que nascem da diversidade biológica e cultural de cada região, como casas de farinha comunitárias, hortas coletivas, sistemas agroecológicos. A segunda — “Soluções Baseadas na Natureza” — apoia intervenções que geram benefícios sociais, ambientais e econômicos a partir da própria natureza: restauração de ecossistemas, agroflorestas e jardins que capturam água ou regeneram solo. Conectar essas frentes é parte da estratégia.
O que chama atenção não é apenas o valor investido — que, somando duas edições, alcança R$ 40 milhões —, mas a filosofia que está por trás. A diretora-executiva do Fundo Casa Socioambiental, Cristina Orpheo, resume: “as pessoas e a natureza não estão em lados opostos — fazem parte do mesmo ecossistema. Quando o recurso chega no território, ele fortalece estruturas, cooperativas e redes, levando oportunidades para que as populações locais não precisem deixar os territórios para viver com dignidade.” A frase resume a mudança de paradigma: não se trata apenas de financiar projetos ambientais, mas de redesenhar relações sociais, culturais, econômicas e ecológicas.

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Para os realizadores, o modelo representa um avanço importante no financiamento direto à base comunitária — ou seja, recursos que de fato chegam às organizações locais, sem passar por intermediários pesados. A parceria entre as duas instituições — uma especializada em filantropia socioambiental e outra um grande banco público com fundo dedicado — permite escalar o impacto. O edital promete levar à prática a convicção de que gerar renda, reforçar autonomia comunitária e proteger ecossistemas podem andar juntos.
Mas há também desafios implícitos: levar acesso democrático aos territórios mais remotos, garantir que os processos de seleção sejam transparentes e acessíveis às comunidades, oferecer suporte técnico e institucional para que os projetos façam a diferença de fato. As oficinas de tira-dúvidas anunciadas visam justamente reduzir essas barreiras — orientar como as comunidades podem submeter bons projetos, compreender requisitos e cumprir prazos.
É importante também observar que essas iniciativas não são fragmentos isolados, mas peças de um quebra-cabeça mais amplo: uma economia regenerativa que reconhece a biodiversidade, os saberes tradicionais e a mobilização social como ativos estratégicos. Em vez de imaginar comunidades visadas apenas como beneficiárias, o enfoque coloca as comunidades como agentes centrais, detentoras de conhecimento e protagonistas da transformação.
Ao alocar recursos diretamente nesses territórios, as instituições envolvidas apostam em algo mais profundo do que simples financiamento: apostam em autonomia, em fortalecimento coletivo e em possibilidades reais para que as pessoas moldem o futuro de seus territórios. Em um país marcado por desigualdades e modelos de exploração que ignoram naturezas locais e saberes tradicionais, este tipo de iniciativa traz uma fagulha de mudança estruturante — que requer não apenas dinheiro, mas escuta, parceria, tempo e comprometimento.
A mobilização de R$ 20 milhões, somada aos R$ 20 milhões de um ciclo anterior, representa o maior volume já investido em comunidades tradicionais pela parceria entre as instituições até agora. Mas mais importante que o valor é o legado: se mais de 350 mil pessoas foram beneficiadas diretamente, e quase 1 milhão indiretamente, o impacto pode ultrapassar esses números, se cada projeto bem-implementado gerar efeitos multiplicadores, fortalecer redes, inspirar novas iniciativas.
Este não é um chamado apenas para inscrições: é um convite às comunidades de todo o Brasil para imaginar, estruturar, executar projetos que valorizem a biodiversidade, a cultura e o território. O edital reafirma que os biomas brasileiros — sejam eles florestas, cerrados, mangues, caatingas ou campos — não são meros cenários de conservação, mas arenas vivas de construção social, cultural e ambiental. E que, quando as comunidades ganham o protagonismo, o financiamento deixa de ser auxílio e vira parceria de transformação.
Serviço:
Período de inscrições: de 11 de novembro a 16 de dezembro de 2025
Inscrições e edital: www.casa.org.br/teia










































