Da educação básica ao ensino profissionalizante, EJA renova esperanças e transforma vidas


O Brasil ainda carrega uma dívida histórica com milhões de cidadãos. De acordo com o Ministério da Educação (MEC), mais de 11 milhões de brasileiros permanecem fora do universo da alfabetização. São jovens, adultos e idosos que, por diferentes razões, tiveram o direito de aprender negado e, com isso, viram portas se fecharem em sua trajetória pessoal e profissional.

Divulgação - EJA

Nesse cenário, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) desponta como uma alternativa concreta de reparação social. Criada pelo Governo Federal, a modalidade oferece a possibilidade de retomar e concluir estudos do ensino fundamental e médio, em formato presencial ou a distância, em um tempo reduzido. Mais que uma proposta pedagógica, a EJA é uma segunda chance de reescrever a própria história.

Histórias que inspiram

O exemplo de Rodrigo Pereira, morador do Pará, ilustra o impacto da iniciativa. Após 17 anos longe das salas de aula, ele recebeu o convite para voltar a estudar durante um evento promovido pelo Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Pará (SINDUSCON-PA). Desde então, concluiu o curso de almoxarife no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e somou outras seis formações pela EJA.

Para ele, a experiência foi libertadora: “Esse projeto mudou a minha vida e espero que incentive outras pessoas a retomarem seus estudos. A EJA me tornou quem eu sou hoje”. Relatos como o de Rodrigo revelam que, por trás dos números, há vidas transformadas pela oportunidade de aprender e se qualificar.

O programa ganhou ainda mais força com o apoio do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que, em parceria com o Serviço Social da Indústria (SESI) e o SENAI, lançou o SEJA PRO+ Trabalho e Emprego. Essa iniciativa oferece cursos gratuitos de EJA Profissionalizante para quem não concluiu a educação básica, unindo formação escolar a capacitação técnica.

O presidente do Sistema Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA), Alex Carvalho, reforça a dimensão social do projeto: “A EJA é um dos programas mais importantes diante da realidade do estado, pois une formação profissional a um potente impacto social. Com ela, enfrentamos desigualdades profundas e transformamos vagas em oportunidades reais de mudança e justiça social”.

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Oportunidades no Pará

No Pará, o SEJA PRO+ já abriu 2.400 vagas gratuitas em 11 municípios, como Belém, Ananindeua, Santarém e Marabá. As formações abrangem áreas estratégicas para o mercado de trabalho, como logística, gestão ambiental, eletricidade, mecânica, hidráulica e refrigeração.

Os cursos, que duram 14 meses, incluem bolsa-auxílio e seguem a demanda específica de cada região. Ao unir qualificação profissional e formação escolar, o programa busca responder às transformações tecnológicas e energéticas que desafiam o mundo do trabalho.

Durante o lançamento em Belém, o secretário Nacional da Juventude, Ronald Sorriso, destacou que mais de 9 milhões de jovens ainda não concluíram os estudos. “Vivemos um momento de transformação tecnológica e de transição energética, e essa realidade só será possível a partir da qualificação profissional dos nossos jovens”, afirmou.

Resultados já visíveis

Levantamento realizado pelo Departamento Nacional do SESI mostrou o alcance do programa no Pará entre 2022 e 2024. Os números impressionam: 61% dos alunos que concluíram a EJA ingressaram na universidade, enquanto 83,6% estão ocupados no mercado de trabalho — mais da metade em empregos formais. O impacto financeiro também é significativo: a renda média dos beneficiados cresceu quase 50%.

Além disso, a satisfação com a experiência é altíssima. Cerca de 99% dos alunos avaliaram positivamente os serviços do SESI, e 92% aprovaram o SENAI. Esses índices revelam a relevância de um modelo que alia formação escolar e técnica, consolidando a EJA como vetor de inclusão e desenvolvimento.

O superintendente do SESI e diretor regional do SENAI, Dário Lemos, resume o espírito da iniciativa: “Investir em educação é investir no crescimento do estado. Estamos preparando cidadãos mais qualificados, capazes de conquistar melhores oportunidades e contribuir com a indústria e a sociedade”.

A trajetória da EJA mostra que políticas públicas bem desenhadas podem reverter trajetórias de exclusão e abrir novos horizontes. Mais do que ensinar conteúdos, ela devolve dignidade, fortalece a cidadania e impulsiona a mobilidade social.

Num Brasil que ainda convive com milhões de pessoas privadas do direito de aprender, a EJA e o SEJA PRO+ são mais que programas educacionais: são instrumentos de esperança e transformação.