Entre 28 e 31 de agosto, Belém será o palco do I Encontro Nacional de Comunicação Indígena (ENCI), uma reunião histórica que reúne cem comunicadores de povos originários de todos os biomas do Brasil. A proposta vai muito além de um evento de formação: trata-se da construção coletiva de uma estratégia de comunicação indígena para dar visibilidade às vozes, narrativas e demandas que devem ecoar durante a COP30, marcada para acontecer em 2025 na capital paraense.

O encontro é organizado pelo Coletivo Mídia Indígena em parceria com o Ministério dos Povos Indígenas, e reúne participantes previamente inscritos em um mapeamento nacional de comunicadores indígenas realizado por meio das redes sociais. O objetivo é consolidar uma rede articulada, capaz de atuar de forma autônoma, fortalecendo tanto a comunicação interna entre povos quanto o diálogo com a sociedade brasileira e internacional.
A comunicação como território e a criação da Casa Maraká
Para os organizadores, a comunicação não é apenas uma ferramenta técnica, mas um território de disputa política e cultural. “Esse encontro representa a força coletiva dos povos indígenas na construção de suas próprias narrativas”, afirma Fly Tentehar, integrante do Coletivo. A ideia central é que a comunicação sirva como trincheira de resistência e como espaço de incidência nas grandes arenas de decisão climática, cultural e política.
A programação do ENCI está estruturada em torno de eixos que abordam a memória e identidade da comunicação indígena, a formação política e técnica de comunicadores, a criação de uma rede nacional e o desenho de estratégias conjuntas para a COP30. Além disso, o encontro prevê laboratórios de criação coletiva e campanhas voltadas ao público nacional e internacional, reforçando a centralidade da narrativa indígena na pauta climática.
O evento acontecerá na Casa Maraká, na Avenida Nazaré, 630, em Belém. O espaço foi inaugurado recentemente como centro cultural e sede de mobilização permanente para povos indígenas da Amazônia e de outras regiões do país. A cantora Anitta apadrinhou a iniciativa, reconhecendo sua relevância como instrumento de transformação social. A Casa Maraká deve seguir ativa até a COP30, recebendo formações, encontros e produções culturais.

Nomes de referência e a construção de estratégias
Entre os nomes confirmados na programação estão a ministra Sônia Guajajara, a enviada especial da COP30 Sineia Wapichana, a deputada federal Célia Xakriabá, além de Kleber Karipuna, coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB). Eles se somam a cineastas, jornalistas e pesquisadores que trarão suas experiências para pensar, junto aos comunicadores indígenas, estratégias de visibilidade e de incidência política.
Um dos pontos centrais será a elaboração de um plano de cobertura para a COP30. A proposta não é apenas registrar o evento, mas garantir protagonismo indígena no processo de comunicação. O documento, produzido coletivamente, deve indicar prioridades de pauta, linguagem e logística, com potencial para influenciar a percepção pública sobre o papel dos povos originários na crise climática. “Queremos que esse plano seja mais que registro. Ele deve ser uma ferramenta de incidência, capaz de ecoar nossas vozes dentro e fora das salas de negociação”, afirma Tipuici Monoki, da Terra Indígena Irantxe, no Mato Grosso.
A programação inclui oficinas práticas de produção audiovisual e entrevistas, debates sobre o uso de tecnologias digitais e da inteligência artificial na comunicação, além de exibições culturais. Filmes como Mundurukuyü – A floresta das mulheres peixe e Yanuni integram a mostra audiovisual, reafirmando o papel da arte como parte inseparável do território comunicacional.
Um marco para a comunicação indígena no Brasil
O ENCI também celebra os dez anos do Coletivo Mídia Indígena, que nasceu da articulação de jovens comunicadores empenhados em dar visibilidade às lutas e conquistas de seus povos. Ao longo da década, o Coletivo consolidou-se como referência nacional e internacional, participando de mobilizações que conectam o Brasil a debates globais.
O encontro em Belém aponta para o futuro ao articular a Rede Nacional de Comunicação Indígena, um projeto que pretende integrar diferentes biomas e regiões do país em uma única malha de produção e compartilhamento de informações. Para Japupromti Parkatêjê, liderança participante, a iniciativa é um marco histórico: “É a continuidade de uma luta iniciada há décadas, mas que ganha novas dimensões ao unir jovens comunicadores e lideranças em torno de um mesmo propósito”.
O que se constrói em Belém vai muito além da preparação para a COP30. A comunicação indígena emerge como campo estratégico para disputar narrativas, influenciar políticas públicas e projetar uma imagem do Brasil que reconhece a centralidade dos povos originários na proteção ambiental e na construção de futuros possíveis. Durante quatro dias, a capital paraense será território de encontro e criação, de onde sairá não apenas um plano de cobertura, mas um pacto narrativo capaz de ecoar no país e no mundo.
CONFIRA A PROGRAMAÇÃO COMPLETA:
28 de agosto
09h00 – 09h30 – Ritual de Abertura, Acordos Coletivos e Orientações Gerais
09h30 – 10h30 – Abertura
Participação: Erisvan Guajajara, Priscila Tapajowara, Giovana Mandulão, Puyr Tembé, Oe Kayapó
10h30 – 12h00 – Talkshow: A Origem da Comunicação Indígena
Mediação: Tukumã Pataxó
Participação: Ykaruni Nawa, Daiara Tukano
14h00 – 15h30 – Análise de Conjuntura: Comunicação Popular e a Sociedade Brasileira
Mediação: Ariene Wapichana
Participação: Pablo Capilé, Charles Trocate, Ingred Sateré Mawé, André Wilkson, Kleber Karipuna
16h00 – 18h00 – Oficinas simultâneas
- Produção de Conteúdo para Redes – Cristian Wariu
- Memória e Arquivo Audiovisual – Inês Aisengart
- Técnicas de Entrevista – Helena Balatiponé
29 de agosto
09h00 – 10h30 – Como Comunicar os Três Poderes?
Mediação: Samela Sateré Mawé
Participação: Samara Pataxó, Juliana Kanindé, Osvaldo Braga, Danicley Aguiar, Bruno Taitson
10h40 – 12h00 – Discussão em grupos
14h00 – 15h00 – Talkshow: Estrutura da Comunicação Brasileira e a Regulamentação das Redes Sociais
Participação: Helena Martins
15h30 – 17h00 – Talkshow: Desvendando a Inteligência Artificial
Participação: Natálie Hornos, Inês Aisengart
Noite – Exibição do filme Mundurukuyü – A floresta das mulheres peixe
Bate-papo com a diretora Beka Munduruku
30 de agosto
09h00 – 10h30 – Talkshow: O que é a COP? Desmistificando a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas
Mediação: Natalia Mapua
Participação: Gasparini Kaingang, Eric Terena, Mayra Lima
11h00 – 12h00 – Talkshow: Participação Indígena em Espaços Internacionais de Negociação Climática
Mediação: Priscila Tapajowara
Participação: Sonia Guajajara, Sineia Wapichana, Kleber Karipuna
14h00 – 15h00 – Comunicação e a COP 30
Mediação: Zé na Rede
Participação: Cleinton Nobre, Jean Ferreira, Lucia Ixchui, Olo Villalaz
15h00 – 17h00 – Planejamento de Cobertura da COP 30
17h00 – 18h00 – Apresentação do Plano de Comunicação para Cobertura e Ações na COP 30
19h00 – Exibição do filme Yanuni
31 de agosto
09h00 – 10h00 – Estratégias para Conversar com a Sociedade
Mediação: Erisvan Guajajara
Participação: Célia Xakriabá, Hony Sobrinho
10h00 – 12h00 – Campanhas e Impactos – Luciana Weyne e Bia Calza
14h00 – 16h00 – Laboratório Livre de Criação de Campanhas e Definições de Narrativas
16h00 – 17h00 – Encaminhamentos Finais do Encontro Nacional de Comunicação Indígena
20h00 – Coquetel “10 anos da Mídia Indígena – Rumo à COP 30”
SERVIÇO: Encontro Nacional de Comunicação Indígena (ENCI)
Data: 28 a 31 de agosto de 2025
Local: Casa Maraká – Avenida Nazaré, 630
Mais informações e atualizações: https://www.instagram.com/midiaindigenaoficial/
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