Em pacientes com doença de Parkinson, exercícios aeróbicos podem contribuir para a redução das dores orofaciais, localizadas na cavidade oral e na face. É o que mostra estudo feito no Laboratório de Neuroanatomia Funcional da Dor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), em parceria com o Laboratório de Neurociências do Hospital Sírio-Libanês.
O trabalho teve apoio da FAPESP (15/24256-0; 14/24533-0; 17/26821-1; 17/05218-5; e 21/02897-4) e foi divulgado na revista Neurotoxicity Research.
Como explicam os autores, a doença de Parkinson é, além de neurodegenerativa, inflamatória. Os sintomas são divididos em dois grandes grupos: motores, aqueles relacionados a movimentos, como tremores; e não motores, que podem incluir dor, depressão, distúrbios de sono e outros. Segundo Daniel de Oliveira Martins, autor do estudo e pesquisador do ICB, essa última categoria só ganhou maior atenção recentemente. “Antigamente, a dor do paciente com Parkinson era confundida com aquela dor própria da idade avançada, porque a doença possui maior incidência em pessoas acima de 60 anos”, disse o cientista à Assessoria de Imprensa do ICB-USP.
Nos experimentos, os pesquisadores induziram a doença em ratos com uma injeção da 6-hidroxidopamina, substância que causa a perda de neurônios dopaminérgicos, principal característica da enfermidade. Depois, os animais foram colocados para treinar em esteiras de exercício três vezes por semana, durante cinco semanas.
Para medir o comportamento da dor, os pesquisadores utilizaram um método chamado de filamentos de Von Frey. Nele, filamentos de várias espessuras são aplicados na face do animal com diferentes intensidades de força. Quanto menor a espessura dos filamentos que causam desconforto, mais sensível os animais estão à dor. O grupo observou então que, após o tratamento, a expressão dos marcadores relacionados à dor diminuiu, mantendo os roedores com o mesmo comportamento dos animais livres da doença.
Os pesquisadores também testaram nos animais os efeitos da desativação dos receptores canabinoides por meio do uso de fármacos. Essa intervenção contribuiu para que a dor retornasse, desaparecendo novamente com a retomada de exercícios.
“Devido a todos os estudos recentes com Cannabis, resolvemos também testar os receptores de canabinoides nesse modelo. Os resultados mostram uma possível correlação entre os receptores e o mecanismo de dor orofacial no Parkinson, o que pode ser útil para o desenvolvimento de novas terapias”, afirmou a professora do ICB Marucia Chacur, coordenadora do laboratório e coautora da pesquisa.
Benefícios do exercício físico
O estudo é mais um indicativo dos benefícios do exercício físico, reduzindo a necessidade de medicação. A recomendação, contudo, depende da individualidade de cada paciente e dos problemas que o acometem. “A doença de Parkinson possui uma variedade muito grande de sintomas, que se manifestam nos pacientes de maneiras diferentes. Para algumas pessoas, o exercício físico é muito benéfico, mas não é o caso de todos”, explicou Martins.
Chacur aponta que há outros caminhos a serem explorados no futuro. A pesquisa deverá continuar em outras frentes, analisando a dor em outras regiões do corpo e outros mecanismos fisiológicos, não só relacionados ao movimento, como os associados ao calor e ao frio.
“Tem uma parte desse trabalho com enfoque na dor neuropática – causada por danos aos nervos sensitivos do sistema nervoso central ou periférico – nos membros inferiores. É importante, pois o paciente tem dores generalizadas no corpo, muitas vezes justamente pela rigidez nos membros superiores”, disse a professora.
O artigo Exercise Improves Orofacial Pain and Modifies Neuropeptide Expression in a Rat Model of Parkinson’s Disease pode ser lido em: https://link.springer.com/article/10.1007/s12640-023-00651-6.