Fenômenos Naturais Ameaçam 10% das Espécies de Vertebrados Terrestres no Mundo


Fenômenos naturais ameaçam espécies animais

Uma nova pesquisa publicada na revista PNAS revelou que mais de 3 mil espécies de vertebrados terrestres estão em risco de extinção devido a eventos naturais como terremotos, furacões, tsunamis e erupções vulcânicas. O estudo, apoiado pela FAPESP, destaca a vulnerabilidade de animais que já possuem populações pequenas ou habitam áreas restritas.

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Os cientistas conduziram o levantamento cruzando dados de áreas afetadas por desastres naturais com habitats de mamíferos, répteis, anfíbios e aves com menos de mil indivíduos ou com áreas de ocupação menores que 2,5 mil quilômetros quadrados. Esses critérios aumentam a dificuldade de reprodução e recuperação populacional após eventos críticos.

“Nossa pesquisa identificou que 42% das 8.813 espécies com populações reduzidas ou áreas limitadas estão em regiões propensas a desastres naturais, o que ameaça seriamente seu futuro”, explicou Fernando Gonçalves, principal autor do estudo, realizado em parte durante seu pós-doutorado no Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (IB-Unesp), em Rio Claro.

O estudo integra as atividades do Centro de Pesquisa em Biodiversidade e Mudanças do Clima (CBioClima), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela FAPESP.

Captura de tela 2024 06 18 155234Das espécies em risco devido a fenômenos naturais, 70% habitam ilhas, e 34% estão nos Neotrópicos, que vão do sul do México ao norte da Argentina. No Caribe e golfo do México, furacões são a principal ameaça, enquanto no Anel de Fogo do Pacífico, que inclui áreas dos Andes e a costa oeste dos Estados Unidos e Canadá, vulcões, terremotos e tsunamis predominam.

“Essas espécies frequentemente são empurradas para locais de alto risco após perderem seus habitats naturais devido ao desmatamento, por exemplo”, comentou Mauro Galetti, professor do IB-Unesp e um dos coordenadores do estudo. A rã-foguete-de-quito (Colostethus jacobuspetersi) é um exemplo, agora restrita a áreas ao redor do vulcão Cotopaxi, no Equador.

Os pesquisadores determinaram que 2.001 espécies estão em alto risco, com 25% ou mais de sua distribuição em áreas propensas a desastres naturais. Para 16% dessas espécies, duas ou mais ameaças naturais são comuns em seus habitats.

Um dado preocupante é que 30% das espécies em alto risco vivem fora de áreas protegidas e apenas 15% têm planos de conservação específicos. O Brasil tem duas espécies listadas no estudo: a lagartixa-da-areia (Liolaemus lutzae) e o sapo-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus cambaraensis).

Os furacões são os únicos fenômenos naturais estudados que têm ligação direta com o aquecimento global. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) prevê um aumento na frequência desses eventos extremos.

“Espécies que sobreviveram a eventos naturais no passado podem ter maior resistência a novos desastres, mas a combinação de fenômenos naturais e impactos humanos pode ser insuperável”, alerta Gonçalves, atualmente pós-doutorando na Universidade de Copenhague.

Para mitigar os efeitos sobre as espécies ameaçadas, os pesquisadores sugerem a criação de corredores ecológicos, reprodução assistida, translocação para áreas seguras e conservação em cativeiro. Essas estratégias visam garantir a sobrevivência das espécies e a manutenção de sua diversidade genética.

O estudo recebeu apoio adicional da FAPESP por meio de diversos auxílios e bolsas. O artigo completo pode ser acessado em: www.pnas.org/cgi/doi/10.1073/pnas.2321068121.


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