No próximo dia 8 de novembro, às vésperas da COP30, o Instituto Clima e Sociedade (iCS) apresentará à sociedade brasileira os principais destaques de um mapeamento inovador sobre o fluxo de financiamento da agenda climática no Brasil por instituições filantrópicas. A versão completa desse estudo — batizado de “O cenário do financiamento climático no Brasil” — está prevista para março de 2026. Mas os dados antecipados já apontam para conclusões inquietantes.

A pesquisa, encomendada pelo iCS em parceria com o Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE) e apoiada pela ClimateWorks Foundation, analisou um período de cinco anos (2019-2023) das doações destinadas à ação climática no Brasil. O diagnóstico revela que 75% dos recursos filantrópicos provêm de apenas dez grandes doadores internacionais — uma concentração que levanta questionamentos sobre poder, independência e vigência local da agenda.
Setores beneficiados e lacunas persistentes
Entre os resultados que serão divulgados no painel “Scaling the role of Philanthropy for Climate Action in Brazil”, realizado durante o Climate Implementation Summit em São Paulo, destacam-se duas assimetrias marcantes:
O tema “uso da terra” recebe 76% dos investimentos destinados à mitigação, embora o setor agropecuário — responsável por cerca de 27% das emissões nacionais — receba apenas 18% dos recursos.
A transição energética, peça-chave da economia de baixo carbono, capta apenas 11% das doações para a agenda climática; se considerados apenas os fundos de instituições filantrópicas, esse percentual cai para 5%. Quando se isola o apoio a organizações que atuam exclusivamente na agenda climática, o financiamento destinado à mitigação despenca para 1,5% do total.
Essas discrepâncias indicam que, embora temas como florestas e uso da terra mobilizem volume substancial de recursos, áreas centrais para a virada de matriz energética, mobilidade ou indústria de baixo carbono ainda estão à margem do financiamento privado e filantrópico no Brasil.

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Uma agenda de poder e estrutura
O mapeamento que o iCS apresenta inspira um olhar mais crítico sobre o papel da filantropia no Brasil. Ao registrar que a maior parte dos recursos vem de um seleto grupo internacional, o estudo aponta para uma possível dependência externa que pode condicionar prioridades, formatos de projeto e agendas locais. Isso sugere a necessidade de mecanismos mais robustos de governança, transparência e corresponsabilização — para que o financiamento climático converta-se em agenda nacional, e não em mera extensão de prioridades externas.
Ao mesmo tempo, as lacunas — especialmente no setor de transição energética — indicam que há oportunidades perdidas. Nesse cenário, mobilizar recursos públicos e privados nacionais, promover estruturas de financiamento inovadoras e fortalecer atores locais se torna estratégico. O investimento pulverizado em tecnologia, eficiência, mobilidade ou renováveis ainda não recebeu a atenção proporcional à sua urgência.
O que vem pela frente
O painel do Climate Implementation Summit será uma vitrine para o estudo e coloca o Brasil no centro de uma discussão global: como a filantropia pode ampliar seu impacto na ação climática, de modo mais justo, eficiente e conectado ao contexto nacional? A versão final do estudo, em março de 2026, deverá oferecer dados mais detalhados e recomendações — mas os destaques antecipados já servem como alerta.
Para a comunidade climática, para órgãos públicos, para as instituições filantrópicas e para o setor privado, o convite é claro: olhar para onde fluem os recursos, quem decide, e quais áreas continuam sub-financiadas. Se o Brasil pretende concretizar a agenda da COP30 — e além dela — será preciso conceber um ecossistema de financiamento climático que vá além de grandes doadores externos, que atenda a prioridades nacionais e que garanta participação de atores locais.
Se a ciência, a sociedade civil e os investimentos se alinham, há espaço para uma virada. Mas o relatório do iCS deixa claro que essa virada dependerá tanto de novos recursos quanto de novos arranjos de poder — e de profunda reflexão sobre para quem e para onde vai o dinheiro do clima.
Serviço:
Painel: “Scaling the role of Philanthropy for Climate Action in Brazil”, dentro do Climate Implementation Summit
Data: 08/11 – Horário: das 11h às 12:30
Endereço: Renaissance São Paulo Hotel Conference Centre (Alameda Jaú 1.620, Jardim Paulista, São Paulo)
Participantes: Maria Netto, diretora-executiva do iCS, e Surabi Menon, vice-presidente da ClimateWorks Foundation. Moderação de Jens Nielsen, CEO da World Climate Foundation.









































