Em um anúncio que sinaliza a renovação do compromisso global com a Amazônia, o Programa de Áreas Protegidas da Região Amazônica (ARPA), lançado há mais de duas décadas, garantiu um novo e robusto aporte de US$ 120 milhões. Este investimento, equivalente a quase R$ 640 milhões, será a força motriz para a conservação e o desenvolvimento sustentável em uma área que se estende por impressionantes 23,6 milhões de hectares, um território comparável ao próprio Reino Unido.

O foco central desta nova fase, que se desenrolará ao longo de 15 anos, é o fortalecimento de 60 Unidades de Conservação (UCs) federais e estaduais de uso sustentável. Crucialmente, os recursos serão direcionados para comunidades que vivem no coração da floresta, como extrativistas e outras populações tradicionais—um grupo estimado em 130 mil pessoas. A estratégia reconhece a verdade fundamental de que a proteção da floresta equatorial depende intrinsecamente do bem-estar e da prosperidade dos seus guardiões humanos.
A ministra Marina Silva (MMA) foi enfática ao sublinhar essa interdependência, chamando o processo de um mecanismo de “retroalimentação”: a gestão eficaz das UCs só é sustentável quando realizada em parceria e benefício direto das comunidades. É um endosso à tese de que conservar a natureza e promover o desenvolvimento humano não são objetivos concorrentes, mas complementares.

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Investimento que Gira a Economia da Floresta
O investimento não se limitará à vigilância ambiental. Ele é concebido para atuar como uma catalisadora econômica que desvincula o sustento das famílias da atividade destrutiva do desmatamento. Os recursos serão canalizados por meio de contratos governamentais com o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) — o gestor e executor financeiro do ARPA.
Os planos incluem:
Reforço de economias sustentáveis: Melhorar a produção e, crucialmente, o escoamento de produtos extrativistas.
Modernização: Levar acesso à internet e eletricidade, priorizando o uso de fontes limpas.
O presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Júlio Barbosa de Aquino, expressou otimismo, projetando um “salto muito grande” na qualidade de vida e na geração de renda, ao mesmo tempo em que fortalece a proteção dos territórios e dos recursos naturais. A secretária-geral do Funbio, Rosa Lemos de Sá, reforça a visão econômica, estimando que o apoio beneficiará 130 organizações comunitárias capazes de gerar uma receita anual entre US$ 130 milhões a US$ 170 milhões, proveniente de atividades econômicas baseadas na socioeconomia da floresta.“Ao vincular os recursos a metas de desempenho e a objetivos políticos essenciais para o Brasil, estamos proporcionando benefícios intergeracionais para as pessoas e para a natureza,”
Um Programa com História e Impacto Mensurável
O ARPA não é uma iniciativa passageira; ele foi lançado em 2002 na Rio+10, em Joanesburgo, e, como notou Marina Silva, sobreviveu a “piores governos,” demonstrando uma resiliência institucional notável.
O programa já conta com um histórico impressionante:
Criação de UCs: Apoiou a criação de 27 milhões de hectares em reservas federais e estaduais — uma área maior que os estados de São Paulo e Rio de Janeiro somados.
Mitigação Climática: Entre 2008 e 2020, o programa contribuiu para evitar a emissão de 104 milhões de toneladas de CO₂.
A meta ambiciosa para o futuro é apoiar a conservação e o uso sustentável de 60 milhões de hectares até 2039, abrangendo cerca de 15% da Amazônia brasileira. O ARPA é um modelo de cooperação internacional e nacional, financiado por uma coalizão que inclui o governo da Alemanha, o Banco Mundial, a Fundação Gordon and Betty Moore, a AngloAmerican e o WWF. Esta nova injeção de capital não apenas assegura a continuidade do programa, mas solidifica a visão de que a luta contra a crise climática passa, fundamentalmente, pela valorização e empoderamento das comunidades que vivem na maior floresta tropical do mundo.






































