Amazônia pode render US$ 900 bi com restauro florestal


O Brasil se aproxima de uma oportunidade histórica. A realização da COP30 em Belém, em 2025, não é apenas um evento diplomático: pode ser o marco de uma nova forma de pensar a relação entre clima e floresta. Em meio ao atraso global na redução de emissões, o restauro da Amazônia desponta como a estratégia mais viável e de maior impacto para capturar carbono em larga escala, ao mesmo tempo em que fortalece a resiliência da maior floresta tropical do planeta.

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Segundo estimativas, a regeneração florestal poderia retirar 18 bilhões de toneladas de carbono da atmosfera em apenas três décadas. Se essa captura fosse remunerada a valores de mercado, o Brasil poderia receber até US$ 900 bilhões, recursos que, se bem direcionados, ajudariam a transformar a economia da região e garantir a sobrevivência da floresta.

Essa visão está sendo detalhada por um grupo de economistas de renome internacional, entre eles Juliano Assunção, professor da PUC-Rio, diretor-executivo da Climate Policy Initiative (CPI) e referência em estudos sobre o uso da terra no Brasil. Desde 2010, Assunção tem se dedicado a analisar como políticas públicas, em conjunto com mecanismos econômicos, podem reduzir o desmatamento e gerar incentivos reais para a conservação.

A trajetória de Assunção e do CPI no Brasil começou com a pergunta que mudaria o rumo do debate: o que de fato levou à queda do desmatamento na Amazônia nos anos 2000? Foram apenas as condições de mercado ou as políticas públicas tiveram papel decisivo? A resposta apontou claramente para a força regulatória do Estado. A partir daí, a agenda se ampliou para pensar o futuro das florestas não apenas como um desafio, mas como parte central da solução climática.

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Juliano Assunção, professor do departamento de Economia da PUC-RJ Foto: Leo Pinheiro/Valor

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Floresta como ativo climático

Hoje, o Brasil detém cerca de 123 bilhões de toneladas de carbono estocadas na Amazônia, um volume comparável às emissões históricas dos Estados Unidos desde 1850. Esse estoque, no entanto, é visto mais como uma ameaça do que como uma oportunidade. O avanço do desmatamento e a degradação florestal têm colocado ecossistemas próximos a pontos de não retorno. Pesquisas de cientistas como Luciana Gatti, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), mostram que trechos da floresta já registram emissões líquidas de carbono, um sinal preocupante de perda de resiliência.

A virada de chave proposta por Assunção e seus colegas, entre eles o economista José Scheinkman, professor em Princeton e Columbia, e o Nobel Lars Hansen, da Universidade de Chicago — é enxergar a floresta como ativo climático. Restaurar áreas degradadas não apenas devolve vitalidade à biodiversidade, mas também cria um fluxo contínuo de captura de carbono, capaz de atrair investimentos globais.

A equipe de pesquisadores dividiu a Amazônia em mil áreas de estudo, simulando cenários de uso da terra. Para cada local, calcularam o potencial de captura de carbono, o valor econômico da agropecuária e os impactos de diferentes preços do carbono.

O resultado é revelador: com valores relativamente baixos, em torno de US$ 25 por tonelada de carbono, já seria possível deslocar parte da pecuária e liberar áreas para regeneração natural. Em um cenário de preços mais altos, próximos a US$ 50, o retorno financeiro poderia alcançar os US$ 900 bilhões em 30 anos.

Esse modelo combina ciência, economia e política pública em um mesmo eixo: o nexo floresta-clima. A ideia é transformar a Amazônia de ameaça em solução, reposicionando o Brasil como líder global em inovação climática.

A urgência da COP30

A mensagem que se pretende levar à COP30 é clara: floresta e clima não são agendas separadas. A regeneração natural da Amazônia já está em curso em mais de 5 milhões de hectares, mas precisa de escala e de incentivos. O desafio é construir mecanismos financeiros que premiem a captura líquida de carbono em nível jurisdicional, ou seja, em regiões específicas como assentamentos ou unidades de conservação.

Esses mecanismos, atualmente em estudo pelo CPI, poderiam gerar recursos inéditos para comunidades locais, agricultores e gestores públicos, criando um ciclo virtuoso de conservação, desenvolvimento e resiliência climática.

A Amazônia guarda em si tanto o risco de catástrofe climática quanto a chance de uma nova economia sustentável. O futuro dependerá de como o Brasil apresentará sua visão ao mundo. A COP30 será, mais do que um encontro internacional, a oportunidade de reposicionar a floresta como protagonista no combate à crise climática.