Free Zone: arte, ciência e juventude na COP30 em Belém


Em Belém (Pará), o cenário da conferência climática ganha um formato além das salas de negociação: nasce ali, de 10 a 21 de novembro, a Free Zone Cultural Action. Instalada na Praça da Bandeira, no bairro da Campina, essa iniciativa gratuita convida a uma imersão na Amazônia — não apenas como tema, mas como território vivo de debate, arte e mobilização.

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A Free Zone abre as portas amanhã às 9h, após o lançamento oficial voltado à imprensa no dia 9, a partir das 16h, com evento de convidados. A partir do segundo dia, o público em geral poderá percorrer o circuito formado por dez domos geodésicos — estruturas construídas com materiais de baixo impacto ambiental (como madeira, alumínio, linóleo e cobertura reutilizável) — que sustentam diferentes espaços temáticos. Cada domo representa uma “ideia de futuro”, ao mesmo tempo que reconhece as raízes das comunidades amazônicas.

Dentro desses domos habitam zonas de conteúdo específico: a Zona Vozes, onde se sediará o fórum internacional da COJOVEM; a Zona Crono, teatro-arena que acolhe o espetáculo Cronoecológico, produzido pelo Instituto Artô; a Zona Tela, voltada para curtas e documentários; a Zona Ecos, que vai expor e ofertar bens e serviços da sociobioeconomia amazônica; a Zona Sabores, uma praça de alimentação inspirada no cotidiano ribeirinho e nos sabores regionais. Ali, cultura, ciência e cidadania se entrelaçam.

A correalização da Free Zone pela Instituto Cultural Artô e pela COJOVEM reforça dois vetores: a arte como vetor de transformação e o protagonismo jovem na Amazônia. Para a fundadora e diretora executiva da COJOVEM, Karla Braga, o objetivo não é apenas ter jovens “no palco”, mas fazê-los parte ativa das decisões — capacitados para transitar entre o local e o global, olhando para a Amazônia como lugar de crítica e inovação. A meta é clara: que segmentos que historicamente sofrem os impactos da crise climática assumam voz, lugar e potência.

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O fórum internacional, que reúne lideranças, especialistas e jovens de diferentes países, propõe debates sobre transição justa, adaptação, descarbonização, perdas e danos — e encara estes temas com o rigor da agenda da UNFCCC, porém a partir da vivência de quem está nos territórios. A arte entra como mediadora, tradução, provocação: o espetáculo, o debate, o documentário, a feira de economia criativa, o sabor da comida local — tudo converge para tornar a urgência climática algo humano, plural, imediato.

Além disso, a sustentabilidade não está apenas no discurso: a montagem da Free Zone foi pensada para usar materiais que busquem baixo impacto; a gestão de resíduos está a cargo da Cooperativa de Catadores Concaves – reforçando inclusão social e responsabilidade econômica. Esse cuidado técnico só reforça o simbolismo: a Amazônia como palco de convivência entre saberes ancestrais e tecnologias de futuro.

Mais que estrutura, a Free Zone é um convite. A cada visitante cabe decidir: observar como espectador ou assumir a condição de parte do debate. São esperadas até 10 mil pessoas por dia, em jornadas que vão das 8h até 2h (com shows até meia-noite). Todas as atividades são gratuitas; em alguns casos, haverá inscrição simples para garantir participação em fóruns ou oficinas. A programação completa está no site oficial da Free Zone e nas redes sociais do evento.

Em última instância, a Free Zone se configura como mutirão global — pela vida, pelo clima, pela Amazônia — e assume presença procurada: o espaço não está à margem da COP, mas conectado a ela, porém com o pé no chão amazônico. É ali, nesse encontro entre arte, ciência, juventude e cidadania, que se poderá vislumbrar como o debate climático se traduz em expressão, em território, em potência de transformação.