O Brasil chegou à COP30 com um anúncio ambicioso: o lançamento do fundo Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), acompanhado de mais de US$ 5,5 bilhões em compromissos iniciais.Por outro lado, o país já opera há anos o Fundo Amazônia, que tem foco específico na Amazônia Legal.

Assim, embora ambos os mecanismos atuem em prol do meio ambiente, eles se diferenciam em escopo, modelo financeiro, mecanismo de repasse e governança. Vamos explorar essas diferenças com clareza.
Origem e escopo de atuação
O Fundo Amazônia foi criado em 2008 com a missão de captar doações para apoiar o combate ao desmatamento, o manejo sustentável e a recuperação na Amazônia Legal brasileira.
Já o TFFF surge como proposta no âmbito internacional. Foi apresentada pelo Brasil durante a COP28 em Dubai (2023) e ganha corpo na COP30.
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No escopo, o TFFF é voltado para “florestas tropicais de países em desenvolvimento”, não apenas para o Brasil.
Em contraste, o Fundo Amazônia atua exclusivamente na Amazônia Brasileira, ou seja, dentro da chamada Amazônia Legal.
Modelo de financiamento
No caso do Fundo Amazônia, os recursos são provenientes de doações não reembolsáveis de governos estrangeiros (como Noruega e Alemanha) e de empresas nacionais.
Por outro lado, o TFFF se configura como um mecanismo híbrido, que busca captar investimentos públicos e privados, com potencial de gerar retorno financeiro aos investidores.
Vale destacar que o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que “não será doação, será investimento” no caso do TFFF.
Mecanismo de repasse de recursos
No Fundo Amazônia, os recursos são repassados por meio de editais para projetos de órgãos governamentais brasileiros, ONGs ou outras entidades que atuam na Amazônia. A gestão é operada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) por meio do Comitê Orientador (COFA).
Já o TFFF propõe remuneração anual fixa aos países que mantêm ou restauram floresta, com pelo menos 20% dos recursos destinados a povos indígenas e comunidades locais.
Governança e participação dos povos indígenas e comunidades locais
Um dos elementos modernos do TFFF é a exigência de participação de comunidades indígenas no processo e de um percentual mínimo para essas comunidades. O Greenpeace destaca que esse mecanismo reconhece “guardião da floresta” como ator essencial.
No Fundo Amazônia, embora existam critérios e participação de diversas entidades nacionais, o modelo historicamente foi mais centralizado nos recursos públicos e doações externas.
Metas e ambições
O TFFF estabeleceu metas ambiciosas: alcançar US$ 10 bilhões em aportes até 2026 e um total de até US$ 125 bilhões ao longo do tempo.
Enquanto isso, o Fundo Amazônia concentra-se no território brasileiro, com foco na redução do desmatamento e no manejo florestal sustentável, dentro de desafios políticos e operacionais nacionais.
Impactos previstos e desafios
Ambos os fundos assumem que a floresta em pé vale mais do que a floresta destruída, tanto em serviços ecossistêmicos quanto em regulação climática e biodiversidade.
No entanto, o TFFF ainda enfrenta desafios práticos: critérios de elegibilidade, monitoramento de degradação (além de desmatamento), governança robusta e dependência de mercados financeiros.
Para o Brasil, isso representa uma oportunidade histórica, mas exige coerência e articulação entre governo, investidores e comunidades locais. A execução será a chave.
Por que a diferença importa para a Amazônia e o mundo?
Para a Amazônia brasileira, o Fundo Amazônia continua sendo uma ferramenta relevante de financiamento vinculado à conservação e ao desenvolvimento sustentável. Ele opera em âmbito nacional e está familiarizado com a realidade local.
Já o TFFF tem o potencial de mobilizar capital global, fortalecer a posição do Brasil como líder em conservação de florestas tropicais e incluir uma lógica de remuneração por serviço ambiental de floresta em pé. Isso implica maior escala e um novo paradigma de financiamento.
Dessa maneira, a distinção entre os dois fundos não é apenas técnica: ela reflete diferentes caminhos de financiamento florestal — um nacional e focado, o outro global e ambicioso.
Como isso pode impactar comunidades e ecossistemas?
Comunidades indígenas, povos tradicionais e agricultores familiares são peças-chave nesse cenário. O TFFF prevê que pelo menos 20% dos recursos sejam destinados a essas comunidades. Isso significa respeito a saberes ancestrais, inclusão e autonomia local.
Para os ecossistemas, especialmente a Amazônia Legal, essa dupla abordagem (Fundo Amazônia + TFFF) pode gerar fontes estáveis de financiamento, suporte à restauração e à conservação, além de criar incentivos para que a floresta em pé seja valorizada como capital natural.
Considerações finais
Em resumo, o Fundo Amazônia e o TFFF operam com propósitos próximos — preservar florestas, reduzir desmatamento, promover sustentabilidade — mas com estratégias distintas. O primeiro é mais restrito ao Brasil; o segundo tem alcance global e lógica de investimento.
Para o Brasil e para o mundo, a articulação de ambos os fundos pode significar uma nova era para o financiamento florestal: mais coerente, mais sistêmico, mais justo. Resta acompanhar como esses mecanismos serão operacionalizados e como os resultados virão na prática.
Vale lembrar que, como artigo de reflexão, este conteúdo não substitui a análise especializada de investimentos ou políticas públicas. Recomendamos seguir a evolução desses instrumentos em fontes oficiais e de confiança.
Para conhecer mais sobre o TFFF, veja a explicação da National Geographic Brasil. Confira aqui. Para mais detalhes sobre o Fundo Amazônia, consulte a página da Greenpeace Brasil sobre financiamento florestal. saiba mais aqui.
Com isso, esperamos que você tenha um panorama claro dessas iniciativas que podem transformar a forma como valorizamos e financiamos as florestas tropicais — e, em especial, a Amazônia.


































