Durante a mais recente fase da Operação Maravalha, agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) flagraram o uso ilegal de madeira de castanheira (Bertholletia excelsa) em uma indústria madeireira no estado. A espécie, considerada símbolo da Amazônia e fundamental para a biodiversidade, tem seu corte proibido pelo Decreto Federal nº 5.975/2006.

Na fiscalização, realizada em Boa Vista, os agentes encontraram aproximadamente 120 metros cúbicos de castanheira armazenados em toras. Mas não era apenas um estoque irregular: fragmentos e resíduos da madeira espalhados pela serraria evidenciaram que o material vinha sendo processado de forma clandestina. A descoberta levou ao embargo imediato das atividades da empresa, apreensão da madeira e aplicação de multa.
Esse flagrante não é um caso isolado. De acordo com o Ibama, apenas nesta etapa da Operação Maravalha foram apreendidos 430 metros cúbicos de madeira extraída ilegalmente e anulados 3.200 metros cúbicos de créditos florestais inseridos de forma fraudulenta no Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais (Sinaflor). Esses créditos, quando manipulados, criam uma fachada de legalidade que serve para “esquentar” madeira sem origem comprovada, mascarando crimes ambientais e dificultando a rastreabilidade.
No total, 12 autos de infração foram lavrados, resultando em R$ 1,43 milhão em multas aplicadas contra empresas e indivíduos envolvidos em fraudes.

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O simbolismo da castanheira
A presença da castanheira nessa cadeia ilegal chama atenção especial. Considerada “árvore-mãe” da Amazônia, ela pode viver séculos, chegando a ultrapassar 50 metros de altura. Seu fruto, a castanha-do-pará, é uma das principais fontes de renda sustentável para comunidades extrativistas, além de ser importante para a alimentação da fauna da floresta. Justamente por esse papel ecológico e econômico, o corte da espécie é proibido, salvo em situações muito específicas de autorização governamental.
Quando indústrias madeireiras optam por usar castanheiras como matéria-prima, não apenas cometem crime ambiental, mas também inviabilizam cadeias produtivas sustentáveis e colocam em risco espécies que dependem das árvores para sobreviver.
O impacto econômico da ilegalidade
Os dados revelados pela operação expõem uma engrenagem nociva que vai além da destruição ambiental. O comércio ilegal de madeira movimenta capital que financia outras práticas criminosas, como grilagem e desmatamento em áreas de floresta primária. Ao fraudar sistemas de controle como o Sinaflor, empresas burlam a fiscalização, reduzem custos de forma artificial e desequilibram a concorrência com produtores que atuam dentro da legalidade.
Segundo a Superintendência do Ibama em Roraima, o combate a essas fraudes é essencial para interromper o fluxo de recursos que alimenta o desmatamento ilegal. Trata-se, portanto, de uma medida não apenas ambiental, mas também econômica e social, já que a degradação florestal impacta comunidades locais, reduz a oferta de serviços ambientais e compromete políticas públicas de conservação.
Operação Maravalha: continuidade e resultados
Deflagrada em diferentes estados da Amazônia, a Operação Maravalha tem como foco a identificação de fraudes no sistema de controle florestal e o desmantelamento de cadeias produtivas ilegais. Em Roraima, as equipes federais intensificaram as fiscalizações justamente porque o estado se tornou rota estratégica para escoamento de madeira extraída de forma irregular.
O Ibama destaca que os resultados obtidos até aqui mostram a necessidade de manter vigilância constante. Mais do que aplicar multas, as operações buscam desarticular estruturas criminosas e inibir a reincidência, sinalizando que o monitoramento é cada vez mais sofisticado e integrado.
Um desafio permanente
Apesar dos avanços, o enfrentamento aos crimes ambientais na Amazônia continua a ser um desafio de grandes proporções. A extensão territorial, as rotas clandestinas e os interesses econômicos envolvidos tornam a fiscalização uma tarefa complexa. Ainda assim, cada operação bem-sucedida envia uma mensagem clara: a exploração ilegal de espécies protegidas não será tolerada.
No caso das castanheiras de Roraima, a ação do Ibama representa mais do que a aplicação da lei. Ela reafirma o compromisso de proteger uma árvore que simboliza a floresta amazônica e garantir que sua riqueza permaneça como fonte de vida e sustento para as futuras gerações.









































