Embrapa lança ferramenta digital para gestão florestal em sistemas integrados de produção


Uma nova versão com alta tecnologia da planilha eletrônica para inventário florestal em sistemas de Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF) foi desenvolvida e disponibilizada pela Embrapa Florestas, localizada no Paraná. Essa ferramenta, projetada para ser utilizada no Excel, surgiu de uma necessidade observada durante cursos e interações com técnicos e produtores rurais. Seu principal objetivo é fornecer um suporte robusto para o planejamento e a tomada de decisões no que tange ao plantio e ao manejo de árvores dentro desses sistemas integrados. A boa notícia é que a planilha pode ser baixada gratuitamente diretamente na página oficial da Unidade.

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Inovação para o campo: o coração da gestão florestal

 

A Planilha para Inventário Florestal no sistema de ILPF se destaca por sua notável aplicabilidade prática. Segundo Vanderley Porfírio da Silva, pesquisador da Embrapa Florestas, a etapa de inventário florestal é de suma importância em sistemas ILPF, especialmente para aqueles que buscam a certificação Carne Carbono Neutro (CCN).

Screenshot-2025-07-30-113217 Embrapa lança ferramenta digital para gestão florestal em sistemas integrados de produção
Fonte: EMBRAPA

Ele explica que o inventário é a base para coletar informações cruciais que permitem avaliar o crescimento das árvores e estimar o carbono acumulado. Esses dados são essenciais para comprovar a neutralização das emissões de metano entérico dos bovinos em sistemas silvipastoris. Porfírio da Silva ressalta que, apesar de sua relevância, a prática do inventário sempre gera dúvidas sobre a melhor forma de ser executada. Por essa razão, a planilha foi pensada para atender extensionistas, consultores e outros profissionais que acompanham ou prestam consultoria a projetos de ILPF.

Tecnologia: descomplicando o inventário

 

O funcionamento da ferramenta é bastante intuitivo. O usuário insere informações básicas da área, como o arranjo espacial definido para o sistema, e a planilha automaticamente calcula o número de árvores que devem existir na área. Com essa densidade de plantio o número de árvores por hectare, a planilha também calcula parâmetros necessários para o inventário florestal, como o tamanho de parcelas, o número e a distância entre parcelas a serem instaladas no campo.

Essa automatização simplifica a execução do inventário, garantindo a geração de dados precisos. Esses dados são particularmente úteis para serem empregados nos softwares SisILPF, que são simuladores de crescimento florestal, produção de madeira e captura de carbono para diversas espécies.

Edilson Oliveira, também pesquisador da Embrapa Florestas, enfatiza que a planilha “ajuda a definir uma amostragem precisa e suficiente, mesmo em sistemas com grande variabilidade de arranjos espaciais de plantio”. Ele acrescenta que, além de ser útil para o inventário de áreas já implantadas, a ferramenta pode ser utilizada para simulações que auxiliam o produtor a planejar o sistema, permitindo que as melhores opções de implantação de sua área de ILPF sejam levadas a campo.

Monitoramento contínuo e sustentabilidade

 

Com a introdução dessa ferramenta, torna se viável o estabelecimento de parcelas de avaliação permanentes, capazes de gerar dados contínuos sobre o desempenho das árvores. Essa funcionalidade não apenas contribui para um manejo florestal sustentável, mas também para o monitoramento dos impactos ambientais positivos do ILPF. Entre esses impactos, destacam se o conforto térmico animal e o sombreamento sobre pastagens, que são benefícios diretos da presença de árvores no sistema.

SisILPF: a inteligência por trás da integração

 

Os SisILPF representam um conjunto de softwares que oferecem suporte essencial para as atividades de planejamento, manejo e análise econômica do componente florestal nos sistemas ILPF. Eles concedem aos usuários a capacidade de testar, para cada condição de clima e solo, todas as opções de manejo do componente arbóreo desse tipo de sistema, proporcionando uma visão abrangente e detalhada.

Esses softwares geram tabelas de sortimento de madeira por classes de utilização industrial, como laminação, serraria, madeira roliça para postes e cercas, e energia. Essa categorização é feita em função de diâmetros e comprimentos de toras que o próprio usuário pode indicar, o que permite uma personalização de acordo com as necessidades. Além disso, os SisILPF calculam o carbono capturado pelas árvores e o equivalente em CO2 e metano, fornecendo uma métrica clara dos benefícios ambientais. Também emitem gráficos com estimativas do número de animais que podem ter a emissão de metano compensada pelas árvores do ILPF, consolidando a sinergia entre pecuária e floresta.

Atualmente, existem versões do software para sistemas integrados com as seguintes espécies florestais: Eucalyptus benthammii, Eucalyptus dunnii, Eucalyptus urograndis, Pinus elliottii, Pinus taeda, Cedro, Mogno e Teca, abrangendo uma variedade de opções para diferentes contextos.

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Fonte: EMBRAPA

A jornada da Carne Carbono Neutro

 

Desde meados dos anos 2000, a pecuária bovina brasileira tem enfrentado crescentes pressões internacionais, principalmente em razão de seus impactos ambientais. As principais preocupações giram em torno da associação com o desmatamento e dos baixos índices zootécnicos, que historicamente resultavam em uma carne com uma alta pegada de carbono.

Para responder a esses desafios e transformar a imagem da pecuária nacional, a Embrapa desenvolveu, em 2012, a marca conceito Carne Carbono Neutro (CCN). Essa iniciativa inovadora tem como proposta a produção de carne bovina com emissões de metano compensadas pelo sequestro de carbono em árvores integradas aos sistemas pastoris. Exemplos notáveis incluem a integração pecuária floresta (IPF) e a integração lavoura pecuária floresta (ILPF). Além de mitigar as emissões, a CCN promove o bem estar animal com maior conforto térmico, proporcionado pela sombra das árvores, evidenciando uma abordagem multifacetada e sustentável.

A marca CCN, registrada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em 2016, após o depósito em 2013, é fundamentada em um protocolo auditável. Este protocolo garante a produção de carne em áreas agropecuárias consolidadas, com a premissa fundamental de zero desmatamento e zero uso de fogo. O rigoroso protocolo assegura não apenas a neutralização das emissões de gases de efeito estufa, mas também o bem estar animal e a qualidade do produto final. Para ampliar seu alcance e reconhecimento global, a marca conta com versões da logomarca em português e inglês.

Protocolo CCN

 

O protocolo CCN foi testado em fazendas localizadas em importantes biomas brasileiros, como Cerrado, Amazônia e Mata Atlântica. Ele integra um conjunto de boas práticas agropecuárias, bem estar animal, compensação de emissões, rastreabilidade e padrões específicos para frigoríficos, garantindo uma abordagem holística e completa. A iniciativa está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especificamente os de número 2 (erradicar a fome), 12 (garantir padrões de consumo e produção sustentáveis) e 13 (ações de enfrentamento às mudanças climáticas).

Adicionalmente, o protocolo fomenta a transparência e a gestão eficiente em toda a cadeia produtiva, em perfeita consonância com a agenda ESG (Ambiental, Social e Governança).

Roberto Giolo, pesquisador da Embrapa Gado de Corte e um dos idealizadores da iniciativa, destaca que “a marca CCN agrega valor à carne, beneficiando toda a cadeia, do produtor ao consumidor, com foco na sustentabilidade e na redução de impactos ambientais”. Ele conclui que “isso fortalece a competitividade da pecuária brasileira nos mercados interno e externo, melhorando sua reputação global”, consolidando a CCN como um diferencial estratégico e sustentável.

Fonte: Portal EMBRAPA