O debate sobre licenciamento e avaliação de impacto ambiental ganhou novo fôlego em Brasília com a realização do 7º Congresso Brasileiro de Avaliação de Impacto, o CBAI 2025. Em sua maior edição, o encontro reuniu mais de 500 participantes de todo o país e consolidou-se como o principal espaço nacional dedicado a discutir como o Brasil pretende equilibrar desenvolvimento econômico, proteção ambiental e respostas às urgências climáticas.

Organizado pela Associação Brasileira de Avaliação de Impacto em parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e a Universidade de Brasília, o congresso ocupou a capital federal com especialistas, pesquisadores, representantes de governos, membros do setor privado, organizações da sociedade civil e integrantes do Ministério Público. O encontro foi marcado por um sentimento comum: em um país onde conflitos ambientais se multiplicam e onde a pressão por flexibilização de regras ambientais cresce, discutir licenciamento não é apenas uma tarefa técnica — é um debate sobre o futuro do território brasileiro.
O Ibama teve participação central na programação, levando cerca de 80 servidores para acompanhar mesas-redondas, minicursos e sessões temáticas. O instituto também esteve presente nas apresentações de pesquisas e estudos técnicos que tratam de modelagens ambientais, metodologias de impacto, gestão territorial e aperfeiçoamento de ferramentas regulatórias.
A liderança do encontro ficou sob responsabilidade do analista ambiental Cristiano Vilardo, presidente desta edição do congresso. Ao sintetizar a relevância do evento, Vilardo destacou que o crescimento do CBAI reflete o amadurecimento de toda a comunidade de avaliação de impacto no país. Para ele, o acúmulo de conhecimento construído nas últimas décadas precisa ser colocado no centro dos debates sobre modernização das políticas e práticas de licenciamento ambiental — especialmente em um momento em que essas políticas enfrentam pressões contraditórias.

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A mesa de abertura contou com a presença da diretora de Licenciamento Ambiental do Ibama, Claudia Barros, que reforçou o papel estruturante do licenciamento dentro da Política Nacional do Meio Ambiente. Segundo ela, é por meio desse instrumento que o Estado define condições, medidas e salvaguardas para empreendimentos com potencial de causar poluição ou degradação ambiental. Em outras palavras, o licenciamento não é apenas uma etapa burocrática: é a fronteira entre o desenvolvimento necessário e o risco irreversível para ecossistemas estratégicos.
O CBAI 2025 se destacou não apenas pelo número de participantes, mas pela profundidade das discussões. Professores universitários, gestores públicos, consultores ambientais e representantes do setor empresarial compartilharam diagnósticos sobre velhos desafios — falta de recursos humanos nos órgãos ambientais, demora nos processos, disputas políticas — e novos impasses trazidos pela emergência climática.
O tema central do congresso, “50 Anos de Licenciamento Ambiental no Brasil: novos e velhos desafios para o futuro da Avaliação de Impacto”, funcionou como fio condutor para reflexões que atravessaram desde o legado histórico das normas brasileiras até as perspectivas abertas por tecnologias emergentes, como modelagem de cenários climáticos, sensoriamento remoto e ferramentas digitais de análise territorial.
Ao longo dos debates, uma inquietação fez eco entre os especialistas: como garantir que o licenciamento ambiental permaneça como um instrumento robusto diante da recente reforma da legislação, que redesenhou etapas, procedimentos e responsabilidades? Para muitos participantes, a mudança normativa não pode significar retrocesso na proteção ambiental nem fragilização das salvaguardas socioambientais. Pelo contrário, o momento exige que a avaliação de impacto seja fortalecida como base para decisões transparentes e sustentáveis.
Outro eixo recorrente foi o papel dos órgãos ambientais num país que já sente, de maneira direta, os efeitos da crise climática. As chuvas extremas, secas prolongadas, incêndios e perdas de biodiversidade foram citados como lembretes de que cada etapa do licenciamento precisa incorporar cenários de risco que antes não estavam tão presentes. Assim, discutir impacto ambiental hoje é discutir adaptação, mitigação e governança climática.
O congresso terminou com a sensação de que a agenda de avaliação de impacto no Brasil está entrando numa fase decisiva. A comunidade técnica está mais qualificada, o país está pressionado por eventos climáticos cada vez mais severos e a sociedade exige mais transparência e responsabilidade ambiental. O CBAI 2025 não ofereceu respostas prontas — e nem pretendia. O que ele ofereceu foi algo mais valioso: o reconhecimento de que o licenciamento ambiental permanece como uma das principais ferramentas para garantir que o desenvolvimento brasileiro não custe o que não pode ser reposto, nem às futuras gerações, nem ao próprio país.







































