A face escondida dos anúncios: como a publicidade enganosa na Meta impacta a saúde mental dos consumidores


Em um mundo cada vez mais mediado por telas, likes e algoritmos, os anúncios publicitários deixaram de ser meras interrupções comerciais e tornaram-se parte integral da experiência digital.

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Publicidade enganosa

A Meta, empresa-mãe de plataformas como Facebook e Instagram, ocupa um lugar de destaque nesse ecossistema — e, como revela uma pesquisa recente, também carrega consigo um papel preocupante: o de catalisadora de danos emocionais e sociais, por meio da veiculação de publicidade enganosa.

A investigação, conduzida por pesquisadores brasileiros e apresentada com riqueza de dados e análise crítica, revela como o ambiente digital tem sido moldado para capturar a atenção e manipular o desejo do consumidor, muitas vezes com base em informações falsas ou omissas. Mais do que identificar práticas abusivas, o estudo oferece uma radiografia de como a publicidade enganosa afeta a percepção de si mesmo, o consumo e até a saúde mental de usuários vulneráveis.

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O ciclo da ilusão: como se constrói o engano

Segundo o estudo, a publicidade enganosa na Meta se apresenta de maneira sofisticada, muitas vezes travestida de “publicidade nativa” ou postagens patrocinadas por “influenciadores”. São comuns os anúncios de produtos com promessas milagrosas de emagrecimento, rejuvenescimento, enriquecimento rápido ou superação de traumas — sem respaldo científico ou jurídico. A ausência de filtros eficazes para esse tipo de conteúdo contribui para um ambiente permissivo, onde a mentira é mais rentável do que a verdade.

O algoritmo da Meta, focado em maximizar engajamento, favorece conteúdos chamativos, ainda que baseados em inverdades. Isso cria um ciclo no qual o conteúdo mais enganoso — e, portanto, mais atrativo — é também o mais promovido, aumentando seu alcance e impacto. O estudo aponta que essa lógica prioriza o lucro em detrimento da integridade e segurança dos usuários.

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Impactos emocionais e comportamentais

A pesquisa destaca que a exposição frequente a esse tipo de publicidade pode causar sérios danos psicológicos, especialmente em públicos vulneráveis como adolescentes, mulheres em busca de padrões estéticos irreais, idosos e pessoas em situação de endividamento. O consumo compulsivo, alimentado por falsas promessas, tem gerado frustração, baixa autoestima, ansiedade e, em casos extremos, depressão.

Esses danos não são meramente teóricos. O estudo relata casos reais de indivíduos que compraram produtos ineficazes ou fraudulentos, confiando em anúncios aparentemente legítimos veiculados nas plataformas da Meta. Alguns relataram sensação de culpa, perda de confiança em si mesmos e vergonha — especialmente quando não conseguiam reverter os danos financeiros ou físicos causados pelas compras motivadas pela propaganda.

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A responsabilidade da Meta e os desafios da regulação

Um dos pontos mais fortes da análise é a discussão sobre a responsabilidade da Meta como curadora de conteúdo. Os autores argumentam que, ao lucrar diretamente com a publicidade enganosa — cobrando por visualizações, cliques e conversões —, a empresa se torna cúmplice das práticas fraudulentas. Ainda que as políticas da plataforma declarem proibir esse tipo de conteúdo, sua aplicação é ineficaz e frequentemente negligente.

No Brasil, o Código de Defesa do Consumidor e o Marco Civil da Internet estabelecem parâmetros legais para proteger o usuário, mas a velocidade da produção de conteúdo digital e a ausência de fiscalização contínua dificultam a responsabilização das big techs. A pesquisa sugere a necessidade de criação de mecanismos específicos para plataformas digitais, como auditorias obrigatórias, identificação clara de publicidade e sanções mais severas em caso de reincidência.

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Educação midiática e empoderamento do usuário

Mais do que apenas propor regulação, os pesquisadores destacam a importância da educação midiática como ferramenta de empoderamento. Usuários que compreendem como os algoritmos funcionam e que conseguem identificar sinais de propaganda enganosa estão mais protegidos. A pesquisa recomenda campanhas educativas em escolas e redes públicas, com foco na formação crítica de cidadãos digitais.

Outro caminho apontado é o fortalecimento de redes de apoio e denúncia. O estudo defende que as plataformas devem criar canais eficazes, rápidos e acessíveis para que usuários possam reportar abusos e acompanhar o andamento das reclamações. Transparência e prestação de contas, segundo os autores, são elementos indispensáveis para restaurar a confiança no ambiente digital.

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O papel do design e da persuasão

O estudo ainda mergulha em um aspecto muitas vezes ignorado: o design persuasivo. Plataformas como a Meta utilizam estratégias visuais, gamificação e design emocional para conduzir o usuário a ações desejadas — como clicar em um link, seguir um perfil ou realizar uma compra. Quando essas estratégias são aplicadas a conteúdos enganosos, os riscos se multiplicam.

A estética da publicidade enganosa é muitas vezes profissional e cativante, o que dificulta sua identificação como fraude. É comum o uso de depoimentos falsos, logos de instituições de prestígio e testemunhos supostamente científicos. Tudo isso contribui para a construção de um “verniz de credibilidade” que engana até os consumidores mais experientes.

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Reflexões para o futuro digital

Em tempos de hiperconectividade, em que a publicidade está presente em quase todos os momentos do cotidiano digital, compreender seus impactos e limites é um imperativo ético e social. A pesquisa sobre os danos causados pela publicidade enganosa na Meta lança luz sobre uma questão urgente: o equilíbrio entre inovação tecnológica, liberdade de expressão e proteção do consumidor.

O futuro das plataformas digitais dependerá de sua capacidade de conciliar esses valores. Seja por meio de regulação mais firme, da mobilização social ou da evolução de padrões éticos internos, é essencial garantir que o ambiente online não se torne terreno fértil para a exploração da vulnerabilidade humana.

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Autores da pesquisa

A pesquisa foi conduzida por alunos do curso de Direito da Universidade Estácio de Sá: Alessandra Costa Barros, Bárbara Marins Campos, Ingrid Barbosa Lopes, Luana Rosa Gonçalves, Pamela Nascimento de Oliveira, Thaynara de Oliveira Alves e Yuri Tavares dos Santos. A orientação ficou a cargo do professor Ricardo Ferreira dos Santos.