Um dos maiores nomes do tráfico de animais silvestres no Brasil foi finalmente detido em Salvador, após mais de duas décadas de atuação criminosa. O homem, cujo nome não foi divulgado, liderava uma organização responsável por movimentar ilegalmente centenas, e até milhares, de aves, em esquemas que envolviam preços exorbitantes, chegando a R$ 80 mil por exemplar.

A prisão ocorreu durante a Operação Fauna Protegida, coordenada pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA), com apoio da Polícia Civil e da Polícia Militar. A ação foi realizada na capital baiana e também no município de Mascote, no extremo sul do estado. O trabalho é resultado de uma investigação detalhada que apura crimes de tráfico de animais silvestres, maus-tratos, receptação qualificada e lavagem de dinheiro.
O grupo comandado pelo suspeito estruturava uma rede de captura, transporte e venda de aves como estevão, canário, papa-capim, chorão e trinca-ferro. Espécies raras e de canto valorizado eram comercializadas em mercados clandestinos por valores que alcançavam cifras dignas de coleções de luxo.
Com longa ficha criminal, o traficante já havia sido flagrado com cargas gigantescas, como uma apreensão de 1.575 pássaros e centenas de jabutis. No entanto, essa foi a primeira vez que acabou preso por crimes de maior alcance, incluindo associação criminosa e lavagem de dinheiro.
Núcleos bem definidos
As investigações revelaram que a organização funcionava como uma empresa ilegal, com clara divisão de funções em quatro núcleos:
Captores e fornecedores – responsáveis pela caça clandestina e pelo acondicionamento dos animais em áreas rurais da Bahia, em condições precárias.
Transportadores – encarregados de levar as aves até os pontos de venda, submetendo-as a jornadas extenuantes e maus-tratos.
Gestores financeiros – o núcleo que movimentava os lucros obtidos com o crime por meio de contas bancárias usadas para disfarçar a origem do dinheiro.
Receptadores – situados principalmente em Salvador, compravam os animais para revenda, mantendo ativo o mercado paralelo.
Essa engrenagem, segundo o MP-BA, permitia que o tráfico funcionasse de forma organizada e lucrativa, dificultando a atuação das autoridades.

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Dezenas de animais em sofrimento
Durante o cumprimento dos mandados, os policiais encontraram dezenas de galos em situação de maus-tratos, criados para competições ilegais de rinha. O episódio expõe não apenas o comércio clandestino, mas também a crueldade sistemática imposta a diferentes espécies.
Além da prisão do líder, a operação resultou em um mandado de prisão preventiva contra um dos principais fornecedores da quadrilha e em quatro mandados de busca e apreensão em endereços ligados à organização criminosa.
A promotora de Justiça de Meio Ambiente, Aline Salvador, destacou que a operação representa uma resposta firme às práticas que degradam a biodiversidade e violam direitos fundamentais dos animais. Segundo ela, a ação reforça o papel do estado em proteger a fauna como parte essencial de um meio ambiente saudável e equilibrado.
Agora, as investigações prosseguem com foco na coleta de provas adicionais e na formalização da denúncia criminal por crimes de tráfico e maus-tratos de animais, associação criminosa e lavagem de dinheiro.
Mais do que um episódio policial, a prisão do traficante na Bahia lança luz sobre a dimensão do comércio ilegal de fauna no Brasil. Estimulado pela demanda por aves raras e pelo alto valor no mercado clandestino, esse tipo de crime movimenta milhões de reais, gera sofrimento em escala e ameaça diretamente a biodiversidade.
A Operação Fauna Protegida mostra que, com integração entre órgãos de investigação e segurança, é possível desarticular estruturas criminosas que pareciam intocáveis. O caso também chama atenção para a necessidade de políticas permanentes de fiscalização, educação ambiental e combate às redes de exploração da fauna, evitando que novas organizações ocupem o espaço deixado pela prisão desse líder.











































