Prisão na Bahia expõe rede milionária de tráfico de animais


Um dos maiores nomes do tráfico de animais silvestres no Brasil foi finalmente detido em Salvador, após mais de duas décadas de atuação criminosa. O homem, cujo nome não foi divulgado, liderava uma organização responsável por movimentar ilegalmente centenas, e até milhares, de aves, em esquemas que envolviam preços exorbitantes, chegando a R$ 80 mil por exemplar.

Fabíola Sinimbú/Agência Brasi

A prisão ocorreu durante a Operação Fauna Protegida, coordenada pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA), com apoio da Polícia Civil e da Polícia Militar. A ação foi realizada na capital baiana e também no município de Mascote, no extremo sul do estado. O trabalho é resultado de uma investigação detalhada que apura crimes de tráfico de animais silvestres, maus-tratos, receptação qualificada e lavagem de dinheiro.

O grupo comandado pelo suspeito estruturava uma rede de captura, transporte e venda de aves como estevão, canário, papa-capim, chorão e trinca-ferro. Espécies raras e de canto valorizado eram comercializadas em mercados clandestinos por valores que alcançavam cifras dignas de coleções de luxo.

Com longa ficha criminal, o traficante já havia sido flagrado com cargas gigantescas, como uma apreensão de 1.575 pássaros e centenas de jabutis. No entanto, essa foi a primeira vez que acabou preso por crimes de maior alcance, incluindo associação criminosa e lavagem de dinheiro.

Núcleos bem definidos

As investigações revelaram que a organização funcionava como uma empresa ilegal, com clara divisão de funções em quatro núcleos:

  1. Captores e fornecedores – responsáveis pela caça clandestina e pelo acondicionamento dos animais em áreas rurais da Bahia, em condições precárias.

  2. Transportadores – encarregados de levar as aves até os pontos de venda, submetendo-as a jornadas extenuantes e maus-tratos.

  3. Gestores financeiros – o núcleo que movimentava os lucros obtidos com o crime por meio de contas bancárias usadas para disfarçar a origem do dinheiro.

  4. Receptadores – situados principalmente em Salvador, compravam os animais para revenda, mantendo ativo o mercado paralelo.

Essa engrenagem, segundo o MP-BA, permitia que o tráfico funcionasse de forma organizada e lucrativa, dificultando a atuação das autoridades.

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MPBA/Divulgação

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Dezenas de animais em sofrimento

Durante o cumprimento dos mandados, os policiais encontraram dezenas de galos em situação de maus-tratos, criados para competições ilegais de rinha. O episódio expõe não apenas o comércio clandestino, mas também a crueldade sistemática imposta a diferentes espécies.

Além da prisão do líder, a operação resultou em um mandado de prisão preventiva contra um dos principais fornecedores da quadrilha e em quatro mandados de busca e apreensão em endereços ligados à organização criminosa.

A promotora de Justiça de Meio Ambiente, Aline Salvador, destacou que a operação representa uma resposta firme às práticas que degradam a biodiversidade e violam direitos fundamentais dos animais. Segundo ela, a ação reforça o papel do estado em proteger a fauna como parte essencial de um meio ambiente saudável e equilibrado.

Agora, as investigações prosseguem com foco na coleta de provas adicionais e na formalização da denúncia criminal por crimes de tráfico e maus-tratos de animais, associação criminosa e lavagem de dinheiro.

Mais do que um episódio policial, a prisão do traficante na Bahia lança luz sobre a dimensão do comércio ilegal de fauna no Brasil. Estimulado pela demanda por aves raras e pelo alto valor no mercado clandestino, esse tipo de crime movimenta milhões de reais, gera sofrimento em escala e ameaça diretamente a biodiversidade.

A Operação Fauna Protegida mostra que, com integração entre órgãos de investigação e segurança, é possível desarticular estruturas criminosas que pareciam intocáveis. O caso também chama atenção para a necessidade de políticas permanentes de fiscalização, educação ambiental e combate às redes de exploração da fauna, evitando que novas organizações ocupem o espaço deixado pela prisão desse líder.