Na abertura da 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas, realizada em Nova York, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, levou a crise climática ao centro do debate diplomático internacional. Ao discursar nesta terça-feira, 23 de setembro, Lula classificou a próxima COP30, que acontecerá em novembro em Belém, como “a COP da verdade”.

Para o presidente, esse será o momento de avaliar com seriedade o nível de compromisso dos países na luta contra o aquecimento global. Ele alertou que, sem a entrega completa das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), compromissos de cada nação para reduzir emissões de gases de efeito estufa —, o mundo estará “caminhando de olhos vendados para o abismo”.
O desafio da implementação
Lula lembrou que 2024 foi o ano mais quente da história já registrada, reforçando a urgência de implementar o Acordo de Paris, cujo objetivo é limitar o aumento da temperatura média global a 1,5ºC. Ele destacou que o Brasil já apresentou metas robustas: reduzir entre 59% e 67% das emissões até 2030, abrangendo todos os gases e setores da economia.
Segundo o presidente, a COP30 deve marcar a passagem de um ciclo de negociações para uma nova etapa de implementação efetiva. “Será o momento de os líderes mundiais provarem a seriedade de seu compromisso com o planeta”, disse.
Justiça climática e financiamento
Um dos pontos centrais do discurso foi a defesa do financiamento climático para os países em desenvolvimento. Lula argumentou que o chamado Sul Global enfrenta simultaneamente os efeitos da crise climática e desafios estruturais como pobreza e desigualdade. Enquanto isso, países ricos desfrutam de padrões de vida construídos sobre dois séculos de emissões.
Para ele, exigir maior acesso a recursos e tecnologias não é caridade, mas justiça. O presidente destacou que a transição climática só será possível se houver mecanismos financeiros que garantam condições equitativas para todos.

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Fundo Florestas Tropicais para Sempre
Lula apresentou ainda detalhes do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (Tropical Forests Forever Fund – TFFF), iniciativa em elaboração pelo Brasil desde o G20. O objetivo é criar um modelo sustentável de remuneração para os países que preservam suas florestas.
“Ao manter nossas florestas em pé, contribuímos para o equilíbrio do planeta. O fundo vai reconhecer esse esforço e gerar condições para que o desenvolvimento sustentável seja viável”, explicou.
O presidente também lembrou que o Brasil conseguiu reduzir o desmatamento da Amazônia em 50% nos últimos dois anos. Para ele, erradicar essa prática depende de garantir condições dignas de vida para as populações que vivem na região. “Em Belém, o mundo vai conhecer a realidade amazônica”, afirmou.
Clima no centro da ONU
Lula defendeu que a ação climática seja incorporada de forma mais estruturada ao sistema multilateral. Propôs a criação de um conselho vinculado à Assembleia Geral da ONU com legitimidade para monitorar compromissos e dar coerência às políticas internacionais.
“É chegado o momento de passar da fase de negociação para a etapa de implementação. O mundo deve muito ao regime criado pela Convenção do Clima, mas precisamos trazer o combate à mudança do clima para o coração da ONU”, destacou.
Mobilização em torno da COP30
A agenda de Lula em Nova York reforça essa estratégia. Ainda durante a Assembleia Geral, ele copresidiu, ao lado do embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, um evento de alto nível para promover o Fundo Florestas Tropicais para Sempre. A iniciativa tem potencial para transformar a maneira como a comunidade internacional enxerga a conservação ambiental.
No dia seguinte, Lula dividiu a liderança de uma sessão dedicada à Ação Climática e à COP30 com o secretário-geral da ONU, António Guterres. A meta é mobilizar países a apresentarem novas NDCs antes da conferência em Belém, em novembro.
A COP da verdade
Ao chamar a COP30 de “a COP da verdade”, Lula posiciona o encontro de Belém como divisor de águas. Se até agora o debate global esteve marcado por negociações e promessas, o presidente brasileiro quer transformar a próxima conferência em um teste concreto da disposição dos países em agir.
A fala ecoa um sentimento crescente: a era da retórica precisa dar lugar à era da implementação. O Brasil, ao sediar a COP30, pretende mostrar que é possível conciliar desenvolvimento econômico, inclusão social e preservação ambiental. O desafio, no entanto, é convencer o mundo a seguir pelo mesmo caminho.





































