Embora o Brasil lidere as exportações mundiais de carne bovina, a raça zebuína Bos taurus indicus costuma ser vista como menos macia que as taurinas europeias. O trabalho publicado na Scientific Reports aponta soluções que podem mudar esse cenário.
Metodologia multi-ômica: genoma, RNA e proteínas no mesmo pacote
Para ir além de estudos isolados, o grupo de Jaboticabal integrou GWAS, RNA Seq e proteômica. Essa abordagem, conhecida como multi omics, mapeia desde variações de DNA até a produção de proteínas, permitindo enxergar redes biológicas completas, e não apenas genes individuais.
A coleta de amostras musculares logo após o abate garantiu dados confiáveis sobre características de carcaça e carne. Entre os marcadores identificados:
- FRZB, IGFBP5 e SEMA6C: associados à maciez via regulação de crescimento celular.
- CAND1, ACTN4 e FGFR2: ligados ao marmoreio (gordura intramuscular) e sabor.
- Genes de choque térmico: influenciam na manutenção da estrutura muscular pós abate.
- Genes de remodelamento metabólico: determinam a espessura da gordura subcutânea, indicador de rendimento.
Benefícios práticos para produtores e frigoríficos
A nova lista de marcadores permite que centros de inseminação, criadores e programas de melhoramento selecionem animais com DNA pró maciez e alto rendimento antes mesmo do nascimento. Isso reduz custos de teste, acelera ganhos genéticos e aumenta a competitividade do Brasil no mercado premium.
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Segundo a doutoranda Gabriela Frezarim, primeira autora do artigo, a integração de dados “abre a porta para chips genômicos ainda mais precisos, que poderão ser incorporados às avaliações do PMGRN e de associações de criadores”.
Entrevista exclusiva com a coordenadora do projeto
Lucia G. Albuquerque, professora da FCAV Unesp, explica que o estudo “mostra que variáveis ômicas combinadas são a chave para destravar características complexas como maciez. Agora, queremos testar protocolos de seleção em escala comercial”.
“Quando entendemos a rota do gene à proteína, criamos atalhos para gerar animais mais úteis ao consumidor e ao meio ambiente.” — Lucia G. Albuquerque
Impacto ambiental e sustentabilidade na cadeia da carne
Animais mais eficientes e com carcaças superiores significam menor pegada de carbono por quilo de carne, tema central em fóruns como a COP. O estudo fortalece iniciativas de produção sustentável e atende à demanda de compradores internacionais por transparência genética.
Próximos passos: da pesquisa ao prato do consumidor
O time da Unesp pretende ampliar as análises para 30 mil animais e incorporar metabólitos (metabolômica) às avaliações. A meta é lançar, nos próximos anos, um painel comercial de DNA que aponte Índice de Qualidade da Carne (IQC) Nelore, ajudando fazendas de todo o Brasil a elevar seu padrão.
A curto prazo, frigoríficos parceiros já estudam programas de bonificação para carcaças com melhores escores de marmoreio e maciez, impulsionando a adoção dos novos marcadores ao longo da cadeia produtiva.
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