Mata Atlântica ganha voz na COP30 para defender seu futuro


O bioma da Mata Atlântica ocupa apenas frações do que foi — cerca de 70 % da cobertura original já se perdeu —, mas continua exercendo um papel essencial para o Brasil: abriga a maior parte da população urbana, forma bacias hidrográficas vitais, regula o clima e guarda milhares de espécies que não existem em outro lugar. Na próxima COP30, que será realizada de 12 a 16 de novembro em Belém (PA), esse papel estratégico ganha voz no espaço da Casa da Mata Atlântica, promovido pela Rede de ONGs da Mata Atlântica (RMA) na Universidade da Amazônia (UNAMA). Ali serão reunidos pesquisadores, ativistas, lideranças comunitárias, artistas e gestores públicos para reafirmar que conservar o que resta da Mata Atlântica é indispensável — e que restaurar por si só não basta se as florestas maduras continuarem sob ataque.

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“Não basta restaurar o que foi destruído. É preciso garantir que o que ainda existe seja efetivamente protegido”, afirma Tânia Martins, coordenadora-geral da RMA. A voz da rede revela uma lógica simples, mas frequentemente ignorada em meio às agendas de restauração: gastar esforços em recuperação de áreas já degradadas tem valor — mas se a floresta remanescente for deixada à mercê do desmatamento, todo o trabalho de recomposição corre risco de se anular.

Isso porque os dados mais recentes compilados pela Fundação SOS Mata Atlântica mostram que parte das áreas em regeneração acaba voltando a sofrer supressão poucos anos depois. Em paralelo, as formações maduras restantes seguem sob intensa pressão. A combinação é letal: um bioma que já perdeu quase 70 % da sua cobertura original enfrenta não só a necessidade de recuperação, mas também de defesa ativa. A atuação da Fundação lembra que a Mata Atlântica hoje sustenta a vida de milhões no país — e sua relevância vai muito além de belos trechos florestais.

Na Casa da Mata Atlântica, o espaço funcionará como arena de diálogo, mobilização e incidência política. Serão cinco dias de painéis, oficinas, rodas de conversa e atividades culturais, reunindo uma agenda ampla: conservação da biodiversidade, restauração ecológica, justiça climática, bioeconomia, protagonismo feminino nas comunidades florestais, transição energética e arte. Participações como a da jornalista e escritora Cristina Serra, do ministro João Paulo Capobianco, do presidente do Superior Tribunal de Justiça Antonio Herman Benjamin, da atriz e ambientalista Lucélia Santos e do deputado federal Nilto Tatto são apenas exemplos do esforço por reunir vozes diversas em torno do bioma.

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É significativo que esse movimento aconteça durante a COP30 — evento com foco maior na Amazônia — pois revela a interdependência dos biomas brasileiros. A Mata Atlântica, embora menos extensa, congrega parte expressiva da vida urbana, da economia nacional e da disponibilidade hídrica. E enquanto a floresta amazônica exerce papel planetário, a Mata Atlântica sustenta o Brasil urbano, suas cidades e seu cotidiano. Em outras palavras, sem a Mata Atlântica em bom estado, as demais estratégias climáticas nacionais ficam incompletas.

O evento funcionará também como vitrine para a construção coletiva de uma agenda que vai além do técnico: traz o protagonismo das organizações da sociedade civil que há décadas atuam no bioma. Na Casa estarão presentes entidades como FUNBEA – Fundação Universitária para o Meio Ambiente e a Educação, REBEA – Rede Brasileira de Educação Ambiental, Associação Mico‑Leão‑Dourado AMLD, Sociedade Ecológica Renovar SER, Instituto 5 Elementos de Educação Ambiental, entre dezenas de outras redes e movimentos. Essa articulação reforça que a defesa da Mata Atlântica é feita por uma rede de coletivos que atuam desde a educação ambiental até a justiça climática, passando pela restauração ecológica, economia verde e pelos territórios das comunidades tradicionais.

Além da mesa de debates, serão realizadas oficinas sobre biomimética, rodas de conversa sobre educação ambiental e protagonismo de mulheres, e uma feira da restauração que culminará com uma “Marcha pelo Clima”. O encerramento será com o evento musical “Música da Floresta”, simbolizando a convergência entre natureza, arte e mobilização. A programação reflete a premissa de que conservar florestas e restaurar paisagens não são ações solitárias: são partes de uma narrativa maior, cujo êxito depende da convergência entre ciência, política, sociedade e cultura.

A mensagem que a Casa leva à COP30 é clara: conservar as florestas que resistem ainda pode ser mais eficaz, em termos de vida e clima, do que focar apenas em restaurar o que foi perdido. A restauração é indispensável, mas ela vai produzir resultados reais somente se vier acompanhada de proteção, governança robusta, participação social e desenho institucional adequado. Como a RMA assinala, a urgência não está apenas no que fazer, mas no como fazer — e sobretudo o quê proteger.

De fato, a Mata Atlântica resiste como infraestrutura ecológica vital para o país. É ali que nascem muitas das águas que abastecem nossas cidades, que se regula o clima nos centros urbanos, que a biodiversidade encontra refúgio — mesmo quando fragilizada. Defender esse bioma, portanto, é defender o Brasil que queremos: justo, resiliente e em equilíbrio com sua natureza. E a Casa da Mata Atlântica pretende ser o palco dessa defesa — não como um evento pontual, mas como um catalisador de alianças, compromissos e práticas que se estendam além da semana da COP.

SERVIÇO

Casa da Mata Atlântica – COP30
Local: Universidade da Amazônia (UNAMA), Av. Alcindo Cacela, 287, Umarizal, Belém (PA)
Data: 12 a 16 de novembro de 2025