A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) decidiu suspender, por 30 dias, todas as autorizações para queimas controladas no território paulista. A medida, em vigor desde o dia 28 de agosto, interrompe temporariamente práticas comuns na agricultura, como a queima da palha da cana-de-açúcar, o uso do fogo para manejo agrícola e o controle de pragas. A decisão, de caráter emergencial e preventivo, busca reduzir os riscos de incêndios florestais, cuja incidência costuma aumentar nesta época do ano, marcada pela estiagem severa.

Historicamente, os meses de agosto e setembro concentram grande número de focos de incêndio em São Paulo e em outros estados do Brasil. O ar mais seco, aliado à baixa umidade relativa e à vegetação ressecada, cria um cenário altamente propício para a propagação das chamas. Até julho, a queima da palha da cana ainda era autorizada em situações específicas — apenas quando a umidade estava acima de 40% e fora do período mais crítico do dia, entre 11h e 15h. Agora, todas as liberações estão suspensas, sem exceção.
Segundo o diretor de Controle e Licenciamento da Cetesb, Adriano Queiroz, a suspensão segue o padrão adotado em anos anteriores, em que a instituição recorreu à mesma estratégia para reduzir danos durante a estiagem. Ele explica que a prioridade é a proteção da saúde pública e a preservação do meio ambiente: atravessar os meses mais críticos sem permitir que o fogo, autorizado ou não, se torne um risco ampliado para comunidades e áreas de preservação.
Essa atuação integra o Programa SP sem Fogo, uma política permanente do estado voltada à prevenção e ao combate de incêndios florestais. O programa articula ações de monitoramento, capacitação de brigadas locais e campanhas de conscientização junto a produtores rurais e comunidades próximas a áreas verdes. A iniciativa não apenas responde a emergências, mas procura criar uma cultura preventiva, reduzindo a dependência de medidas restritivas de última hora.
A decisão da Cetesb também dialoga com experiências recentes. Em 2024, o Brasil viveu uma crise climática particularmente severa, com índices alarmantes de queimadas e qualidade do ar em queda livre nos meses de agosto e setembro. A combinação de tempo seco, altas temperaturas e concentração de poluentes nas grandes cidades deixou marcas profundas, inclusive no aumento de internações hospitalares ligadas a problemas respiratórios.

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O cenário sem queimadas
Em 2025, no entanto, o cenário parece caminhar em outra direção. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), obtidos pelo Programa Queimadas, mostram que São Paulo registrou uma queda expressiva de 75% no número de focos de calor durante o mês de agosto em comparação com o mesmo período do ano anterior. Entre os dias 1º e 15, foram contabilizados 148 casos, contra 548 no mesmo intervalo de 2024.
Especialistas atribuem essa redução a um conjunto de fatores: investimentos em monitoramento, treinamentos de equipes de resposta locais, políticas mais rigorosas de controle ambiental e condições climáticas um pouco mais favoráveis. Ainda assim, autoridades ressaltam que o risco continua elevado, já que a seca prolongada pode reverter a tendência em questão de dias.
O controle das queimadas em São Paulo vai além de números. Ao reduzir as autorizações, a Cetesb busca não apenas evitar incêndios de grandes proporções, mas também preservar a qualidade do ar, um recurso que afeta diretamente a saúde de milhões de pessoas. Em áreas urbanas, partículas provenientes da queima agrícola contribuem para agravar doenças respiratórias, enquanto em regiões rurais, o fogo descontrolado ameaça lavouras, reservas legais e até infraestruturas próximas.
O desafio, portanto, não é apenas lidar com emergências, mas conciliar a tradição agrícola com as necessidades ambientais e de saúde pública. Nesse ponto, a suspensão das autorizações assume caráter pedagógico: ao restringir práticas historicamente aceitas, o estado reforça a mensagem de que a adaptação a novos padrões climáticos é urgente e inevitável.
Com essa decisão, São Paulo dá um passo no sentido de prevenir tragédias anunciadas, ao mesmo tempo em que sinaliza que o combate às queimadas não pode depender apenas de restrições temporárias. É necessário consolidar políticas de longo prazo, integrando inovação tecnológica, manejo sustentável e educação ambiental. Afinal, a crise climática já demonstrou sua capacidade de transformar um problema agrícola em uma questão de saúde pública e de segurança ambiental.


































