Quem passa por Belém já sente no ar a expectativa: a cidade está se reinventando para receber a COP30, e um dos seus ícones culturais ganha um novo capítulo nessa história. O tradicional Mercado de São Brás está sendo repaginado com um projeto que tem alma amazônica. E o protagonista dessa transformação é um velho conhecido das águas da região: o pirarucu.

Sim, ele mesmo. Gigante, elegante e cheio de simbolismo, o pirarucu não é só um peixe. É alimento, cultura e sustentação de centenas de famílias. E agora, também é arquitetura. Inspirado nas formas, nas escamas e na força desse peixe emblemático, o arquiteto Aurélio Meira assina o projeto do novo mercado com um olhar que mistura tradição, design e sustentabilidade.
Durante uma visita técnica, Nalva Maia, que representa o Gosto da Amazônia em Belém e tem uma relação afetuosa com o pirarucu e tudo que ele representa, bateu um papo com Meira. “Ver um peixe que a gente cresceu vendo na mesa e nos lagos virando referência para um projeto tão lindo é de emocionar. É como se ele estivesse ganhando novas formas de contar a nossa história”, diz ela.
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O projeto não economiza nos detalhes. As coberturas orgânicas lembram o couro do pirarucu, com estruturas alongadas que remetem ao seu corpo poderoso. São formas que respiram com a cidade, que acolhem o movimento, a troca, o encontro. O novo São Brás promete ser mais do que um mercado: vai ser um ponto de conexão entre quem vive a Amazônia e quem quer entendê-la de verdade.
E não para por aí. O manejo do pirarucu — prática desenvolvida por comunidades ribeirinhas e indígenas com apoio de organizações como a ASPROC — é um exemplo de como conservar e produzir podem andar juntos. Essas populações monitoram os lagos, respeitam os ciclos do peixe e garantem uma pesca legal, rastreável e cheia de significado. É a floresta em pé gerando renda e fortalecendo saberes.
Inspirar um espaço urbano com base nesse simbolismo é mais que bonito: é potente. É dar visibilidade para um modelo que funciona, que respeita o tempo da natureza e valoriza o que é nosso. E quando turistas e lideranças globais desembarcarem em Belém em 2025, o pirarucu vai estar lá, silencioso e imenso, recebendo todos com sua história estampada nas linhas de um mercado renovado.
Porque a Amazônia tem muito a ensinar. E o São Brás, agora com escamas e alma de pirarucu, é a prova viva disso.







































