COP30 deve colocar metano no centro das negociações climáticas globais


Na Semana do Clima em Nova York, um tema específico ganhou força entre os especialistas: a urgência em reduzir as emissões de metano, um dos gases de efeito estufa mais potentes e com maior impacto de curto prazo no aquecimento global. A CEO da COP30, Ana Toni, foi categórica ao afirmar que a conferência que acontece em novembro, em Belém, será uma plataforma crucial para avançar nesse debate e pressionar governos e empresas a adotarem medidas mais rápidas e concretas.

CNA/ Wenderson Araujo/Trilux

Durante o Diálogo de Soluções de Alto Nível, realizado em 24 de setembro, Toni destacou que atacar as emissões de metano ligadas ao setor de combustíveis fósseis pode fazer a diferença entre cumprir ou não as metas do Acordo de Paris. Ela lembrou que o gás é responsável por cerca de 30% do efeito estufa global e que reduzir sua presença na atmosfera tem impacto imediato no freio ao aquecimento.

Segundo ela, a COP30 não será apenas um espaço para reafirmações diplomáticas, mas um ponto de virada para colocar o metano no centro da agenda climática. “Precisamos nos concentrar nele. É uma das nossas principais frentes de ação”, afirmou.

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CEO da COP30, Ana Toni, lembra como emissão de metano é responsável por cerca de 30% do efeito estufa. Foto: Rafa Neddermeyer/COP30

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O metano como oportunidade e desafio

A urgência do tema não vem apenas de sua potência climática. Dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) mostram que o metano responde hoje por um terço do aquecimento global causado pela atividade humana. Grande parte dessas emissões vem da produção e do uso de combustíveis fósseis, especialmente petróleo e gás. O dado mais alarmante: cerca de 120 milhões de toneladas de metano seguem sendo liberadas anualmente, e a curva de redução ainda não mostrou avanços expressivos.

Apesar disso, especialistas apontam que o combate ao metano é uma das soluções mais rápidas e baratas disponíveis. Muitas medidas dependem apenas de tecnologia já existente, como a vedação de poços de gás com vazamentos e sistemas de monitoramento por satélite.

Essa visão foi reforçada por Michael Bloomberg, fundador da Bloomberg L.P. e da Bloomberg Philanthropies, que também participou do encontro. Para ele, reduzir as emissões de metano é a melhor chance de fazer progresso imediato contra as mudanças climáticas. “As novas ferramentas de detecção, incluindo satélites, já permitem identificar vazamentos em tempo real. É uma questão de vontade política e de cooperação entre governos, empresas e fundações”, disse.

Caminhos para Belém

O encontro em Nova York também foi espaço para discutir políticas públicas e mecanismos de mercado capazes de acelerar essa transição. A proposta é levar para Belém, em novembro, um conjunto mais robusto de recomendações para incluir a redução do metano dentro da Agenda de Ação Climática da COP30.

Essas recomendações devem dialogar com iniciativas já em andamento, como o Compromisso Global pelo Metano, os planos nacionais incorporados nas NDCs, a Coalizão Clima e Ar Limpo e os compromissos corporativos firmados na Carta de Descarbonização de Petróleo e Gás e no programa OGMP 2.0.

Segundo o PNUMA, o impulso está crescendo, mas ainda precisa ser traduzido em resultados tangíveis. Para a comunidade internacional, a COP30 pode ser o palco decisivo para transformar compromissos voluntários em mecanismos obrigatórios e metas monitoráveis.

A narrativa que emergiu na Semana do Clima é clara: sem cortar o metano, dificilmente será possível limitar o aquecimento a 1,5°C, como prevê o Acordo de Paris. Isso significa que o debate em Belém não será apenas técnico, mas profundamente político.

Governos produtores de combustíveis fósseis serão pressionados a apresentar planos mais agressivos de mitigação, enquanto empresas do setor de energia precisarão mostrar que estão dispostas a investir em tecnologia e a corrigir falhas que hoje mantêm emissões em níveis elevados.

No curto prazo, reduzir o metano é uma das poucas medidas capazes de gerar impacto quase imediato na curva de aquecimento global. A aposta de Ana Toni e de outros líderes é que a COP30 possa catalisar esse movimento, transformando a conferência de Belém em um divisor de águas na luta contra a crise climática.