Novas metas climáticas reduzem em 17% impacto global, mas ainda ficam aquém do necessário


As promessas de corte nas emissões de gases de efeito estufa apresentadas por 64 países sob o Acordo de Paris indicam um avanço, mas ainda insuficiente diante da urgência climática. Segundo o Relatório Síntese das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), divulgado pelo secretariado da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), as novas metas têm potencial para reduzir em 17% o impacto do aquecimento global em relação aos níveis de 2019.

Rovena Rosa/Agência Brasil

A projeção para 2030, contudo, mostra apenas uma diminuição de 6% em relação aos compromissos anteriores — um sinal de que, embora os planos sejam mais abrangentes, a velocidade das transformações ainda está longe da necessária.

O relatório, publicado nesta terça-feira (28), analisa o progresso das ações climáticas nos 198 países signatários do tratado. Mas a amostra ainda é restrita: pouco menos de um terço das nações atualizou suas metas entre janeiro de 2024 e setembro de 2025.

Caso essas NDCs sejam integralmente cumpridas até 2035, a estimativa é de que 13 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO₂e) deixem de ser lançadas na atmosfera. Apesar do ganho expressivo, o documento alerta que a aceleração das ações é indispensável para atingir a neutralidade climática nas próximas décadas.

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As novas metas também apresentam maior amplitude: 89% dos países incluíram compromissos que abrangem toda a economia, e não apenas setores específicos. Além da mitigação, as NDCs passaram a incorporar planos de adaptação, financiamento climático, transferência de tecnologia e medidas para enfrentar perdas e danos — um reflexo do amadurecimento do Acordo de Paris e da interdependência entre economia e meio ambiente.

Para Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, o progresso técnico das metas não deve mascarar a falta de urgência global. “Estamos gerindo uma crise sem a urgência de uma crise. Há algo de profundamente equivocado em celebrar uma queda de 17% nas emissões quando a ciência diz que precisamos de 60%”, afirma.

A crítica é compartilhada por Alexandre Prado, líder de mudanças climáticas do WWF-Brasil. Para ele, o cenário mostra que o mundo segue adiando medidas estruturais e transferindo responsabilidades para as próximas gerações. Ainda assim, Prado destaca avanços promissores na integração de ações de adaptação urbana e soluções baseadas na natureza, como a conservação de manguezais e florestas.

“Essas iniciativas reduzem custos, fortalecem a resiliência das comunidades e geram benefícios que vão além do carbono — como a preservação da biodiversidade, da água e do equilíbrio climático”, observa.

Financiamento climático ainda é gargalo

O relatório também evidencia que o sucesso das metas depende de recursos financeiros. Entre os países que atualizaram suas NDCs, 75% apontam a necessidade de cooperação internacional e de mecanismos inovadores para financiar a transição.

Para Gustavo Souza, diretor sênior de políticas públicas da Conservação Internacional, instrumentos como os mercados de carbono de alta integridade, o REDD+ e o Tropical Forest Forever Facility (TFFF) são essenciais para garantir previsibilidade de recursos.

Apesar do aumento da ambição, Souza lembra que as ações baseadas na natureza ainda recebem uma fração mínima do financiamento climático global. “As florestas representam um terço da solução climática, mas recebem apenas 3% dos recursos disponíveis. Esse desequilíbrio precisa ser corrigido”, adverte.

O papel do Brasil e a expectativa para a COP30

Desde que o país foi confirmado como sede da COP30, em Belém (PA), a presidência brasileira vem estimulando que outras nações atualizem seus compromissos. O Brasil, aliás, foi o segundo país a apresentar sua nova NDC — antes mesmo de o prazo inicial ser prorrogado de fevereiro para setembro de 2025.

Os 64 países citados no relatório foram os que entregaram dentro do novo prazo, deixando de fora grandes emissores como China e Índia.

Com a conferência se aproximando, especialistas alertam que dois terços das novas metas ainda não foram apresentadas. “A menos de duas semanas da COP30, é fundamental que mais países submetam suas NDCs para sinalizar que a ambição coletiva está crescendo e que os objetivos do Acordo de Paris continuam ao nosso alcance”, reforça Souza.

Enquanto a diplomacia se prepara para mais uma rodada decisiva de negociações, o balanço global indica que a luta contra a crise climática avança, mas ainda devagar — como se o mundo tentasse conter uma maré crescente com um balde furado.