Microalga brasileira se destaca na remoção de antibióticos da água e pode ajudar o meio ambiente

Espécie Monoraphidium contortum mostrou eficácia na eliminação de resíduos farmacêuticos comuns e ainda produz biomassa com valor comercial


Uma pesquisa conduzida por cientistas da Universidade Federal do ABC (UFABC), Universidade Federal de Itajubá (Unifei) e Universidade de São Paulo (USP), revelou que a microalga Monoraphidium contortum é capaz de remover resíduos de antibióticos da água, como sulfametoxazol e trimetoprima.

cientistas

Microalga como aliada ambiental

Esses medicamentos estão entre os mais consumidos no Brasil e frequentemente são encontrados em efluentes e corpos d’água devido à ineficiência dos sistemas convencionais de tratamento de esgoto.

Screenshot-2025-06-04-110909 Microalga brasileira se destaca na remoção de antibióticos da água e pode ajudar o meio ambiente
Fonte: Protist Information Server

Testes em ambiente controlado

Os pesquisadores cultivaram a microalga em fotobiorreatores, dispositivos que simulam a luz natural para promover a fotossíntese, e adicionaram os antibióticos ao ambiente de cultivo. Mesmo em contato com os contaminantes, o crescimento da microalga não foi prejudicado. Ela conseguiu remover de 27% a 42% dos resíduos presentes.

Além da remoção dos poluentes, a microalga gerou biomassa com potencial para produção de biodiesel, abrindo caminho para aplicações sustentáveis e economicamente viáveis.

Genética revela potencial de degradação

Outra vertente do estudo, liderada por Marcus Vinicius Xavier Senra, envolveu o sequenciamento do genoma da microalga. Por meio de técnicas de bioinformática, foi identificado um gene ligado à produção de enzimas com potencial para degradar compostos químicos como os antibióticos testados. Isso reforça a capacidade natural da espécie para atuar na descontaminação da água.

Próximos passos: testes em condições reais

Apesar dos resultados promissores, os cientistas destacam que os testes foram realizados em ambientes otimizados de laboratório. O comportamento da microalga em condições reais, como nos efluentes reais de estações de tratamento de esgoto, ainda precisa ser investigado. “As condições fora do laboratório são mais complexas e desafiadoras. Ainda estamos longe da aplicação prática, mas os dados são encorajadores”, afirmou Marcelo Chuei Matsudo, professor da UFABC e autor principal do artigo.

Um desafio urgente para saúde e natureza

Antibióticos descartados no meio ambiente representam uma ameaça crescente. Eles não são completamente metabolizados por humanos e animais, sendo eliminados por urina e fezes. Quando chegam às estações de tratamento, muitas vezes passam sem ser filtrados, contaminando rios, lagos e solos. Isso contribui para o surgimento de bactérias resistentes, um risco grave à saúde pública.

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Fonte: CRF-RO

As alternativas existentes para remover esses micropoluentes, como ozonização e carvão ativado, são caras e podem gerar subprodutos tóxicos. Nesse cenário, a biorremediação com microalgas surge como uma solução inovadora, de baixo custo e ecologicamente segura.