Um relatório inédito, divulgado na quarta-feira (14/8) pela revista Earth System Science Data, traz um panorama alarmante sobre os incêndios florestais globais entre 2023 e 2024. Intitulado State of Wildfires, o documento revela como as mudanças climáticas, agravadas por ações humanas, têm intensificado o comportamento das queimadas em todo o mundo, com a Amazônia se destacando como uma das regiões mais impactadas.
O relatório aponta que as alterações climáticas elevaram em até 20 vezes a probabilidade de condições propícias para incêndios florestais de grande magnitude na Amazônia Ocidental, entre março de 2023 e fevereiro de 2024. Segundo informações do UOL, o estado do Amazonas viu o fogo se expandir para áreas anteriormente preservadas, com um aumento de 200% na extensão das áreas atingidas desde 2002, conforme relata o portal Um Só Planeta.
Com a participação de 44 cientistas, o estudo mostra que, embora a área total queimada no mundo tenha se mantido próxima à média histórica, cerca de 3,9 milhões de km², equivalente a quase 60% da Amazônia. As emissões globais de CO2 decorrentes dos incêndios subiram 16% acima da média, atingindo 8,6 bilhões de toneladas. Este número é quase quatro vezes superior às emissões anuais totais do Brasil, considerando todos os setores econômicos.
Na Amazônia, eventos extremos de fogo e seca, como os registrados entre setembro e outubro de 2023, têm atualmente uma probabilidade de ocorrer a cada seis anos, de acordo com o relatório. No entanto, se as emissões de gases de efeito estufa continuarem elevadas, essa chance poderá aumentar para 21% até o final do século.
O estudo conclui que é “virtualmente certo” que a força climática amplificou em até 49,7% a área queimada na Amazônia Ocidental, e é “muito provável” que fatores socioeconômicos, como desmatamento e expansão agrícola, tenham agravado essa tendência. Além das secas prolongadas, a ação humana direta, incluindo a fragmentação de paisagens naturais, também desempenhou um papel significativo no aumento dos incêndios.
As previsões para o próximo relatório State of Wildfires são sombrias, especialmente para o Brasil. Os indicadores de incêndios na Amazônia e no Pantanal têm alcançado níveis recordes em 2024. No estado do Amazonas, por exemplo, foram registrados 3.968 focos de calor apenas nos primeiros 13 dias de agosto, principalmente no sul do estado, conforme noticiado pela Agência Cenarium e Amazônia Real. Em comparação, agosto de 2023 teve 1.220 focos.
O presidente do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM), Juliano Valente, destacou que 80% dos incêndios no estado têm origem criminosa, relacionados à expansão agrícola e à grilagem de terras. Municípios como Autazes, Apuí e Novo Aripuanã estão entre os mais atingidos. Até o momento, três pessoas foram presas em flagrante por crimes ambientais.
Em resposta à crise, o governador do Amazonas, Wilson Lima, anunciou um aumento de 55% nas diárias dos servidores que atuam no combate aos incêndios, a contratação imediata de 85 novos brigadistas e a convocação de 200 bombeiros que estão em treinamento. Esses reforços se juntarão aos 365 servidores estaduais que já estão na linha de frente no combate ao fogo, conforme informado pelos portais Amazonas Atual e BNC Amazonas.
Fonte: ClimaInfo