Mulheres transformam a Amazônia com empreendedorismo sustentável


O avanço da bioeconomia no Pará tem revelado um movimento cada vez mais visível: mulheres de comunidades tradicionais assumindo o protagonismo da transformação econômica da floresta. Artesãs, agricultoras, extrativistas e produtoras têm mobilizado saberes ancestrais, práticas de cultivo sustentável e inovação comunitária para construir alternativas de renda que, ao mesmo tempo, reforçam a preservação da Amazônia. Por trás desse cenário está um conjunto crescente de políticas públicas estruturadas pelo Governo do Pará que investem no fortalecimento de empreendimentos femininos e no estímulo ao uso responsável dos recursos naturais.

Foto: Bruno Cecim / Ag.Pará

Um dos marcos dessa agenda é o Plano Estadual de Bioeconomia (PlanBio) lançado em 2022 e concebido como uma política estratégica permanente. O PlanBio estabeleceu um ecossistema de fomento que articula planejamento ambiental, inclusão social e estímulo à economia da floresta. Apenas até outubro de 2025, o programa já mobilizava cerca de R$ 600 milhões em investimentos diretos, alcançando mais de 400 mil pessoas e impulsionando mais de dois mil negócios, muitos deles comunitários e liderados por mulheres.

Esses números ganham vida quando associados às histórias de empreendedoras como Gleicy Melo, agricultora de 26 anos, ribeirinha de Portel e integrante da Cooperativa Marajó. Ela produz farinha e outros itens derivados da agricultura familiar e relata como o avanço das políticas de bioeconomia trouxe visibilidade e reconhecimento. A cooperativa passou a fornecer alimentos para a merenda escolar e ampliou sua presença em mercados locais, o que demonstra a capacidade da bioeconomia de conectar produção tradicional com cadeias contemporâneas de valor. Para Gleicy, a força das mulheres ribeirinhas é hoje parte essencial da economia de Portel, mostrando como a bioeconomia é também uma estratégia de afirmação territorial e cultural.

A diretora de Bioeconomia da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade (Semas), Iara Menezes, destaca que os programas estaduais colocam a inclusão feminina no centro das ações. Para ela, o PlanBio estimula modelos de negócios liderados por mulheres e jovens, fortalecendo a autonomia financeira e incentivando soluções que unem inovação social e sustentabilidade. Mulheres não apenas participam desse processo; elas o conduzem. São lideranças na tomada de decisão, na gestão dos empreendimentos e na articulação das redes produtivas que conectam comunidades, mercados e instituições públicas.

Essa visão se materializa na expansão de projetos como o Parque de Bioeconomia da Amazônia, inaugurado no Complexo Porto Futuro, em Belém. Esse centro, impulsionado com recursos estaduais, atua como espaço de experimentação, formação e incubação de iniciativas sustentáveis. É um polo que busca orientar negócios comunitários a competir em novos mercados, oferecendo estrutura e apoio técnico.

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Foto: Bruno Cecim / Ag.Pará

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Outra política essencial é a atuação da Secretaria de Estado de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster), que tem promovido capacitações voltadas à valorização do artesanato tradicional e ao fortalecimento da autonomia econômica das artesãs. Até o momento, 73 mulheres de comunidades quilombolas receberam formação em diferentes regiões do Estado, incluindo Marajó, Baixo Amazonas, Guamá, Rio Caeté e Rio Capim. Essas ações incluem desde treinamentos técnicos até estratégias de acesso a mercados nacionais e internacionais.

A coordenadora de Empreendedorismo e Economia Solidária da Seaster, Silvia Reis da Silva, ressalta o papel do Programa do Artesanato Brasileiro (PAB) na ampliação das oportunidades comerciais e no reconhecimento social das artesãs. Ao celebrar o protagonismo feminino, ela observa que essas políticas não atuam apenas na lógica econômica, mas também fortalecem autoestima, relações comunitárias e identidade cultural.

Histórias como a de Andréa Mendes, fundadora do Coletivo Artesãs Empoderadas da Cabanagem, revelam essa dimensão simbólica. Ela conta que, desde 2021, ao trabalhar com produtos da floresta e reciclagem, viveu uma transformação que vai além da renda: uma transformação pessoal e coletiva. Para Andréa, impulsionar outras mulheres e ser impulsionada por elas é um ciclo virtuoso que renova a energia criativa das comunidades e reforça o papel central da arte e do extrativismo sustentável na economia amazônica.

O que emerge desse mosaico é mais do que um conjunto de programas governamentais. É a consolidação de um novo modelo de desenvolvimento capaz de unir preservação da floresta, valorização dos saberes tradicionais, geração de renda e liderança feminina. No Pará, a bioeconomia não é apenas política pública; é também ferramenta de emancipação e um caminho concreto para um futuro mais equilibrado entre economia, sociedade e natureza.