A Brasília de outubro respira clima internacional. Nos dias 13 e 14, a cidade abrigou a Pré-COP30, etapa decisiva para preparar as negociações climáticas que culminarão na Conferência das Partes (COP30), marcada para novembro em Belém. Desde a abertura, a mensagem é clara: não basta traçar metas – é hora de implementá-las de fato e reafirmar o multilateralismo climático.

Na cerimônia inaugural, participaram o presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin, o secretário-executivo da UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), Simon Stiell, além de representantes dos Círculos da Presidência da COP30 sob mediação do presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, e da diretora executiva da COP30, Ana Toni. O foco: acelerar a entrega dos compromissos climáticos assumidos pelos países, especialmente as novas versões das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).
Alckmin abriu com uma síntese dos três pilares definidos pela presidência brasileira da COP30: o fortalecimento do regime climático multilateral, a conexão dos compromissos com a realidade das pessoas e a aceleração da implementação do Acordo de Paris. Citou já estar em curso a NDC 3.0 brasileira, apresentada em Baku, que prevê redução das emissões líquidas entre 59 % e 67 % em relação a 2005 até 2035 — um corte que representaria entre 850 milhões e 1,5 bilhão de toneladas de CO₂ evitadas. Essa ambição evidencia que, para Brasília, combate climático e resiliência devem avançar juntas.
Simon Stiell destacou que, nas semanas que antecedem a COP30, será publicado um relatório que avalia o nível de ambição dos novos instrumentos nacionais climáticos, assim como documentos de transparência e planos de adaptação (NAPs). Ele fez um apelo às partes que ainda não apresentaram suas novas NDCs para que o façam o quanto antes, de modo que os delegados cheguem a Belém com panorama completo para deliberar.

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No discurso de Alckmin também emergiu uma narrativa de autodemo: o Brasil já ultrapassa 80 % de geração elétrica por fontes renováveis — nível superior ao de 69 países que ainda operam com 50 %. Isso foi usado para reforçar que a transição energética no Brasil não é só idealismo, mas caminho possível e rentável, que pode servir de exemplo regional.
Stiell, por sua vez, lembrou que investimentos em energia limpa já somaram mais de 2 trilhões de dólares globalmente no último ano. A capacidade adicional instalada quase que inteiramente provém de fontes renováveis, mas ele reforça que o desafio agora é distribuir equitativamente os benefícios dessa transição.
Para que a COP30 seja bem-sucedida, Stiell enfatizou que os resultados devem ser claros: mostrar que o multilateralismo ainda entrega, dando concretude aos discursos com metas mensuráveis. O Brasil, disse ele, precisa agir não como protagonista isolado, mas como parte de uma cooperação plural para garantir que nenhum país fique para trás.
Logo após a abertura, os Círculos da Presidência da COP30 fizeram seus balanços. No Círculo de Finanças, liderado pelo ministro Fernando Haddad, foram detalhadas três iniciativas estratégicas: o Fundo Florestas para Sempre (TFFF) — que propõe um novo modelo de financiamento baseado em investimentos, não apenas em doações —; a Coalizão Aberta para Integração dos Mercados de Carbono, visando interoperabilidade entre sistemas regulados; e a Supertaxonomia, que busca padronização e integridade entre taxonomias nacionais para orientar investimentos sustentáveis.
No Círculo dos Presidentes, Laurent Fabius (ex-presidente da COP21) enviou vídeo lembrando que não se trata de inventar metas novas, e sim implementar as já acordadas. Do Círculo dos Povos, a ministra Sônia Guajajara enfatizou que a COP30 terá a maior delegação indígena de sua história, destacando os territórios tradicionais como sumidouros de carbono e reivindicando que seus saberes sejam integrados às políticas climáticas. E no Círculo do Balanço Ético Global (BEG), representado pela ministra Marina Silva em nome do presidente Lula e de António Guterres, ponderou-se que a crise climática também é uma crise moral: o BEG deve trazer escuta planetária e diálogo sobre coerência entre decisão política e urgência de ação.
Essa Pré-COP deixou claro que Belém não poderá ser palco de discursos vazios. O Brasil chega à conferência com ambições audaciosas — e também sob expectativa internacional de mostrar que pode mover o tabuleiro dos compromissos climáticos para a arena das entregas. A transição energética, o financiamento climático e a justiça ambiental serão os eixos que definirão o sucesso desta jornada coletiva.










































