A pandemia de COVID-19 trouxe grandes desafios para a economia mundial, afetando a cadeia de suprimentos, o consumo, o emprego e o crescimento. No entanto, ao mesmo tempo, o comércio digital se mostrou resiliente e até mesmo crescente, demonstrando o potencial da tecnologia para mitigar os efeitos da crise e promover a recuperação.
O comércio digital engloba as atividades econômicas que envolvem fluxos de dados transfronteiriços, comércio eletrônico e streaming de vídeo, entre outras. De acordo com um relatório da McKinsey, os fluxos de dados entre países aumentaram a uma taxa anual de 45% entre 2010 e 2019, passando de cerca de 45 para 1.500 terabits por segundo. Em 2021, esses fluxos quase chegaram a 3.000 terabits por segundo.
Esses dados revelam como estamos cada vez mais interconectados, apesar dos obstáculos impostos pela pandemia, pelas guerras, pela inflação e pelo nacionalismo. Essa interconexão traz benefícios para os indivíduos, as empresas e os países, pois permite o acesso a informações, bens e serviços de forma rápida, conveniente e barata. Além disso, o comércio digital estimula a inovação, a produtividade e a competitividade, contribuindo para o desenvolvimento sustentável.
Um exemplo de inovação que pode ser impulsionada pelo comércio digital é a inteligência artificial (IA), que consiste na capacidade de máquinas e sistemas de realizar tarefas que normalmente requerem inteligência humana, como reconhecimento de voz, aprendizado, raciocínio e tomada de decisão. A IA tem aplicações em diversos setores, como saúde, educação, agricultura, transporte, segurança e entretenimento.
No entanto, para que a IA possa ser usada de forma ética, segura e responsável, é preciso estabelecer padrões e normas que regulem seu desenvolvimento e uso. Esses padrões devem ser baseados em princípios como privacidade, responsabilidade, equidade e transparência, e devem levar em conta os riscos potenciais, como viés sistêmico e fraudes.
Nesse sentido, é fundamental a cooperação internacional entre os atores públicos e privados envolvidos na IA, para que se possa compartilhar conhecimentos, experiências e boas práticas, e para que se possa harmonizar as regras e evitar a fragmentação digital. Um exemplo de iniciativa nessa direção foi a cúpula de IA realizada em novembro de 2023 pelo governo britânico, que reuniu cientistas da computação, autoridades governamentais e líderes de grandes empresas. Mais de duas dezenas de países assinaram a “declaração de Bletchley”, comprometendo-se a trabalhar juntos pela segurança da IA.
Essa cúpula, e outras semelhantes que já estão planejadas, mostraram a importância de manter o diálogo sobre as tecnologias de rápido desenvolvimento, como a IA. No entanto, ainda há muitos desafios a serem superados, como a falta de consenso sobre as definições e requisitos para as regras de IA, e a tendência ao nacionalismo e ao protecionismo, que limitam o livre fluxo de dados entre as fronteiras.
Essas barreiras podem prejudicar o funcionamento de ferramentas globais de monitoramento de fraudes, que funcionam melhor quando usam conjuntos de dados de vários países. Além disso, podem facilitar a ação de criminosos cibernéticos, que podem explorar a complexidade criada por padrões e sistemas de tecnologia e dados separados.
Portanto, é essencial que se busque uma maior integração e coordenação entre os países e as organizações que atuam no comércio digital, para que se possa aproveitar as oportunidades e enfrentar os desafios que essa área oferece. O comércio digital provou ser valioso durante a pandemia, e será ainda mais importante no futuro, à medida que a tecnologia se torna uma parte cada vez maior de nossas vidas.
Por isso, é crucial que se avance na direção da cooperação e da parceria, pois assim se podem obter melhorias tangíveis e permitir que mais pessoas e pequenas empresas possam acessar o potencial do comércio digital.