OMS diz que crise climática já ameaça hospitais e cobra ação urgente pelo Plano de Saúde de Belém na COP30


A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Governo do Brasil fizeram um alerta contundente nesta sexta-feira (14): a crise climática já desencadeou uma emergência global de saúde — e o mundo não tem mais tempo a perder. O aviso aparece no relatório especial sobre saúde e mudança climática, lançado durante a COP30, que acontece em Belém (PA).

toms9059 1

Segundo a OMS, mais de 540 mil pessoas morrem por ano devido ao calor extremo, e cerca de 1 em cada 12 hospitais do planeta corre risco de paralisação por impactos climáticos. A publicação reforça a necessidade de implementar, com rapidez, o Belém Health Action Plan, apresentado oficialmente no Health Day da COP30, em 13 de novembro.

“A crise climática é uma crise de saúde — não no futuro, mas agora”, alertou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.


Relatório mostra que sistemas de saúde já estão colapsando

Com as temperaturas globais acima de 1,5°C em relação ao período pré-industrial, os impactos sobre a saúde se intensificaram. O relatório aponta:

  • 3,3 a 3,6 bilhões de pessoas vivem em regiões altamente vulneráveis ao clima.

  • Hospitais enfrentam 41% mais risco de danos ligados a desastres naturais do que em 1990.

  • Sem descarbonização rápida, o número de unidades de saúde sob ameaça pode dobrar até 2050.

A OMS lembra ainda que o próprio setor de saúde é responsável por 5% das emissões globais e precisa de uma transição urgente para sistemas de baixo carbono.


Planos nacionais são insuficientes e ignoram desigualdades

O relatório identifica lacunas graves:

  • Apenas 54% dos planos nacionais de adaptação avaliam riscos às unidades de saúde.

  • Menos de 30% dos estudos consideram recortes de renda.

  • Apenas 20% incluem perspectiva de gênero.

  • Menos de 1% contempla pessoas com deficiência.

Para especialistas, isso compromete a capacidade dos países de proteger quem mais sofre com ondas de calor, secas, enchentes e doenças agravadas pelo clima.

“Investir em saúde é a decisão mais inteligente. Apenas 7% do financiamento global de adaptação já seria suficiente para proteger bilhões de pessoas”, defende Nick Watts, presidente do grupo consultivo que coordenou o relatório.


Belém reúne evidências e caminhos práticos para a adaptação

Entre os avanços recentes, a OMS destaca a expansão dos sistemas de alerta antecipado: entre 2015 e 2023, o número de países com mecanismos multirrisco dobrou, chegando a 101. Ainda assim, apenas:

  • 46% dos Países Menos Desenvolvidos contam com sistemas funcionais;

  • 39% dos Pequenos Estados Insulares possuem estrutura adequada.

O documento reforça que o mundo já tem dados, modelos e exemplos suficientes para agir de imediato.


Brasil lança relatório complementar focado em participação social

O Ministério da Saúde apresentou também o relatório “Participação social, clima e saúde”, que integra a implementação do Plano de Belém. O foco é garantir:

  • governança participativa;

  • inclusão de comunidades vulneráveis;

  • políticas que considerem desigualdades estruturais.

“A COP da Verdade expõe evidências claras: o clima já está pressionando sistemas de saúde. Precisamos agir agora”, afirmou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.


O que é o Belém Health Action Plan

O plano, um dos pilares da presidência brasileira da COP30, está estruturado em princípios de:

  • equidade em saúde,

  • justiça climática,

  • liderança com participação social.

E propõe três eixos de ação:

  1. Vigilância e monitoramento
    – Consolidar sistemas que integrem dados climáticos e epidemiológicos.

  2. Políticas e capacitação baseadas em evidências
    – Fortalecer a capacidade de resposta de estados e municípios.

  3. Inovação, produção e saúde digital
    – Estimular tecnologias e soluções adaptadas a populações diversas.


Países são chamados a integrar saúde ao centro da agenda climática

A OMS e o Brasil pedem que governos incorporem metas de saúde nos:

  • NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas);

  • Planos Nacionais de Adaptação;

  • investimentos em infraestrutura resiliente;

  • transição de baixo carbono com economia de recursos direcionada para a saúde.

Segundo a OMS, só com ações coordenadas — e com participação ativa de comunidades tradicionais, mulheres, jovens e populações marginalizadas — será possível proteger vidas em um planeta que aquece rapidamente.