O consumo de pescado no Pará é uma tradição cultural, sendo quase quatro vezes maior que a média brasileira. Enquanto a média nacional é de 2,8 kg por habitante, no Pará, esse número salta para 11,1 kg por habitante. Isso reflete na atividade pesqueira do estado, que se destaca tanto no mercado nacional quanto no internacional.
A Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa) lançou a nota técnica ‘Pesca paraense 2023’, que apresenta um panorama da conjuntura econômica da atividade pesqueira e aquícola do Pará. O estudo visa contribuir com as discussões atuais sobre o desenvolvimento dessa atividade produtiva no estado.
A pesquisa preenche uma lacuna de dados sobre a pesca, uma vez que os estudos sobre a produção pesqueira no país foram suspensos tanto pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) quanto pelo Ministério da Pesca. Os números nacionais e regionais sobre a pesca extrativa não eram divulgados desde 2011, o que dificulta a tomada de decisões de políticas públicas no setor.
Por isso, a nota técnica reúne dados de produção da atividade aquicultura, único componente do pescado paraense informado oficialmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além de outros indicadores associados à atividade pesqueira e aquícola, como população ocupada, investimentos, estabelecimentos e exportação.
O Brasil tem acompanhado o aumento da demanda por pescado. Em duas décadas, a produção cresceu a uma taxa média de 2,5% ao ano, passando de 0,8 milhão de toneladas em 2000 para 1,4 milhão de toneladas em 2021. Esse aumento está associado, em grande parte, ao expressivo crescimento da aquicultura, que quase quadruplicou no período.
No Pará, a aquicultura quase triplicou em dez anos. Em termos de produção, passou de 5,1 mil toneladas em 2013 para 14,2 mil toneladas em 2022. O ano de 2014 foi marcante para a atividade aquícola paraense, que apresentou um expressivo aumento na produção, elevando substancialmente a participação do estado na atividade pesqueira do país.
Dentre as várias espécies de peixes da região, o tambaqui é a principal espécie aquícola produzida no Pará. A produção desse pescado em 2022 chegou a 8.004 toneladas, o dobro da produção média nacional. O tambacu ou tambatinga (peixe híbrido entre tambaqui e pacu-caranha) ocupa a segunda colocação de maior cultivo no Pará, com produção de 3.493 toneladas, também bem acima da média nacional.
A tilápia ocupa a terceira maior produção do estado. Outros seis grupos de pescados de maior relevância no mercado paraense são, respectivamente: matrinxã; pirapitinga, piau/piapara/piauçu/piava, pintado/cachara/cachapira/pintachara/surubim, pirarucu, camarão e jatuarana/piabanha/piracanjuba.
Considerando todas as espécies de pescado, a produção brasileira na aquicultura foi de 739,4 mil toneladas em 2022, atingindo rendimento no valor de R$ 8 bilhões. Nesse mesmo ano, o estado do Pará produziu 14,2 mil toneladas do pescado cultivado, o que representou 1,9% da produção nacional e colocou o estado como o décimo quarto maior produtor do país.
Em relação ao ano de 2013, início da série histórica, a produção aquícola paraense apresentou um expressivo aumento de 179,1%, bem acima da média nacional, que ficou em 55,2%. Em termos de rendimento, o estado do Pará gerou R$ 185,4 milhões em 2022. Em relação ao ano de 2013, o valor da produção da aquicultura paraense aumentou 415,4%, um crescimento bem acima da média nacional de 181,5% e da maioria dos outros estados que cultivam o pescado.
Dentre os municípios paraenses que cultivam pescado, Paragominas se destaca como o maior produtor. Em 2022, a aquicultura do município produziu 3,1 mil toneladas, o equivalente a 22,4% da produção estadual. A aquicultura de Paragominas também é a que gera mais receita para o estado, com valor da produção de R$ 38,5 milhões em 2022, representando 20,8% do valor gerado na aquicultura estadual nesse ano.
O segundo e terceiro municípios com maior atividade aquícola foram Marabá (7,6%) e Tucuruí (5%). Vale ressaltar que os dez municípios com maior produção na aquicultura paraense representaram 61,7% da produção estadual e, em relação ao ano 2014, que marca o início dos registros, quase todos apresentaram aumento na produção.
Dentro dos levantamentos da nota técnica sobre o pescado paraense, o tambaqui ocupa a colocação de pescado de maior cultivo no Pará. Sozinha, essa espécie representa mais que metade da aquicultura paraense. Em 2022, o tambaqui contribuiu com 56,2% da produção estadual, seguido pelo tambacu (24,5%) e pela tilápia (5,9%). Juntas, essas três espécies representaram mais de 86% da produção estadual.
No comparativo nacional, o Pará foi o quarto maior produtor de tambaqui no Brasil em 2022, com participação de 3,6% do total produzido. Em relação ao ano do início da série histórica em 2013, todas as dez principais espécies produzidas no Pará apresentaram aumento na produção acima de 100%, com destaque para a produção das duas primeiras, tambaqui e tambacu, que ultrapassaram o volume de mil toneladas.
Em valores de produção, a aquicultura paraense gerou R$ 185,4 milhões em 2022, sendo que o tambaqui contribuiu com R$ 100 milhões, ou seja, mais da metade (53,9%) do valor que foi gerado no estado. O segundo e terceiro pescados com maior valor de produção foram o tambacu e a tilápia com as respectivas participações estaduais de 23,5% e 5,8%.
Em relação ao ano de 2013, o valor da pesca cultivada no Pará cresceu mais de cinco vezes, resultado que reflete o aumento do valor gerado das dez principais espécies de pescado cultivadas no estado, que foi acima de 300%, em especial o camarão e jaturana, que apresentaram resultados muito mais expressivos.
A nota aponta que o pescado fresco é a principal forma de consumo dos paraenses, em especial, o peixe fresco. Por habitante, o consumo anual desse tipo de pescado é de 2 kg, representando 17,6% do pescado consumido por pessoa no estado. Somando todos os tipos de pescado, a população paraense consome 11,1 kg de pescado por habitante. O consumo per capita anual de pescado no Brasil está bem abaixo da média paraense, com 2,8 kg de pescado consumidos por habitantes. Os números acima consideram o ano de 2018, dado mais recente da série histórica.
Nas exportações, o Pará atingiu marca recorde. Considerando a série histórica, desde 2009, o crescimento foi de 217%, possibilitando que o estado fechasse 2022 com arrecadação de US$ 82,02 milhões na exportação de pescado. O número reflete uma significativa tendência de crescimento do quantitativo exportado do setor pesqueiro nos últimos anos. Em 2022, por exemplo, houve o registro de cerca de 11,6 mil toneladas de pescado exportado, variando 138,2% em relação a 2014 e aproximando-se do patamar alcançado no ano de 2006, quando obteve o maior volume, de 11,7 mil toneladas. Entre 1997 e 2022, houve um incremento de 155,1% no volume de pescado exportado pelo setor produtivo paraense.