Parceria global mobiliza US$ 400 mi para cortar emissão de metano


Na conferência climática em Belém, representantes da cooperação internacional deram um passo decisivo para enfrentar um dos gases mais negligenciados no combate ao aquecimento global: o metano. A Global Methane Hub (GMH) e o Global Green Growth Institute (GGGI) anunciaram uma parceria ambiciosa chamada Catalyzing Green Growth: A Multi-Sector Strategy for Significantly Reducing Methane Emissions, com a meta de mobilizar mais de US$ 400 milhões para viabilizar projetos nos setores da agricultura, energia e resíduos.

Gerry Machen/Divulgação

O chão da iniciativa é simples, porém potente: o metano, apesar de ser menos comentado que o dióxido de carbono, exerce uma força aquecedora muito superior no curto prazo — e sua curta permanência na atmosfera torna possível frear parte do aquecimento com ganhos mais ágeis. A GMH aponta que, para conter o metano, é essencial agir em três elos-chave: agropecuária (responsável por cerca de 40% das emissões humanas segundo a própria GMH), energia (35%) e resíduos (20%).

A nova iniciativa busca transformar promessas em práticas, começando por apoiar países em desenvolvimento — cujo peso na equação global de emissões tende a crescer — a desenhar estratégias nacionais que conectem produção de alimentos, consumo de energia e descarte de resíduos a uma lógica de menor impacto climático. México, Nigéria e Senegal foram escolhidos como os primeiros “laboratórios” desse modelo, onde inovação tecnológica, inteligência artificial e instrumentos de financiamento verde serão testados para viabilizar a transição.

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COP30 – Divulgação

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Mais do que um anúncio simbólico, o protocolo coloca o enfrentamento do metano como ponto central da agenda climática: não apenas como mais uma meta num decreto, mas como motor de crescimento econômico limpo, de justiça climática e de fortalecimento de países vulneráveis. A GMH defende que adotar práticas mais limpas na agropecuária, na energia ou no manejo de resíduos não só reduz gases-estufa, como gera empregos, mobiliza investimentos e melhora a saúde das comunidades.

Essencial também é o posicionamento de que os instrumentos financeiros precisam deixar de olhar apenas para o carbono tradicional e incorporar o metano — tanto porque ele oferece uma “janela de oportunidade” para ganhos rápidos quanto porque muitas tecnologias de mitigação já existem ou podem ser adaptadas. A GGGI, que atua em mais de 50 países e desde longa data viabiliza programas de crescimento verde, se coloca como ponte entre os compromissos climáticos e a implementação concreta.

Ao mesmo tempo, a escolha de países em desenvolvimento como foco inicial reforça um princípio fundamental: a transição verde não será apenas uma correção ambiental, mas uma oportunidade de transformação estrutural, onde redução de emissões anda de mãos dadas com inclusão social, inovação tecnológica e resiliência econômica. A iniciativa assume que o metano — um gás que muitas vezes surge como subproduto de atividades como pecuária, extração de combustíveis ou gestão de resíduos — pode se tornar um “ganho rápido” no cenário climático se receber a atenção devida.

Por fim, o anúncio na COP30 envia uma mensagem clara: mitigar metano é uma das estratégias mais eficazes para frear o aquecimento em curso. Se o compromisso for traduzido em ações reais — nas fazendas, nas usinas de energia, nos aterros sanitários —, o impacto poderá ir além da redução de um gás: poderá impulsionar um novo ciclo de crescimento que une economia, clima e justiça social.