Parque de Bioeconomia no Pará transforma floresta em inovação


Na orla histórica de Belém, à beira da Baía do Guajará, ergue-se um novo símbolo de inovação para o Norte do Brasil. O Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia, concebido e entregue pelo Governo do Estado do Pará, emerge como o primeiro de seu tipo no mundo para explorar o potencial da floresta viva como fonte de conhecimento, renda e transformação social. Instalado nos Armazéns 5 e 6 do Complexo Porto Futuro, o empreendimento reúne ciência de ponta, tecnologia e saberes tradicionais em uma estrutura que conecta comunidades da floresta, startups, pesquisadores e investidores.

Foto: Bruno Cecim / Ag. Pará

No Armazém 5 está o Centro de Negócios, que abriga o Centro de Sociobioeconomia e o Centro de Gastronomia Social: coworkings, incubadoras e aceleradoras se misturam a espaços de evento, showrooms e um balcão único que liga empreendedores a soluções tecnológicas e produtivas. No Armazém 6, o Laboratório-Fábrica integra o Centro de Inovação, dotado de planta-piloto para produção experimental de alimentos, cosméticos e químicos finos derivados de insumos amazônicos — um lugar onde o saber ancestral dá lugar à aplicação contemporânea.

“O parque representa um compromisso com o futuro e com o bem-viver da população amazônica”, afirma a secretária adjunta da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade do Pará (Semas), Camille Bemerguy. A ideia central é clara: transformar a floresta que antes era vista apenas como “paisagem” em solução. A floresta viva passa a ser infraestrutura de inovação e de geração de valor, sem ser destruída no processo.

Para agricultores, empreendedores de comunidades tradicionais e startups locais, o parque abre novas portas. Esse é o caso de Leonardo Modesto, chefe de cozinha e membro da startup “Maniua”, que viaja entre o uso de tecnologia de ponta e os conhecimentos de sua comunidade. “No Parque de Bioeconomia a gente consegue fundir os dois e levar para o mundo”, comenta. Para ele, trata-se de “um salto não só de bioeconomia, mas na sustentabilidade da comunidade”.

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Foto: Bruno Cecim / Ag. Pará

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O momento não poderia ser mais oportuno. Com a realização da COP30 em Belém às portas, o parque reforça o papel estratégico do Pará no cenário global de desenvolvimento sustentável. Segundo a governança estadual, o complexo com seus seis mil metros quadrados posiciona o Estado como epicentro da bioeconomia nas Américas e como protagonista de uma nova economia amazônica que alia conservação, inovação e inclusão.

Mas o projeto vai além da beleza institucional e dos discursos: os números indicam avanço concreto. Em 2019, eram citados 80 negócios de bioeconomia no Estado; em 2025, já se destacavam cerca de 300 negócios ativos segundo um dos relatórios. Esse crescimento revela que a transição proposta — de extração sem valor agregado para economia baseada na sociobiodiversidade — começa a se consolidar.

Há ainda um aspecto de justiça social que permeia o projeto: comunidades tradicionais, povos da floresta e saberes ancestrais foram integrados desde a concepção. Como afirmou a empreendedora Juliana Monteiro, da empresa “Jucarepa”, o parque “possibilita que empresas que trabalham com os insumos da sociobiodiversidade amazônica possam agregar mais valor à produção”. O acesso a maquinários de alta tecnologia dentro do Estado é, para ela, “uma mudança de paradigma para os negócios locais e para a própria Amazônia”.

Mas o significado vai além de produção ou economia local. Trata-se de pensar a floresta como um ativo estratégico de uma economia amazônica que tem enfoque de baixo carbono, inclusão e preservação — uma alternativa ao modelo tradicional de degradação e exportação de matéria-prima. No escopo do plano estadual de bioeconomia (PlanBio), coordenado pela Semas, o parque representa uma peça da engrenagem que visa integrar pesquisa, desenvolvimento, inovação, valorização de saberes e acesso a mercados.

Em suma, o Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia abre a porta para ver a floresta viva não apenas como cenário ou reserva ambiental, mas como fonte de renda, conhecimento e protagonismo. Ele convida a imaginar uma Amazônia que transforma sua biodiversidade em valor, que integra povos tradicionais na cadeia de inovação, que faz da ciência e da tecnologia aliadas da floresta e não inimigas dela. É um salto rumo a um novo capítulo para a economia amazônica — uma economia em pé, vibrante, justa e inventiva.