1,1 Bilhão de Pessoas Vivem na Pobreza, Metade em Países em Guerra


O relatório divulgado em 17 de outubro de 2024, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em parceria com a Universidade de Oxford, trouxe à tona uma realidade alarmante: 1,1 bilhão de pessoas vivem na pobreza, das quais 455 milhões residem em países afetados por guerras ou em situações de paz frágil. Este levantamento coincide com o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, e expõe com detalhes os desafios para mitigar a pobreza global, especialmente em regiões marcadas por conflitos e instabilidade política.

A pobreza continua a ser uma realidade pungente para milhões de pessoas ao redor do mundo, mas ela é particularmente concentrada em certas regiões e entre grupos vulneráveis, como as crianças e os moradores de áreas rurais. Ao analisar os dados mais recentes e refletir sobre as causas e implicações, fica claro que o combate à pobreza está intrinsecamente ligado à resolução de conflitos, à melhoria da infraestrutura básica e ao fortalecimento de políticas de desenvolvimento sustentável.

Dimensão Global da Pobreza

O estudo do PNUD define a pobreza de maneira multidimensional, indo além da simples falta de renda. Considera fatores como saúde, educação, condições de trabalho e padrão de vida. Dos 1,1 bilhão de pobres registrados, mais da metade (584 milhões) são crianças, o que demonstra que a pobreza não é apenas uma questão econômica, mas também uma crise humanitária e de desenvolvimento.

Além disso, os dados mostram que as zonas rurais são desproporcionalmente mais afetadas do que as urbanas. Cerca de 28% da população rural vive em situação de pobreza, em comparação com 6,6% nas áreas urbanas. Essa diferença reflete a falta de acesso a serviços básicos como eletricidade, água potável e educação de qualidade nas zonas rurais.

Concentração da Pobreza na África Subsaariana e no Sul da Ásia

A maior parte dos pobres do mundo vive em regiões específicas. A África Subsaariana, com 553 milhões de pessoas vivendo na pobreza, e o sul da Ásia, com 402 milhões, concentram a maior parte dos indivíduos que vivem em condições de extrema privação. Essas regiões são conhecidas por suas longas histórias de conflitos, má governança e economias dependentes de setores primários vulneráveis às mudanças climáticas e crises econômicas globais.

Na África Subsaariana, países como Níger, Chade, República Centro-Africana, Burundi, Madagáscar e Mali lideram os índices de pobreza. As condições de vida nessas nações são agravadas por conflitos prolongados, deslocamentos forçados e degradação ambiental, tornando os esforços de desenvolvimento e de redução da pobreza especialmente desafiadores.

O Sahel, uma sub-região crítica da África, exemplifica esse cenário, enfrentando desertificação acelerada, violência de grupos extremistas e deslocamentos em massa. Além disso, a crise climática tem exacerbado a pobreza ao reduzir a produtividade agrícola e aumentar a insegurança alimentar, fatores que são particularmente devastadores em economias agrícolas de subsistência.

A Pobreza em Países em Conflito

Um dos pontos mais preocupantes do relatório é a constatação de que a pobreza é consideravelmente maior em países em conflito ou em paz frágil. Nos países afetados pela guerra, 34,8% da população vive na pobreza, enquanto nos países não afetados por conflitos, esse índice cai para 10,9%. Ou seja, a prevalência da pobreza em contextos de conflito é mais de três vezes maior.

Essa situação reflete o impacto devastador dos conflitos armados sobre as economias, os sistemas de saúde e a infraestrutura. A guerra destrói a capacidade de produção agrícola, interrompe cadeias de suprimentos e cria vastas populações deslocadas que dependem de ajuda humanitária. Em muitos desses países, as instituições governamentais são fracas ou inexistentes, o que agrava a crise e torna os esforços de combate à pobreza praticamente impossíveis.

Entre os 455 milhões de pobres que vivem em países em guerra, 218 milhões estão em nações que atualmente enfrentam conflitos armados ativos. Isso inclui países como Síria, Iêmen, Sudão e República Democrática do Congo. Nesses locais, além da pobreza extrema, a população enfrenta deslocamentos em massa, insegurança alimentar crônica e uma constante ameaça de violência.

Achim Steiner, diretor do PNUD, ressaltou a urgência da situação ao afirmar: “Os conflitos intensificaram-se e multiplicaram-se nos últimos anos, deslocando milhões de pessoas e causando perturbações generalizadas na vida e nos meios de subsistência.” Ele destacou ainda que quase 500 milhões de pessoas vivendo em pobreza multidimensional estão em países expostos a conflitos violentos, exigindo que a comunidade internacional intensifique seus esforços para fornecer recursos e intervenções especializadas que ajudem a romper o ciclo da pobreza e da violência.

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Consequências Sociais da Pobreza

A pobreza multidimensional afeta diretamente a qualidade de vida das populações mais vulneráveis. Segundo o relatório, metade das pessoas em situação de pobreza global não têm acesso à eletricidade, o que corresponde a 579 milhões de pessoas. Isso afeta diretamente a capacidade de acesso à educação, à comunicação e à produção econômica, particularmente em áreas rurais.

Além disso, 482 milhões de pessoas vivem em famílias onde uma ou mais crianças tiveram de abandonar a escola, perpetuando o ciclo de pobreza entre gerações. Sem acesso à educação, essas crianças enfrentam uma vida com poucas oportunidades de emprego digno e de mobilidade social.

A Relação entre Pobreza e Desenvolvimento Humano

A erradicação da pobreza é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, mas os números do relatório mostram que ainda há um longo caminho a percorrer. A pobreza está profundamente ligada a outros aspectos do desenvolvimento humano, como a saúde, a educação e o acesso a recursos. Sem uma abordagem holística que aborde essas questões simultaneamente, será difícil reduzir significativamente os níveis de pobreza.

A comunidade internacional, por meio de organizações como o PNUD, tem um papel crucial a desempenhar na oferta de assistência técnica e financeira para os países mais pobres. No entanto, é fundamental que essas intervenções sejam feitas de maneira sustentável e que envolvam as comunidades locais no processo de desenvolvimento. Programas que se concentram em fornecer apenas ajuda humanitária, sem construir as bases para o desenvolvimento econômico e social a longo prazo, tendem a falhar.

O Desafio das Crises Sobrepostas: Conflito e Mudança Climática

Além dos conflitos, outro fator que agrava a pobreza global é a mudança climática. Países da África Subsaariana e do sul da Ásia estão entre os mais vulneráveis aos impactos das alterações climáticas, como secas prolongadas, inundações e tempestades severas. Esses eventos climáticos extremos afetam negativamente a produção agrícola, que é a principal fonte de renda para muitas famílias pobres.

No entanto, os pobres são os menos responsáveis pelas emissões globais de carbono que impulsionam a mudança climática, criando uma injustiça climática que agrava ainda mais sua


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