Planilha ajuda produtor a calcular custos e valor da madeira


O produtor rural brasileiro enfrenta, ao mesmo tempo, o desafio de manter a viabilidade econômica da sua atividade e a necessidade crescente de adotar práticas sustentáveis. Nesse contexto, o uso inteligente da madeira ganha destaque. Além de ser matéria-prima essencial para cercas, construções e manejo diário da propriedade, ela também carrega um papel estratégico na mitigação das mudanças climáticas. Uma nova ferramenta digital, desenvolvida pela Embrapa Pecuária Sul em parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), busca apoiar justamente esse equilíbrio entre eficiência produtiva e responsabilidade ambiental. Trata-se de uma planilha que permite calcular de forma prática o custo de produção e o tratamento da madeira, ao mesmo tempo em que ajuda a estimar o potencial de sequestro de carbono em sistemas rurais.

Foto: Claudio Melo

A inovação surgiu a partir de experiências de campo realizadas no Rio Grande do Sul, em 2019, quando capacitações sobre tratamento de madeira apontaram a necessidade de um instrumento simples para apoiar a tomada de decisão dos produtores. Desde então, o recurso foi aprimorado para atender diferentes realidades regionais do país.

Como funciona a ferramenta

A planilha permite calcular o volume de madeira disponível para tratamento, dimensionar a quantidade de insumos necessários e, a partir disso, obter o custo por peça tratada. Caso o produtor possua um plantio florestal na propriedade, é possível ainda incluir o custo de produção da madeira e somá-lo ao tratamento, obtendo uma visão completa dos gastos envolvidos.

O tratamento mais recomendado é o de substituição de seiva, considerado de fácil aplicação e acessível para propriedades de pequeno e médio porte. O processo consiste em substituir a seiva natural da madeira por uma solução preservativa, composta por água e produtos hidrossolúveis. A planilha elimina a necessidade de cálculos complexos, pois, com alguns dados básicos inseridos, fornece automaticamente a quantidade exata de insumo a ser utilizada.

De acordo com os pesquisadores, o impacto é significativo: uma cerca de eucalipto não tratado dura, em média, apenas dois a três anos em contato com o solo. Já a mesma estrutura, quando tratada, pode permanecer firme por 15 anos ou mais. O ganho em durabilidade reduz a necessidade de substituições frequentes e evita custos adicionais com compra de madeira e transporte.

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Nova tecnologia de planilhas transformará plantação de eucalipto em aliado do meio ambiente.

A transição do uso de espécies nativas ao eucalipto

Décadas atrás, propriedades rurais se abasteciam de madeiras nativas de alta durabilidade, como angico vermelho e guajuvira, disponíveis no próprio território. Eram peças naturalmente resistentes a fungos e insetos, ideais para suportar intempéries. A escassez dessas espécies obrigou uma transição para o uso do eucalipto, proveniente de plantios mais jovens e, portanto, mais vulnerável à degradação. Essa mudança reforçou a necessidade do tratamento químico, não apenas para prolongar a vida útil do material, mas também para preservar recursos naturais, evitando o corte de espécies nativas de crescimento lento.

Além do valor econômico, a madeira cultivada em propriedades rurais desempenha funções ambientais que beneficiam tanto o produtor quanto a sociedade. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimou que, em 2023, os produtos florestais movimentaram R$ 37,9 bilhões no país, incluindo itens madeireiros (como lenha, carvão e cavacos) e não madeireiros (frutos, óleos, sementes, resinas).

As árvores, entretanto, oferecem muito mais que produtos comercializáveis. Elas estabilizam encostas, protegem nascentes e atuam como barreiras naturais contra o vento, promovendo bem-estar animal e aumentando a produtividade dos rebanhos. Outro serviço de valor crescente é a captura de carbono: durante o crescimento, as árvores retiram CO2 da atmosfera e o armazenam na biomassa, funcionando como agentes de mitigação das emissões da agropecuária. Em sistemas integrados, como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), os estudos indicam que a presença de árvores eleva a capacidade de suporte animal da área, neutralizando emissões de metano e gerando ganhos acima das médias regionais.

Uma tecnologia simples com impacto duradouro

A planilha não é apenas um recurso contábil, mas um instrumento de gestão estratégica. Ao facilitar o cálculo de custos e dimensionar o impacto ambiental positivo da produção de madeira, ela estimula o produtor a enxergar o recurso florestal como parte de um sistema produtivo completo, que une economia, sustentabilidade e planejamento de longo prazo.

Com o avanço das demandas ambientais e a necessidade de reduzir despesas operacionais, ferramentas como essa se tornam indispensáveis para pequenos e médios produtores. A simplicidade de uso e o potencial de adaptação para diferentes realidades regionais tornam a tecnologia uma aliada na construção de propriedades rurais mais eficientes e resilientes.

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