Jovens, cientistas e arquitetos lideram lista do Prêmio Campeões da Terra


Prêmio que ilumina caminhos contra a crise climática

O mundo entra em uma década decisiva para conter o avanço da crise climática, e a busca por soluções se tornou tão urgente quanto complexa. Nesse cenário, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) anunciou os vencedores do Prêmio Campeões da Terra 2025, a mais alta honraria ambiental concedida pelas Nações Unidas. São cinco iniciativas — individuais e coletivas — que refletem diferentes frentes de luta: justiça climática, conservação florestal, redução de metano, arquitetura sustentável e resfriamento inteligente.

Foto: Diego Rotmistrovsky/UNEP

A cerimônia de anúncio ocorreu durante a sétima sessão da Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA), reforçando o simbolismo de premiar quem transforma de forma concreta as respostas globais à crise climática. Para a diretora-executiva do PNUMA, Inger Andersen, a lista deste ano representa “o tipo de liderança que inspira o mundo a enfrentar o maior desafio ambiental do nosso tempo”.

Criado em 2005, o prêmio já reconheceu 127 líderes e chega ao seu vigésimo ano revelando protagonistas que atuam em áreas críticas — da proteção das florestas à inovação social e tecnológica capaz de salvar vidas e fortalecer comunidades vulneráveis.

Da justiça climática ao resfriamento sustentável: quem são os vencedores

Os premiados de 2025 compõem um retrato diverso e inspirador da ação climática contemporânea.

O coletivo Estudantes das Ilhas do Pacífico Lutando contra a Mudança Climática, vencedor na categoria Liderança Política, é uma organização juvenil que conquistou um feito histórico ao obter da Corte Internacional de Justiça um parecer reconhecendo as obrigações legais dos Estados de prevenir danos climáticos e proteger direitos humanos. A vitória jurídica, construída em meio a mobilizações comunitárias, ecoa em dezenas de países vulneráveis ao aumento do nível do mar.

Na categoria Inspiração e Ação, Supriya Sahu, do Governo de Tamil Nadu, lidera programas de resfriamento sustentável e restauração de ecossistemas que já geraram 2,5 milhões de empregos verdes e beneficiam diretamente 12 milhões de pessoas na Índia. Sua estratégia combina infraestrutura adaptada ao calor extremo, plantio massivo de árvores e ações de proteção florestal, tornando-se referência internacional em resiliência climática.

A arquiteta nigerina-suissa Mariam Issoufou, vencedora na categoria Visão Empreendedora, redefine o design ambiental ao integrar refrigeração passiva, patrimônio cultural e materiais locais. Seu projeto Hikma Community Complex no Níger tornou-se um modelo para o Sahel e inspira soluções habitacionais adaptadas ao aumento das temperaturas na África e além dela.

O instituto brasileiro Imazon, ganhador na categoria Ciência e Inovação, usa tecnologias geoespaciais e inteligência artificial para monitorar e combater o desmatamento na Amazônia. Suas análises apoiam processos judiciais, revelam a escala da devastação e fortalecem políticas de conservação.

O prêmio póstumo de Carreira homenageia Manfredi Caltagirone, que liderou o Observatório Internacional de Emissões de Metano do PNUMA e foi um dos principais defensores da transparência e da ação científica contra esse gás, cuja redução imediata pode resfriar o planeta em poucos anos.

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Foto: ONU Meio Ambiente

SAIBA MAIS: 

Por que esses líderes importam no cenário atual

Num momento em que o aquecimento global caminha para ultrapassar 1,5°C já na próxima década, as promessas feitas no âmbito do Acordo de Paris permanecem insuficientes. O PNUMA estima que os custos de adaptação para países em desenvolvimento podem chegar a 365 bilhões de dólares por ano até 2035.

Em contraste com esse cenário de urgência e escassez, os Campeões da Terra surgem como exemplos concretos de ação transformadora. Reduzir metano, como lembrou Andersen, pode gerar benefícios imediatos para o clima e para a saúde. Restaurar florestas protege mananciais, previne desastres naturais e preserva biodiversidade. Edifícios resilientes e estratégias de resfriamento sustentável salvam vidas em ondas de calor, cada vez mais intensas. E a justiça climática garante que povos vulneráveis — muitas vezes os que menos contribuíram para o problema — tenham voz e respaldo legal.

Para o pesquisador Carlos Souza Jr., do Imazon, o avanço tecnológico é decisivo: “Dados socioambientais de credibilidade são essenciais para a agenda de financiamento climático”. Ele lembra que a combinação de ciência geoespacial e inteligência artificial torna o combate ao desmatamento mais preciso e ágil, impactando diretamente o cotidiano das comunidades amazônicas.

Inovação, coragem e um futuro ainda possível

A edição de 2025 do prêmio sublinha que a ação climática não é apenas responsabilidade de governos nacionais. Jovens, pesquisadores, arquitetos, cientistas e gestores públicos de diferentes escalas podem produzir mudanças profundas e replicáveis.

Os vencedores deste ano mostram que a transição para um futuro habitável depende tanto de novas tecnologias quanto de coragem política, sensibilidade cultural e mobilização coletiva. Cada um, à sua maneira, oferece uma resposta à pergunta que define nosso tempo: como conter uma crise que já transforma o planeta?

O PNUMA, ao reconhecer esses líderes, reforça que soluções existem — e que o mundo precisa urgentemente adotá-las em escala.